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Provável 3º mandato de Nyusi como PR “pode ser uma espécie de auto-defesa”

Foto: O País

O filósofo e reitor da Universidade Técnica de Moçambique, Severino NGoenha, diz que um provável terceiro mandato de Filipe Nyusi, como Presidente da República, seria um mecanismo de auto-defesa para salvaguardar a sua vida e a liberdade, por conta dos erros que terá cometido enquanto Chefe de Estado.

Sobre a provável intenção do actual Presidente da República, Filipe Nyusi, de concorrer para um terceiro mandato, há várias opiniões, e, na última segunda-feira, o filósofo Severino Ngoenha fez a sua reflexão em torno do assunto.

“Se o terceiro mandato fosse veleidade de um homem de querer continuar no poder, até a gente poderia compreender e entender. Essas veleidades existem em qualquer pessoa, mas são veleidades a serem reconsideradas e recanalizadas no seu lugar próprio e fazendo respeitar a lei e as instituições. Mas parece-me que, por trás do terceiro mandato, se esconde uma outra coisa”, alertou Severino Ngoenha.

Para sustentar o seu pensamento, Ngoenha recorre a um ditado segundo o qual quando um ser está metido numa gaiola, por mais pacífico que possa ser, à certa altura, se torna violento porque se encontra numa situação de prisão. Com base neste exemplo, o académico teme pelo futuro do país.

“Eu tenho estado a pensar nestes dias que, com a situação de Moçambique nos últimos 20 anos, nós temos um Presidente que goza de liberdade e privilégios que a função presidencial lhe dá enquanto ocupa aquele espaço, mas carrega, consigo mesmo, problemas enormes que podem levar com que, saído daquele lugar, tenha para ele e sua família consequências graves. Se esta minha percepção e interpretação não é errada, pode ser que o terceiro mandato não seja ligado à veleidade individual, mas seja uma espécie de auto-defesa que a pessoa se dá para salvar a sua vida e a sua própria liberdade”, apontou o académico.

Com esse pensamento, o académico receia que, no futuro, haja mais conflitos e divisões. “Se eu penso assim e vejo os movimentos e os discursos que se fazem à volta do Presidente Guebuza, que está de volta; as vontades de vingança que circulam nos nossos ouvidos, os conflitos que temos no Norte de Moçambique e metem o país em risco de divisão, com racismo e tribalismo que crescem, eu pergunto-me o que é que será de Moçambique daqui a dois ou três anos. Aquilo que antevejo não é nada bonito. Eu antevejo, no meio de dois conflitos que já estão em curso, ainda mais conflitos possíveis”, disse Ngoenha, acrescentando que as gerações vindouras não verão Moçambique do Rovuma ao Maputo como nós conhecemos. “A maneira como estamos a conduzir a nossa vida, em termos colectivos, pode levar-nos a problemas tão graves que aqueles que conhecemos no passado.”

Como solução, Severino Ngoenha sugere que, independentemente da posição que as pessoas ocupam, a sociedade deve saber perdoar para seguir em frente.

“No nosso país, temos que inventar mecanismos de perdão colectivo, de criação de espaços para que nenhum de nós, independentemente do lugar que ocupa, se sinta autorizado ou empurrado a ter que fazer algo, actos que levem à divisão do país, novos conflitos, novas tribalizações, racismos e conflitos militares nem para se proteger, ainda que seja por veleidade de vingança”, sugeriu Severino Ngoenha.

O também reitor da Universidade Técnica de Moçambique fez estas declarações no lançamento do livro do jornalista e comentador Tomás Vieira Mário. Fê-lo por considerar que os intelectuais têm um papel a desempenhar na sociedade para travar conflitos.

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