Fabião Mabunda assumiu, esta terça-feira, ter recebido dinheiro da Privinvest. Na Cadeia de Máxima Segurança da Machava, onde decorrem as sessões de julgamento do “caso dívidas ocultas”, o réu defendeu que não compreende por que devolveria o dinheiro recebido daquela empresa aos moçambicanos.
A sessão desta terça-feira, referente ao julgamento do “caso dívidas ocultas”, no Tribunal montado na Cadeia de Máxima Segurança da Machava, na Província de Maputo, arrancou com o interrogatório da Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM) a Fabião Mabunda.
Entre o esquecimento e recusa do réu a responder a questões segunda-feira consignadas em acta, Fabião Mabunda não hesitou ao afirmar que não vê necessidade de devolver 0,4% dos 387 milhões de meticais que recebeu ao Estado. “Eu recebi o dinheiro e devolvi a Privinvest”. E Fabião Mabunda clarificou: “Ganhei 0,4% do dinheiro que recebi e não vejo por que devolver esse dinheiro ao povo moçambicano”. Depois de breve minutos, sublinhou: “Eu recebi dinheiro da Privinvest. Só. Se é do povo moçambicano, isso eu não sei.
Momentos antes, o juiz Efigénio Baptista perguntou a Fabião Mabunda por que recebeu dinheiro em meticais para, depois de converter em dólar, devolver à empresa Privinvest. O juiz quis saber o que a empresa de Mabunda ganhou com essa operação. Entretanto, o réu recusou-se a responder, defendendo que a resposta estava consignada em acta elaborada no dia anterior.
O réu Fabião Mabunda disse ao Tribunal, esta terça-feira, que à data dos factos não conhecia Gregório Leão. Passou a conhecê-lo na Cadeia do Língamo, na Província de Maputo. Mais tarde, no momento da redacção da acta, corrigiu, dizendo que conheceu Gregório Leão na Cadeia de Máxima Segurança da Machava, antes de ser transferido para a Cadeia do Língamo. Também na Cadeia de Máxima Segurança da Machava, Fabião Mabunda conheceu outros réus, nomeadamente, Armando Ndambi Guebuza e Teófilo Nhangumele. Quanto a Cipriano Mutota disse que o conheceu no primeiro dia do julgamento, que foi reservado à apresentação da acusação pelo Ministério Público. Isto equivale a dizer que conheceu os réus acima mencionados na Cadeia de Máxima Segurança da Machava, no entanto, em dias e em circunstância diferentes, relativamente a Mutota.
Às questões colocadas pelos advogados de defesa, Fabião Mabunda respondeu que no passado ficava com o dinheiro cedido pela ré Ângela Leão porque cabia a ele efectuar os pagamentos das diversas obras de construção feitas pela sua empresa. Segundo assumiu, com isso a sua empresa ganhava a possibilidade de executar as obras e a disponibilidade financeira.
Perguntado se teria comentado com Ângela Leão a recepção de dinheiro da empresa Privinvest, Fabião Mabunda disse que isso nunca aconteceu.
A audição ao réu Fabião Mabunda iniciou, na manhã desta segunda-feira, com o interrogatório do Ministério Público. No mesmo dia, a sessão do julgamento prolongou-se até quase meia-noite. Já esta terça-feira, entre às 9 e às 16 horas, Fabião Mabunda respondeu às questões colocadas pela Ordem dos Advogados de Moçambique e pela Defesa. Consignadas as respostas em acta, o Tribunal reservou alguns minutos da tarde para discutir sobre a audição de Ângela Leão. Partindo da experiência da véspera, em que a sessão se prolongou até altas horas, a os advogados de defesa propuseram que o interrogatório a ré fosse adiada para quinta-feira de manhã, de modo que a evitar-se o constrangimento do horário enfrentado na segunda-feira.
A Ordem dos Advogados de Moçambique posicionou-se contra os advogados de defesa, defendendo que a audição a ré Ângela Leão devesse acontecer ainda esta terça-feira. Como que para desempatar, a Procuradora Ana Sheila Marrengula interveio para dizer que o Ministério Público, embora estivesse pronto para proceder ao interrogatório da ré, conforme a decisão do juiz, não gostaria que a sessão de perguntas e respostas fosse interrompida e retomada quinta-feira. Ou seja, o Ministério Público defendia um interrogatório continuado, sem um dia de folga (quarta-feira) a separar os momentos de audição.
Depois de reforçar que as sessões do julgamento não têm hora para terminar, o juiz Efigénio Baptista decidiu interromper a sessão desta terça-feira, na Cadeia de Máxima Segurança da Machava.
Assim terminou a audição ao réu Fabião Mabunda, acusado de quatro crimes, designadamente, falsificação de documentos, abuso de confiança, associação para delinquir e branqueamento de capitais.