O País – A verdade como notícia

“O melhor momento da Stv ainda está por vir”

A Stv assinala a 25 de Outubro próximo, 15 anos desde que iniciou a sua emissão. Daniel David, fundador do canal privado de televisão, conta o sonho de infância em criar um projecto diferenciador, lembra das peripécias e os sucessos ao longo do percurso e aponta o capital humano como a base do edifício do maior canal privado de televisão em Moçambique.

Numa altura de enormes mudanças na indústria de media – alteração dos hábitos no consumo de informação, migração digital e crise no mercado publicitário -, o gestor diz que uma das características da Stv “é a sua capacidade de batalhar para enfrentar os desafios”. O 15.° aniversário será celebrado próximo daqueles que são a razão de ser do canal, os telespectadores. “Decidimos desenvolver uma campanha institucional que reflecte a nossa história e que nos aproxima de todos os moçambicanos”, revela Daniel David. Siga a entrevista:

15 anos de uma televisão, é uma data que merece ser assinalada. Que iniciativas estão preparadas para as comemorações?

A 25 de Outubro assinalam-se os 15 anos do lançamento da Stv. Esta é uma data muito importante para nós e, como tal, assumimos que tinha de ser devidamente celebrada. Neste sentido, teremos um conjunto de actividades ao longo do ano por todo o país.
O ponto de partida das iniciativas de comemoração dos 15 anos foi a reflexão interna feita com os quadros do Grupo SOICO, onde, em conjunto, analisámos os principais marcos da nossa história e discutimos questões relacionadas com o futuro da Stv. Aí ficou definido que iremos comemorar os nossos 15 anos fiéis à matriz fundadora do Grupo e sempre com a ambição de continuar no topo das preferências de todos os moçambicanos. Foi neste contexto que desenvolvemos uma campanha institucional, que reflecte a nossa história e aquilo que foi a história do nosso país neste período temporal, o que nos aproxima ainda mais de todos os moçambicanos. No âmbito desta campanha, pretendemos desenvolver um conjunto de iniciativas por todo o país, pelo que, queremos assim estar cada vez mais próximos dos nossos telespectadores e celebrar com eles este importante momento que estamos a viver.
Sem revelar muitos detalhes, posso já adiantar que iremos realizar um conjunto de espectáculos culturais pelo país, estando o primeiro já agendado para o dia 24 de Fevereiro em Maputo.

O lema desta campanha dos 15 anos é “Somos Todos Moçambique”, a escolha do lema apela à união?

A unidade nacional é um dos princípios fundadores do nosso país. Todos somos importantes e podemos desempenhar um papel activo na construção do nosso país. E o papel da Televisão também passa por aí, estar perto das pessoas, levar até elas a melhor informação, o melhor entretenimento, o melhor de Moçambique. Uma televisão é feita de pessoas, para pessoas, e é isso que propomos, comemorar estes 15 anos junto de todos aqueles que nos vêem, estar mais perto do nosso público e proporcionar-lhes bons momentos, porque no fundo, somos todos Moçambique.

Preside uma das mais importantes televisões de Moçambique, sendo o canal com maior audiência em todo o país. O que levou a SOICO, há 15 anos, a candidatar-se à licença para a concessão de um canal privado de televisão?

Tudo começa com um sonho de infância, o de desenvolver um projecto capaz de fazer a diferença através de um legado que pudesse ficar para a sociedade moçambicana, e assim nasce o Grupo SOICO, da necessidade de conceber um projecto inovador e capaz de se tornar numa referência para Moçambique, com a capacidade real de ir além-fronteiras, e a Stv acaba por surgir como um dos pilares da materialização desse meu desejo. Naturalmente, que o sucesso deste projecto tem por base uma equipa composta por pessoas extraordinárias, sem as quais não seria possível construir esta empresa.
De facto, acreditámos que através de um grupo de media, neste caso, de uma televisão, poderíamos passar diversas mensagens para o público em geral. E este foi o ponto de partida, onde naturalmente depois acabaram por surgir um conjunto de ideias que permitiram lançar a Stv e em pouco tempo, alcançar a preferência dos moçambicanos.

Esperava ser líder de audiência em tão pouco tempo? Qual era a sua expectativa?

Lançamos a Stv com o objectivo de introduzir um diferencial qualitativo no panorama televisivo nacional, pois acreditávamos que havia espaço para uma televisão privada de referência em Moçambique. Este foi um projecto construído a pensar, em primeiro lugar, nos telespectadores. Assim, apostamos na produção de conteúdos nacionais de entretenimento, introduzimos um jornalismo de vanguarda com isenção, rigor e profissionalismo e complementamos a nossa grelha com conteúdos de referência internacional. Uma característica do DNA do Grupo SOICO é a ambição, e nesse sentido, um dos objectivos era sermos líderes de audiência. Ora, o pouco tempo em que isso foi conseguido reflecte a valorização do diferencial qualitativo que introduzimos no mercado.

Uma das marcas da Stv é a informação baseada num jornalismo de massas e pró-activo. Que jornalismo foi esse, que a Stv desenvolveu há 15 anos atrás, e que leitura faz da rápida conquista das audiências?

De facto, conseguimos introduzir um jornalismo de vanguarda em Moçambique, com uma equipa de jornalistas jovem e irreverente, construímos uma redacção assente nos valores do grupo, excelência, integridade, transparência, responsabilidade e ética. Acredito que termos iniciado esta caminhada com este conjunto de jornalistas cheios de ambição e uma enorme vontade de fazer jornalismo, fez com que estes fossem aprendendo no terreno muitas coisas à medida que iam trabalhando, o que contribuiu, de forma muito positiva, para a qualidade do jornalismo da Stv. Arrisco-me até a dizer que a nossa redacção é hoje uma das melhores escolas de jornalismo do país, por onde já passaram muitas das referências do nosso jornalismo actual. Neste sentido, temos apostado na formação dos nossos quadros e no recrutamento de estagiários, que complementam a sua formação de base com os quadros mais experientes do grupo. Estes factores foram muito bem compreendidos e recebidos pelos nossos telespectadores, o que justificou a conquista de audiências.

Que avaliação faz da Stv, passados estes 15 anos de existência. Quais foram os factores críticos de crescimento e consolidação?

Os factores de crescimento e consolidação da Stv passam pela estratégia assumida pelo grupo, e que está assente em 4 pilares fundamentais: inovação, diferenciação, tecnologia e os recursos humanos.
A inovação e a diferenciação são os pilares que estão na gênese da Stv, sendo que, ao longo do tempo, fomos capazes de nos mantermos fiéis a esta matriz fundadora, conseguindo sempre introduzir novos conteúdos e formatos que vão ao encontro das preferências dos telespectadores.
Contudo, e porque no sector da comunicação não é possível continuar a inovar e ser diferenciador se não houver investimento em tecnologia de ponta, temos feito uma grande aposta na tecnologia como factor de simplificação de processos e naturalmente de diminuição de custos, o que também tem sustentado o nosso crescimento numa fase económica adversa.
Para último, deixei aquele que é o pilar fundamental da nossa estratégia: os recursos humanos. O capital humano é a base do sucesso deste canal, onde ao longo dos anos temos apostado em profissionais de excelência, com elevada qualidade e uma atitude empreendedora, persistente, criativa, dinâmica e com enorme espírito de iniciativa.

O que lhe custou mais ultrapassar nestes 15 anos?

Há uns anos, uma decisão judicial quase acabou com a Stv, nesse âmbito foram recolhidos computadores, viaturas e diverso equipamento do canal, mas ainda assim a Stv não parou. Esse foi provavelmente o momento mais difícil da nossa história. Estávamos conscientes de que era uma decisão injusta e sem fundamento, e por isso nos mantivemos firmes na nossa posição e convicção, o que nos deu forças para lutarmos pela defesa da verdade e da liberdade de expressão.
Não irei esquecer a forma como os meus colaboradores estiveram empenhados em lutar contra essa decisão judicial, bem como todos aqueles que nos ajudaram ao longo desse processo, e tiveram a coragem de estar ao nosso lado.
Além da informação, o entretenimento é uma marca forte e responsável pelo posicionamento da Stv. Por exemplo, a novela o Clone e o Fama Show representaram essa ideia de ir buscar audiência além das notícias. Comentários…
Um canal generalista é feito de conteúdos de informação e entretenimento, pelo que, só conseguimos ser líderes de audiências, se primarmos pela qualidade. Nesse sentido, assumimos como aposta estratégica a produção de conteúdos de entretenimento que podiam ser inspirados em programas de sucesso a nível internacional, mas adaptados à nossa realidade. Por outro lado, queríamos também trazer para Moçambique os melhores conteúdos internacionais e foi nesse sentido que surgiu o protocolo de parceria com a Rede Globo.

Um dos principais desafios que se impõe hoje à televisão é o processo de migração digital. Qual é a sua opinião sobre como o processo está a ser conduzido?

Não quero alongar-me muito quanto à forma como este processo tem sido conduzido. Não tem sido um processo linear, antes pelo contrário, tem sofrido um conjunto de avanços e recuos. O mais importante é que as decisões finais sejam as correctas e que no fim, o processo de migração digital seja sim, um sucesso.

Sente que as empresas privadas estão a ser envolvidas o suficiente e os seus posicionamentos são considerados neste processo?
 
A migração para o digital é o exemplo de um processo onde os decisores têm pouco conhecimento e experiência sobre o tema, pelo que, para serem tomadas as melhores decisões é necessário ouvir todos os envolvidos, e neste caso, os principais agentes que são as empresas do sector. Na minha opinião, às vezes é melhor dar um passo atrás para depois dar dois à frente, e no caso da migração digital espero que esse seja o caminho.

A tecnologia hoje alterou profundamente a forma de fazer televisão e é indiscutível que a televisão do futuro, a curto prazo, será uma televisão muito diferente daquela que temos agora? Como é que a Stv perspectiva o seu futuro no contexto da evolução da tecnologia?

Como já tive oportunidade de referir, a tecnologia é um dos pilares fundamentais da nossa estratégia e um factor crítico de sucesso neste sector de actividade. Temos plena consciência das profundas transformações que estão a ocorrer no campo da tecnologia e do seu impacto na televisão do futuro. Neste sentido, definimos como uma das prioridades da nossa estratégia de curto prazo, o plano de digitalização de todas as nossas plataformas de acordo com as tendências tecnológicas do sector.

O surgimento das medias sociais (facebook, twitter principalmente) parece estar a deixar a televisão para trás, dado a rapidez do fluxo da informação. Como é que a televisão mantém o seu peso e audiência, considerando a alteração dos hábitos de consumo de informação?

Hoje não podemos pensar num grupo de media ou plataforma de media que não esteja integrada com as redes sociais, dada a sua rapidez de fluxo de informação. As redes sociais têm um enorme potencial para fazer o pushing para a televisão.
Pelo que, o que vai mudar muito significativamente é a forma como iremos ver a televisão, e já não o seu peso ou audiência. Assim, será cada vez mais natural assistir à televisão no computador, tablet ou telemóvel. Por outro lado, os telespectadores vão começar também a optar por conteúdos on-demand ou pay-per-view.
O país atravessa uma crise económica severa com forte impacto no mercado publicitário. Como é que a Stv lida com a quebra de receitas e como se reiventa para manter os padrões de qualidade aceitáveis?
O Grupo SOICO não é imune à crise económica, antes pelo contrário, temos sentido muito o seu impacto com reflexo directo no mercado publicitário, o que nos obrigou a repensar a actividade, reduzir custos e optimizar as operações, para minorar os efeitos na qualidade dos nossos produtos.
A crise económica teve como reflexo a alteração de algumas das variáveis fundamentais do negócio. A título de exemplo, estamos hoje a pagar taxas de juro de empréstimos a 30%, ao invés dos 15% inicialmente contratualizados e com os quais perspectivamos os nossos investimentos. Por outro lado, uma das necessidades de um grupo de media é a compra de conteúdos internacionais, sendo que hoje estamos a pagá-los com taxas de câmbio a 70 meticais, quando num passado recente, o câmbio estava próximo dos 35 meticais. Estes diferenciais de valores afectaram o nosso planeamento e obrigaram a novas adaptações.
Demais que estamos perfeitamente conscientes de que é preciso continuar a apostar na introdução de novos formatos e produtos televisivos, na medida em que, enquanto televisão, se não conseguirmos fazer, estaremos condenados ao fracasso. Logo, os ajustes e os cortes são inevitáveis na gestão desta situação, para conseguirmos manter os nossos níveis de qualidade. Estamos cientes que 2017 nos vai trazer as mesmas dificuldades que já sentimos em 2016, e temos de estar preparados para as mudanças necessárias inerentes à conjuntura económica actual, que nos vai afectar a todos.
Contudo, quero reafirmar que uma das características do Grupo SOICO é a sua capacidade de batalhar para enfrentar os desafios. Não nos deixaremos abater pelas dificuldades, antes pelo contrário, arregaçaremos as mangas e vamos por mãos à obra.
O que quer que seja a Stv nos próximos 15 anos?
Eu costumo dizer sempre aos meus colegas, que o melhor ainda está para vir. Celebramos estes 15 anos de olhos postos no futuro, conscientes de que o nosso sector de actividade está em constante transformação, o que exige da nossa parte uma grande capacidade de adaptação para respondermos a todos os desafios.
Por outro lado, incumbe-nos a responsabilidade de melhorar e aperfeiçoar o nosso trabalho de forma contínua, disponibilizando a melhor programação, a informação mais credível, a expansão para novos canais, contribuindo assim para o crescimento e desenvolvimento nacional. É com base nestes pressupostos que posso reafirmar, com certeza, que o melhor momento da Stv ainda está para vir.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos