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Por uma educação de excelência

Fossemos observadores das nossas tendências naturais a coisas da vida, desde crianças, menos dúvidas restar-nos-iam que nós não somos nascidos como uma “tábua rasa”. Chegamos ao mundo com determinadas predisposições que nos permitem exercer com excelência algumas funções capazes de imortalizar-nos. O principal fim último das qualidades inatas dos seres humanos é a glória.  E tal glória que chega a ser guardiã da nossa existência póstuma só nos é possível conquistar, quando as nossas obras ou acções comportam excelência. Daí que é mister a pergunta “quem sou eu?” quando se deseja viver uma vida sublime. A resposta para “quem sou eu?” é das mais difíceis de acesso na vida, requerendo continuamente a introspecção e consistência. Sendo assim, todas as suspeitas daquilo que pensamos que somos devem basear-se nas inclinações naturais que, ao longo da vida, vamos manifestando.

O que se deve tomar como postulado para compreendermos melhor a nossa existência é que tudo na vida tem um propósito, incluindo a própria vida – nada ocorre por acaso. E o segundo postulado deve consistir na crença de que o propósito de todas as coisas na vida é sempre benigno. Todos os fenómenos do mundo convergem para um propósito feliz e, mesmo quando ocorrem falhas, o positivismo mantem-se por meio das lições que se aprendem das experiências negativas. Deste modo, se gozamos da vida, e acreditamos que ela tem um propósito, então, sejamos consequentes em apostar que o propósito das nossas vidas é sempre ditoso. Deste modo, estejamos preparados para ultrapassar as peripécias da vida, provando cada vez mais o que nós pensamos que somos por meio da consistência.

O destino é grandioso e existe, mas pode ser rejeitado para nossa própria desgraça. Ou seja, todos os homens são destinados a ser excelsos na vida, mas quando não atendem ao chamamento missionário com consistência, acabam medíocres e desventurados. E o mais vivo sinal que nos permite identificar o chamamento existencial são as nossas tendências naturais que começamos a manifestar desde criança. Alguém que lida facilmente com instrumentos musicais desde a tenra idade, sem ainda ter passado por longos treinos, o seu maior triunfo onto-existencial é a música. Para quem, quando criança, destacou-se mais em competições físicas, o seu melhor lugar no mundo é a ginástica. E aquele, que sempre se entreteve em compreender a funcionalidade das coisas, devia entregar-se a investigações científicas. Mantendo-se firme sobre tarefas que mais sente comodidade em executar, mas executando cada vez mais com qualidade e ciência, mais alinhado com seu fausto destino o indivíduo estará.

Porém, se o indivíduo se deixar guiar pelas paixões – que, são por excelência, causadoras da cegueira existencial – ou resignar-se diante das peripécias da vida, o seu destino acaba desfalecendo. Nisto, o homem torna-se um arredio, vítima de abandono de um plano metafísico. E, no mundo, há mais pessoas que desistiram do seu próprio destino por razões mesquinhas ou graves de diversas ordens. Dessas pessoas, tenha-se a certeza que a sua morte escamoteará rapidamente a memória da sua existência na terra, pois não haverão deixado obras que excedam o que é usual dos humanos. Somente o extraordinário faz a história. Portanto, se quisermos ser proeminentes na vida, temos de optar por uma educação de excelência que consiste em aprimorar as nossas qualidades inatas.

As qualidades inatas ou o talento, em si, não nos é suficiente para perfazermos obras inéditas capazes de nos granjear a glória. São precisos o treino e a ciência. Porém, quando se treina algo não inato, o esforço é mais penoso e o resultado é acima do medíocre, mas não ao ponto de ser sublime. Por esta razão, torna-se recomendável que o indivíduo procure na vida exercer a actividade em que sua natureza está em vantagem que o desejo. É mister para cada indivíduo o estudo sobre as suas potencialidades inatas de tal modo a desenvolve-las e atingir o sucesso inigualável entre homens ordinários. Quando não se faz tal estudo introspectivo, e faz-se o que o desejo desvinculado da habilidade inata manda, a probabilidade do sucesso é de mediocridade ou moda, mas não de glória que só se alcança com excelência.

É-nos agradável fazer coisas das quais a gente gosta, porém muitas vezes a felicidade assenta no conformismo e não é definitivamente distintivo da grandeza. Assim sendo, dever-se-ia adequar o sonho às qualidades inatas do homem, quando se quer alcançar o que está fora do comum entre os homens simplórios. Dando alma ao talento, o homem torna-se um fenómeno invejável no mundo pelo nível de competência e graciosidade com que faz as coisas acontecer. Quando reparamos nos homens históricos como Sócrates que manifestou a sua excelência na filosofia, Jesus de Nazaré na moral, Alexandre o Magno na arte da guerra, Da Vinci na pintura, Camões na poesia, Mozart na música, Einstein na ciência, Pelé no futebol, é-nos tão difícil conceber que sua excelência não tem a ver com nenhum desenvolvimento da qualidade inata, mas que tudo foi obra do desejo, ensino e esforço. Mas se o sucesso gigantesco destes homens deveu-se tão somente ao desejo, ensino e esforço, porque todos aqueles que desejaram, talvez, tiveram melhor ensino e mais dedicaram-se não se tornaram tão proeminentes quanto eles? Certamente que houve homens que mais estudaram na vida que Sócrates, porém ninguém o superou na reflexão profunda sobre a condição humana, assim como houve jogadores que até passaram pelas grandes universidades, mas o seu brilho chega a apagar-se com a sombra de Pelé.

Outra imaginação de difícil projeção é tentar visualizar estes homens gloriosos fora das áreas onde garantiram a sua brilhante existência histórica. Se Da Vinci ou Michelangelo tivessem preterido a pintura pelo futebol ou culinária, teria sido possível que eles conquistassem o mundo da mesma forma como o fizeram com os seus pincéis? Ou eles definitivamente souberam interpretar os sinais do seu destino glorioso, compreendendo suas tendências naturais e desenvolve-las com afinco rumo à perfeição?! Não basta o talento nem o esforço em si separados. É preciso um casamento entre os dois elementos para o homem atingir o auge da sua existência. Assim como a semente num solo fértil precisa de água para germinar, a dádiva no homem também requer treino para produzir obras de grande dimensão.

Procuremos o que há de bom em nós, tornemo-lo melhor e acreditemos que assim estaremos a cumprir o mais esplêndido desígnio da nossa existência.

 

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