Em Homoíne, uma vila da província de Inhambane, a escassez de produtos alimentares básicos transformou-se numa realidade cada vez mais angustiante para os moradores. A pressão dos protestos que têm varrido o país, exigindo uma redução dos preços, culminou num cenário de desabastecimento, em que os habitantes lutam para garantir o essencial para a sua sobrevivência.
Nos últimos dias, a vila de Homoíne tem sido marcada pela escassez de bens fundamentais, como arroz, óleo, farinha, açúcar e outros. O que começou com manifestações de descontentamento pela subida vertiginosa dos preços, transformou-se numa crise em que os comerciantes se viram forçados a vender a preços abaixo dos custos, uma medida que, embora inicialmente vista como alívio para a população, resultou na rápida escassez de produtos.
Maria Alfredo, moradora de Homoíne, não esconde a sua preocupação. “Quando os protestos começaram, as lojas estavam cheias, mas, depois de nos obrigarem a vender a preços baixos, o que é que aconteceu? Faltou tudo. Não há arroz, não há óleo, não há farinha. Tenho a minha família para alimentar, e agora não sei o que fazer”, disse, visivelmente exasperada, enquanto caminhava pelas ruas vazias da vila, sem conseguir encontrar nada nas lojas.
Para muitos, o problema é ainda mais grave. Alda Joaquim, também residente de Homoíne, lembra-se bem do momento em que ficou sem as reservas essenciais em casa. “Comprei o último saco de arroz numa loja. Estava a tentar garantir que teria algo para os meus filhos comerem, mas depois me disseram que já não havia mais. Fui de loja em loja e não encontrei nada. Agora, as lojas estão vazias, e eu não sei como vamos fazer até a próxima remessa chegar”, conta Alda, que carrega no rosto o cansaço de quem tenta sobreviver numa vila assolada pela escassez.
O impacto das manifestações nos comerciantes foi imediato e devastador. Empresários locais, que antes conseguiam manter um fluxo constante de mercadorias, viram-se subitamente perante a pressão dos manifestantes, que exigiam uma venda a preços reduzidos, muitas vezes sem considerar os custos elevados dos produtos.
Dois comerciantes locais, que pediram para não ser identificados por temerem represálias, deram o seu depoimento sobre o que aconteceu nas últimas semanas. “Quando os protestos começaram, as lojas estavam cheias, mas fomos obrigados a vender tudo a preços muito baixos. Fizemos o possível para atender à população, mas nunca imaginámos que isso resultaria numa falta tão grave de produtos. Não conseguimos repor os stocks a tempo, e a escassez começou logo a ser sentida”, contou um dos comerciantes.
Outro comerciante, igualmente afectado pela pressão dos protestos, explicou que o impacto foi devastador. “Eu tentei resistir e não vender abaixo do preço, mas a pressão foi tão grande que acabei por ceder. Agora, os produtos que temos são escassos e os fornecedores não conseguem repor. A situação está cada vez mais difícil. Não é só a falta de alimentos, mas a falta de condições para poder continuar o negócio”, lamentou.
A falta de uma estratégia clara para garantir a reposição dos produtos está a agravar o cenário. Além disso, muitos dos comerciantes se sentem perdidos, sem saber como lidar com a situação. “Os fornecedores não estão a cumprir as entregas. Temos de esperar mais de uma semana para repor o arroz, e, mesmo assim, o preço subiu em 100 Meticais, o que se torna inviável para muitos de nós”, revelou outro comerciante, em tom frustrado.
Com a escassez de mercadorias, os preços dos poucos produtos disponíveis dispararam. O preço do arroz, por exemplo, aumentou drasticamente, algo que não passou despercebido à população. “O saco de 10 quilogramas de arroz, que custava 1600 Meticais, subiu em 100 Meticais em poucos dias. Para muitas famílias, este aumento é impossível de acompanhar. Já nem conseguimos alimentar as nossas crianças”, explicou Alda Joaquim, enquanto olhava para a prateleira vazia da loja onde normalmente comprava o seu mantimento.
A situação não é melhor para outros produtos essenciais. O óleo e a farinha, itens fundamentais na alimentação das famílias de Homoíne, também desapareceram das prateleiras. Os comerciantes explicam que a elevada procura e a impossibilidade de repor os produtos têm forçado um aumento generalizado de preços, deixando as famílias numa situação insustentável.
Para além dos alimentos, a falta de combustível também tem sido um dos maiores problemas enfrentados pela população de Homoíne. A escassez de combustível, que afecta tanto os carros particulares como os transportes públicos, obriga os moradores a procurarem combustível em cidades vizinhas, como Maxixe, situada a cerca de 25 quilómetros de Homoíne. Angelino das Neves, morador da vila, descreve a sua frustração: “Temos de viajar até Maxixe para conseguir combustível. Isso aumenta os nossos custos de vida, uma vez que, além de combustível, temos de pagar pelo transporte do mesmo. A situação está a ficar insustentável.”
A escassez de produtos alimentares em Homoíne é uma consequência directa da pressão exercida pelos protestos, que inicialmente visavam a busca da chamada verdade eleitoral, mas que depois se estendeu por uma redução dos preços. O que era para ser uma medida de alívio para a população transformou-se numa crise de desabastecimento, que tem deixado os moradores numa situação de grande vulnerabilidade. A falta de acção das autoridades e a incapacidade de repor os produtos nas prateleiras estão a agravar o sofrimento de muitos. Enquanto isso, os comerciantes, vítimas da pressão dos protestos, lutam para manter os seus negócios vivos, enquanto a população enfrenta os efeitos dramáticos da escassez de alimentos e de combustíveis.