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“Por cima de toda folha”: O renascer de uma obra

Foi relançado, quarta-feira, o livro do poeta Heliodoro Baptista. Intitulado “Por cima de toda folha”, a obra literária é uma colectânea de poemas que relembram Moçambique antes e depois da independência.

Coube à actriz moçambicana Lucrécia Paco recitar um dos poemas de Heliodoro Baptista, para dar voz e reavivar o livro “Por cima de toda folha”, que contempla poemas que levam à nostalgia do velho e do novo Homem, antes e depois da independência de Moçambique.

“Moçambique é um coração//Criança de sete anos //Submerso flutuo entre algas e árvores de um milenar de silêncio marinho//Não sou peixe, não sou coral//Quis já ser uma amoreira gigante para aterrorizar os invasores//Mas sou apenas frágil, inofensivo como tépue”, lê-se no poema Cardioscopia Indica, o primeiro caderno das poesias escritas entre 1970-74.

O autor foi levado pelo tempo, mas a obra literária permanece viva.

“É um livro que veio a calhar com este momento conturbado que estamos a viver, de conflitos, terrorismo, a ameaça a segurança nacional e o livro vem a calhar porque se no passado vivíamos um momento de agressão, nós agora também estamos a viver um momento também similar. A obra mostra as utopias que tínhamos naquela altura, então as fórmulas estão nos textos e é preciso que as pessoas leiam e talvez possamos encontrar no livro as fórmulas para sair deste conflito”, defendeu Lucílio Manjate, escritor e apresentador da obra literária.

Lucílio Manjate lamenta ainda o facto de que existam ainda outros escritos que estão a ser esquecidos, mas contribuíram, de forma significativa, para o desenvolvimento da literatura moçambicana.

“Em uma iniciativa minha, Osvaldo das Neves e Albino Macuácua. Em 2015, publicámos um livro intitulado ‘Literatura Moçambicana da ameaça ao esquecimento a urgência ao resgate’ volume um, onde analisamos seis autores da narrativa moçambicana, que não são muito badalados e suas obras não estão nas escolas, clubes de leitura, poucas vezes nas universitárias moçambicanas. É preciso que se leiam obras integrais da sociedade moçambicana. Após o lançamento, recebemos uma lista de autores que estavam esquecidos, então agora estamos a preparar o volume dois do livro para resgatar estes que estão esquecidos”, anunciou Lucílio Manjate.

O legado artístico deixado por Heliodoro Baptista foi relembrado pelo filho do poeta, 35 anos depois do primeiro lançamento.

“É o primeiro prémio de poesia em Moçambique, portanto é um marco da nossa história. Há outros autores que se destacam na literatura moçambicana como Mia Couto, José Craveirinha, mas há tantos outros que estão a ser esquecidos, embora, de alguma forma, tenham contribuído para o crescimento da literatura no país”, lamentou o filho do escritor Heliodoro Baptista Júnior.

“Por cima de toda folha” é uma colectânea constituída por 41 poemas escritos de 1970 a 1984, nos quais o autor partilha a versatilidade criativa.

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