Na cidade de Maputo, persistem aglomerações em locais públicos, venda nos passeios e algumas mercearias funcionam depois das 16 horas, violando o decreto do Conselho de Ministros sobre a Situação de Calamidade Pública.
O desrespeito às medidas restritivas contra a COVID-19, acontecem numa altura em que os números de infecções pela doença não dão trégua e os apelos, diga-se ensurdecedores, para o cumprimento das medidas contra a pandemia da COVID-19 chegam de todos os lados. Porém, há quem teima em não cumpri-las.
Numa ronda que “O País” fez em alguns pontos da capital, a nossa equipa de reportagem confrontou-se com um cenário de total atropelo às regras sanitárias.
Um dos lugares, onde os aglomerados são de encher os olhos, é nas proximidades do Terminal Rodoviário da Praça dos Combatentes, vulgo Xiquelene.
São 15 horas de quarta-feira e à esta hora parece haver alguma ordem. Mas quando o relógio marca 17 horas, tudo vira um caos. Salve-se quem puder na batalha e lufa-lufa pela busca de meios para a sobrevivência.
Depois das 16 horas, o movimento dos vendedores que se fazem aos passeios é rápido e, num ápice, nem espaço para circular sobra. A situação agrava-se com a ausência dos agentes da Polícia Municipal, que recolhem para casa às 15h30.
Quando os homens da lei e ordem vão, os passeios ficam abarrotados, cada vendedor usando das suas habilidades persuasivas, para atrair a clientela. A exposição ao risco de infecção pela COVID-19 é maior.
Cenário igual também é evidente nos passeios do cruzamento entre as avenidas 24 Julho e Guerra Popular. É um caos total!
A azáfama, diga-se, arriscada, não é só em Xiquelene. O mesmo cenário pode ser visto na esquina entre as avenidas Guerra Popular e 24 de Julho, onde vendedores e clientes trocam mimos.
Enquanto o vendedor tenta convencer ao cliente a levar um artigo, este último tenta, insistidamente, obter um desconto, só um “descontozinho”.
E os argumentos do porquê o desrespeito às medidas contra a COVID-19 são os mesmos, que o diga Maria Saíde, vendedeira no Xiquelene.
“Sabemos que devíamos sair dos passeios por causa da exposição à contaminação pela COVID-19. Mas a fome é a principal causa da nossa presença aqui. Falta-nos dinheiro para comprar alimentos, por isso acabamos por atropelar as regras sanitárias”, justificou-se a vendedeira.
“Não temos outra opção. Estamos a tentar obter alguma saída para sobreviver. Sabemos que estamos num momento difícil, mas preferimos arriscar as nossas vidas”, explicou Manuel Rafael.
Na cidade de Maputo, as irregularidades no que à prevenção da COVID-19 diz respeito não para por aí. É que nem todos os estabelecimentos comerciais obedecem o horário de funcionamento das 09h00 às 16h00, conforme determina o decreto do Conselho de Ministros sobre a Situação de Calamidade Pública.
Na capital do país, as mercearias funcionam fora da hora estabelecida pelas autoridades e tal acontece mesmo nas barbas dos agentes da Polícia Municipal.
No Xiquelene, é possível ver os homens de segurança autárquica deambulando, fazendo vista grossa à situação.
Num dos estabelecimentos comerciais, a vendedora, ao ver a nossa equipa de reportagem, fez questão de ajustar o lenço de cabeça para cobrir o rosto. E justifica-se, alegando desconhecimento das normas. O pior, disse que não sabia da obrigatoriedade de encerrar a mercearia às 16 horas.
“Aqui no Xiquelene, nós fechamos as mercearias às 17 horas. É pelo menos isso que sabemos, outra informação contrária à essa é-nos estranha”, disse a vendeira em anonimato e destemidamente.
Se continuarmos a este ritmo, a batalha contra o novo Coronavírus dificilmente terá sucesso! E as consequências são as que todos veem: mais e mais mortes todos os dias.