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Pessoas idosas mais afectadas por combates entre tropas e terroristas em Cabo Delgado

Os idosos estão entre os grupos que foram intensivamente afectados nos confrontos directos entre os terroristas e as forças no Teatro Operacional Norte, no período entre 2020 e 2021. Porém, o mesmo cenário verifica-se noutras regiões em conflitos, descreve um relatório, que, por isso, apela à ONU, Governos e doadores para darem primazia à protecção de pessoas idosas em combates.

“Ninguém é poupado: abusos contra idosos em conflitos armados”. É assim como introduz o mais recente relatório de 48 páginas divulgado pela Human Rights Watch (HRW), com sede em Nova Iorque. A HRW vai a fundo e descreve o drama vivido pela população no âmbito do combate a grupos terroristas, em Cabo Delgado.

“Mulheres e homens mais velhos foram particularmente afectados em 2020-2021 quando não conseguiram fugir dos combates entre um grupo armado e as forças governamentais, tendo alguns sido queimados até à morte nas suas casas e mortos a tiro ou feridos por fogo indiscriminado”, revela a HRW no relatório.

Para dar substância às suas palavras, a HRW traz vozes de vítimas que conseguiram sobreviver aos ataques terroristas, tendo, porém, presenciado cenários de abusos e decapitações dos idosos. Um dos residentes de Nathuko, na província de Cabo Delgado, contou àquela organização norte-americana que homens mascarados chegaram à aldeia carregando machetes e “decapitaram um homem mais velho e incendiaram pelo menos 100 casas”.

A organização de defesa dos direitos humanos alerta que os mais velhos correm frequentemente um risco acrescido de abusos durante os conflitos armados. “Os idosos enfrentam graves abusos, incluindo execuções sumárias, violações e raptos, durante os conflitos”, afirma Bridget Sleap, investigadora sénior sobre os direitos dos idosos da Human Rights Watch, citada no relatório.

Assim, a HRW defende que o Conselho de Segurança das Nações Unidas deve olhar de frente para esta questão. “O Conselho de Segurança das Nações Unidas deve assegurar que as Nações Unidas abordem no seu trabalho a necessidade de uma maior protecção dos civis mais idosos em conflitos armados”, escreve, acrescentando que “há uma necessidade urgente de os Governos e a ONU reconhecerem os riscos específicos e as necessidades de assistência das pessoas idosas e agirem para as proteger”.

Além de Moçambique, o relatório da HRW descreve o mesmo cenário noutros países em conflitos armados, como Burkina Faso, República Centro-Africana, Etiópia, Mali, Moçambique, Níger, Sudão do Sul, Camarões Síria, Myanmar ou Israel e Palestina.

Uma vez que o relatório dá conta de várias situações ocorridas em vários conflitos armados em África e no resto do mundo, a HRW deixa recomendações aos Governos, organizações e doadores, que, de forma geral, se resumem no cumprimento do direito humanitário internacional e dos direitos humanos, inclusive no que diz respeito ao fim dos abusos e à minimização dos danos às pessoas idosas.

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