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Porto de Pemba “sem” navios e com futuro sombrio

Doze metros de profundidade;  localizado na maior baía de África, com um cais com capacidade para a atracação de navios com 183 metros de comprimentos, todos estes argumentos não seduzem as linhas náuticas porque falta mercadoria para viabilizar o fluxo de navios no Porto de Pemba, em Cabo Delgado.

Nos últimos cinco anos o volume de carga manuseada tem registado uma descida acentuada, com excepção de 2015. Os dados da empresa Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique, proprietária do Porto de Pemba, mostram que em 2013 foram manuseados 289.681 toneladas e em 2017 o número caiu para 149.767 toneladas. O pico de 2015 (355.487 toneladas) coincidiu com a fase de prospecção de gás natural na bacia do Rovuma e depois disso o que se passou a assistir é um porto que fica em média duas semanas sem receber um navio sequer.

O que se passa? Esta é a pergunta que parece mais legítima de se fazer, porque estamos a falar da província do gás natural. “Há vários factores, mas o principal é a falta de carga; a recessão económica”, responde o delegado dos CFM em Cabo Delgado, Arnaldo Manjate, que acrescenta dando um diagnóstico mais concreto: “a carga principal, que sustentava o porto até o ano passado era a madeira, mas com as actuais restrições isso significou a redução da carga manuseada aqui”.
A madeira ocupava 80% da carga manuseada no Porto de Pemba.

Com pouca mercadoria, o custo de frete de navios são mais caros. Neste momento, as duas linhas náuticas que operam em Pemba (a Spanfreight que representa a mauritânia UAFL e a francesa Bolloré que representa a PIL) cobram qualquer coisa como USD 1.800 por contentor, sem contar que o mesmo chega com muito atraso porque o navio sai do local de partida e faz várias entregas pelos portos mais movimentados da região, como os de Mombaça, Dar-es-Salam, e só depois é que escalam Pemba.

Há quem diga que a existência de apenas um cais para navios de grande calado é a causa principal. Facto real é que mesmo as companhias que exploram o grafite de Balama, centro de Cabo Delgado, preferem fazer mais de 460 km de estrada transportando a mercadoria para exportar a partir do Porto de Nacala, em Nampula, deixando ali à metade dessa distância, o Porto de Pemba. “Já tentamos procurar explicação junto dessas mineradoras, mas a única coisa que nos dizem é que os estudos que fizeram mostraram viabilidade de uso do Porto de Nacala”, lamenta Júlio Sethy, presidente do Conselho Empresarial de Cabo Delgado, num tom de quem não concorda com esse procedimento.

Arnaldo Manjate comenta essa preferência das mineradoras e deixa claro uma coisa: “nós temos capacidade para manusear grafite”. Ainda assim, mesmo o algodão que tradicionalmente era exportado a partir de Pemba agora sai de Nacala, denotando que algo vai mal.

Quanto à eficiência, enquanto que o Porto de Pemba manuseia 9 contentores por hora, o de Nacala faz 12. E ainda que se tente traçar um cenário positivista nos próximos cinco anos com a previsão da construção da plataforma de LNG em Palma pela Anadarko, verdade, porém, é que os benefícios não serão tão impactantes porque os navios que vão trazer equipamentos serão atendidos na Base Logística de Pemba, em construção a escassos quilómetros do Porto comercial de Pemba.

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