O País – A verdade como notícia

“Queremos ligar o aspecto turístico ao industrial para potenciar Inhambane”

No turismo, as grandes queixas que se ouvem têm a ver com sectores que estão além do governo provincial. Por exemplo, há queixas relativas ao comportamento da polícia de trânsito em relação à colecta de receitas para o tesouro (apesar de Inhambane representar cerca de 60% da actividade turística nacional). Como é que estes aspectos serão discutidos, na conferência, de modo a que se produza um plano de acção claro para resolver estas situações?

O objectivo fundamental da conferência é trazer várias sensibilidades, vários sectores públicos e privados que directa ou indirectamente trabalham para o turismo e possam contribuir com ideias. Recentemente, estivemos em Joanesburgo, África do Sul, e um dos aspectos levantados foram as paragens que os turistas sul-africanos têm tido, depois de atravessar a fronteira de Ressano Garcia até chegar a Inhambane. Em relação à polícia, desde finais de 2016, tivemos muitos elogios dos turistas sul-africanos e de outras partes do mundo, porque, antes do início da quadra festiva, recomendamos à nossa polícia a que fosse mais educativa do que punitiva e que, em caso de excesso de velocidade, por exemplo, apelasse à redução da velocidade. Refiro-me a turistas nacionais e estrangeiros. Agora, estamos a trabalhar para que este comportamento seja permanente. Em relação às receitas, sentimos que a maioria das pessoas que fazem reservas para vir às nossas estâncias turísticas o fazem fora do país. Mas estamos a trabalhar com a Autoridade Tributária no sentido de criar uma equipa multissectorial que possa captar as entradas de turistas e fazer a comparação entre aquilo que as estâncias turísticas declaram como receitas durante o ano e o número de turistas que receberam e, através das fronteiras (terrestres, aéreas e marítimas), podemos captar quantos turistas entraram no país. Este processo já está em curso.

Outro aspecto que os operadores turísticos levantam em Inhambane é que maior parte dos turistas vem com os seus alimentos, vestuário, entre outros bens, o que não permite criar valor na economia local. É problema do turista ou da zona, que não é capaz de fornecer produtos com qualidade para o segmento de turistas, por exemplo, vindos dos Estados Unidos, Europa, África do Sul?

O problema é de todos os lados. Com a África do Sul, existem acordos que devem respeitar esses aspectos. A SADC está em fase de integração e, por causa desse aspecto, há livre circulação de pessoas e bens. Mas também, a nível local, precisamos de aumentar a capacidade de oferta de bens em quantidade e qualidade. Por esta razão, em Inhambane, começámos a construção de supermercados. Terminámos um em Massinga, iniciaremos mais um em Vilankulo, um em Maxixe e outros dois em Inhambane e Inharrime. O objectivo é criar uma cadeia de valor, fazer com que os produtores dos distritos coloquem e vendam aos supermercados e estes adicionem qualidade aos produtos. Isto permitirá, no futuro, ter capacidade de resposta.

Relativamente às infra-estruturas, os últimos governadores da província, incluindo o actual (Daniel Chapo), colocam a estrada Mapinhane-Pafuri (500 km) como um projecto crucial para o turismo, tomando em consideração que a via sirva, também, a província de Gaza e África do Sul. Como é que pensa impulsionar a construção desta estrada?

O objectivo é dar seguimento ao excelente trabalho que vem sendo desenvolvido pelos governadores que passaram pela província de Inhambane. Ano passado, estivemos na China e um dos projectos que levávamos na carteira é esta estrada. Agora, estivemos na África do Sul para vermos como é que podemos desenvolver este projecto conjunto (chega à África do Sul). Felizmente, estamos em perfeita sintonia com a África do Sul. Portanto, existem muitos grupos interessados (China, África do Sul).

Além de ser um sonho, um projecto, esta estrada é viável? E quais seriam os elementos da sua viabilidade?

São vários. Primeiro, uma das maiores zonas de turismo de praia da região da África Austral é Inhambane. Principalmente Bazaruto, Inhassoro, Vilankulo. São zonas de referência. E quando estivemos na África do Sul, a maioria dos empresários defendia que seria bom que houvesse pacote único, para que turistas viessem ao turismo do interior e, depois, tivessem opção para o turismo de praia, e o mais próximo da região está em Inhambane. Então, para catapultar o turismo, além de criação de infra-estruturas de acesso aos locais, ordenamento das zonas turísticas, electricidade, água, etc., é preciso um corredor que faça uma ligação terrestre rápida. O segundo ponto é que um dos maiores projectos de exploração de gás, em curso há mais de 15 anos, está a ter lugar na província de Inhambane e já vai passar para a segunda fase, que é a de liquefacção do gás, além da descoberta do petróleo leve. E é nossa intenção que naquela região nasça uma zona industrial. Então, dá para agregar uma cidade através desta estrada e ligar o aspecto turístico e industrial. Para que a estrada seja viável, tem que haver alinhamento entre os países da região e isso está a verificar-se.

Como disse, este pensamento enquadra-se dentro de um plano estratégico 2011-2020 da província de Inhambane. E isto acontece num contexto em que, no país, temos várias situações de descontinuidade dos governadores, directores, em que chegam, encontram projectos e fazem novos. Não foi o seu caso?

Não foi o nosso caso. Estamos a dar continuidade à execução desse plano. Decorrida metade do tempo de duração, estamos a fazer a avaliação do meio-termo. Contratámos uma equipa de consultores que vai dizer-nos como é que estamos a andar em relação ao plano estratégico, e isso será apresentado na conferência de investimentos. E o objectivo desta conferência é acelerar a execução do plano estratégico, para que, até ao fim, se alcance o objectivo e se desenhe outro plano.

Quais são outros grandes projectos de infra-estruturas que serão “vendidos” na conferência?

Alguns dos maiores projectos são a construção da ponte Inhambane-Maxixe, a estrada Lindela-Inhambane (tem muitas curvas e contracurvas e deve ser alargada), estrada cidade de Inhambane-Praia de Tofo, entre outras. Já está em curso o reforço da quantidade e qualidade de energia eléctrica, com a construção de uma subestação em Lindela. Está também projectada a construção de uma central a gás, em Temane, de cerca de 400 megawatts, e uma linha Temane-Maputo. Estes projectos dependem, também, do aval do Governo.

Há a realidade de que Inhambane é uma das províncias mais pobres do país, com quase metade da sua população que ainda anda, no mínimo, dois quilómetros para obter água. Quais são os grandes desafios para resolver os problemas de alimentação, saúde, educação, da pobreza de um modo geral.

Em relação à saúde, já arrancámos com a construção do hospital provincial na cidade da Maxixe, que já vinha sendo debatido e estava projectado para a cidade de Inhambane. mas decidiu-se por Maxixe, porque o outro não tem andado cheio, e projectamos a construção de vários outros centros de saúde. Em relação à água, inaugurámos recentemente o sistema de abastecimento de Jangamo, terminámos recentemente em Inharrime, estão em curso as construções dos sistemas de Morrumbene e Homoíne, que serão inaugurados em Julho ou Agosto. O grande desafio continua a ser nas zonas rurais. Em relação à educação, este ano, vamos construir 84 salas de aula, em toda a província. Nas zonas rurais, fizemos com que todos os distritos escolhessem uma localidade onde pudéssemos colocar a educação mais próxima das populações.

Governo de Inhambane realiza hoje e amanhã conferência para atrair investimentos

A conferência de investimentos que tem lugar, hoje e amanhã, em Inhambane será aberta oficialmente pelo primeiro-ministro. Carlos Agostinho do Rosário chegou à província na tarde de ontem e falou das linhas de força do evento que vai juntar empresários nacionais e estrangeiros. “Amanhã, vai acontecer a conferência da província para atrair investimentos às áreas com maior potencial, mas também investimentos na área de infra-estruturas, turismo, pescas. Queremos que a província avance, à semelhança dos avanços do país”, disse o primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário.

Um dos principais objectivos do evento é atrair investimentos para o sector de estradas, de modo a facilitar o escoamento da produção agrícola do campo para a cidade de Inhambane.

“Sabemos que a província produziu muito este ano, na agricultura vai duplicar (a produção). Queremos verificar esse esforço no âmbito da agricultura, infra-estruturas. Queremos criar as parcerias público-privadas, para podermos acelerar o desenvolvimento das infra-estruturas, nomeadamente as estradas que ligam todo o país, estradas que ligam as capitais provinciais aos distritos. Queremos presenciar e impulsionar este movimento, esta dinâmica que a província está a registar neste momento”, explicou o primeiro-ministro.

O governante considera que o país está a apresentar sinais de retoma, que devem ser consolidados através do crescimento acelerado das províncias.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos