O ex-ministro da Juventude e Desporto, Joel Libombo, foi membro da 7ª Companhia de Comandos, durante a luta de libertação nacional. O antigo governante destaca a importância da liderança e união para o alcance do propósito que leva a uma causa. Falando no programa Manhã Informativa, da Stv, Libombo disse que “quando há clareza” nos processos, “os jovens aderem, sentem-se incluídos” e estes foram alguns aspectos determinantes ao longo da guerra pela independência de Moçambique.
Passam hoje 46 anos após a assinatura dos Acordos de Lusaka entre e a Frente de Libertação de Moçambique e o governo colonial português, a 07 de Setembro de 1974, na Zâmbia, facto que culminou com a independência de Moçambique, a 25 de Junho de 1975.
Joel Libombo, quais são as memórias que tem da véspera da assinatura dos Acordos de Lusaka?
Muito nubladas, pelo tempo, 46 anos é muito tempo. O período que antecedeu o dia 07 de Setembro em si, e o que veio depois, foi algo muito turbulento e tão rápido. Foi um filme que muito poucos de nós tem a memória, tem a visão total do que aquilo foi. Pareceu-nos um filme e eu começaria pelo próprio 25 de Abril. Aquele período criou em nós uma liberdade total, um momento bastante efusivo que ninguém conseguia ver o que aconteceria a seguir, sobretudo no processo da negociação. Criou momentos de grande impasse, quer para nós moçambicanos, quer para os portugueses que cá viviam.
Joel Libombo, na altura, ao serviço do exército colonial fez parte do grupo que desarmava e capturava armamento. Como é que eram levadas a cabo estas acções?
Os comandos eram a tropa de elite do governo português, que estava preparada apenas para fazer assaltos finais. Estávamos num período de descanso algures na Ilha de Moçambique quando, repentinamente, recebemos um comando de que deveríamos embarcar urgentemente para Lourenço Marques. Por aí nos dias 5 a 6 de Setembro. E adivinhava-se que qualquer coisa iria acontecer, porque para intervirem os comandos, era necessário que houvesse uma situação anormal. Quando chegamos, não sabíamos o que se passava e fomos acantonados e nós os quadros estávamos proibidos de sair do quartel. Íamos ouvindo a informação de que havia muita confusão, mas pouco tínhamos informação do movimento popular da FRELIMO que estava sendo levado a cabo.
Como jovem, na altura da assinatura destes acordos, como descreve o sentimento que a juventude vivia. Havia consciência exacta na maioria dos jovens sobre o que estes acordos realmente significavam?
Os acordos em si já haviam sido divulgados pela imprensa e já haviam sido rubricados, pelo que, os grupos dos antigos combatentes e dos militantes da Frelimo divulgavam e orientavam a nível dos bairros quais deviam ser as atitudes e os movimentos que devíamos tomar. Diria que grosso modo, a juventude acatou. Havia os marginais, os oportunistas porque foi o momento em que se arrombaram bancos, cantinas e houve algum oportunismo. Mas grosso modo diria que, naquilo que era o essencial, o amostrar da posição firme da população suburbana em relação ao que um grupo de desorientados tentava fazer, que era impedir que a independência fosse entregue à Frelimo. Este era o grande problema porque havia nos países a volta uma simpatia para com a criação de um Estado idêntico ao deles e discordavam com o poder para a FRELIMO.
Este grupo de “desorientados” surgiu devido ao que estava a acontecer na Zâmbia?
Foi sim, por isso, quando o governo português, através de seus emissários rubricou e concordou que o poder passaria para a Frelimo e a fixação do calendário, portanto, todas as etapas até a certificação da data da independência tudo isso fez com que os colonos fossem aglomerar à volta da Rádio Moçambique, onde depois o Aurélio comandou e conseguiu através de negociações e com os mais velhos que estavam na Mafalala fazer um assalto à Rádio.
Haviam muitos jovens na altura envolvidos nestas acções?
Havia de lado a lado. Quer dos antigos militares e até indivíduos que já haviam cumprido a tropa e que cá viviam e havia do nosso lado também jovens que estavam em Boane e vieram se juntar a nós. Formamos uma força muito grande que espantou até os nossos dirigentes do batalhão de comando. Não havia noção de que dentro de uma tropa como o comando houvesse uma consciência patriótica tão elevada porque nós não contrariávamos, apenas executávamos. E quando apareceram a pedir-nos que fossemos proteger os nossos, isso criou algum espanto, mas o nosso major na altura entendeu. No fundo, o que se pretendia dos comandos é que quando cá chegássemos, nos aliássemos a estes movimentos.
Como é que olha para o papel da juventude na consolidação da paz e democracia?
Eu penso que estão sendo dados passos gigantes. Sinto, por um lado, que há um esforço por parte do Governo, das instituições religiões e das organizações da sociedade civil. Mas teremos que inventar uma forma de envolver mais os jovens em causas, com motivações e com metodologias que lhes digam respeito.
Que lições e que significados é que o processo de Lusaka traz para as gerações actuais e futuras do país?
Eu queria sublinhar a importância da clareza no comando que nós recebíamos. Estávamos todos claros que queríamos a independência e estávamos tão próximos que conseguimos aglutinar todos os moçambicanos contra aquela força armada, desorganizada dos colonos que estiveram a frente da intentona. Quando há esta clareza, os jovens aderem, os jovens seguram e sentem-se incluídos. Quando sentem a oportunidade de beneficiar da partilha das nossas riquezas, os jovens aderem. Eu penso que estes aspectos foram sempre claros no processo da nossa luta.
Joel Libombo gostaria de deixar alguma homenagem neste dia?
A minha homenagem é para todos que pereceram durante todo este período provocado por indivíduos desorientados, com ambições de quererem continuar a explorar Moçambique. A esses, espero que descansem, tanto da parte dos portugueses, bem como dos nossos dirigentes e antigos combatentes que nos guiaram e nos conduziram durante o processo aqui em Moçambique. Para os meus colegas da 7ª Companhia de Comandos, também rendo a minha homenagem e as minhas felicitações pela sua conduta.