Estamos aqui para reflectir sobre Moçambique. Para começarmos, gostaria que tivéssemos uma reflexão inicial focada nas seguintes perguntas: O que significa, realmente, pensar Moçambique? O que nos vem à mente quando nos propomos a esta reflexão? Será que temos refletido de forma suficiente sobre o país que queremos ou estamos a construir?
Quero propor que pensemos em Moçambique como um país não só de esperança, mas de realizações e concretizações:
Como podemos construir um Moçambique onde a educação não exclua nem discrimine? Um país onde a qualidade da educação seja um direito universal, independente do estrato social ou localização geográfica. As condições de ensino na cidade, no campo ou no posto administrativo mais remoto devem ser iguais e exemplares. Não deveríamos exigir que todas as crianças, em qualquer parte do país, tenham acesso a escolas de qualidade, ao invés de aprenderem debaixo de árvores ou sentadas no chão? Precisamos desenhar uma educação que forme cidadãos do mundo, onde o desenvolvimento das sociedades seja alicerçado numa educação de excelência.
Mas como podemos falar de qualidade na educação quando temos turmas superlotadas e professores que mal conhecem os seus alunos? Essa realidade reflete a transformação da educação em comércio, quando, na verdade, a educação é muito mais séria do que imaginamos. Quais são as consequências de uma educação de improviso ou de arranjo? Teremos parlamentos sem cérebros, onde a competência se mede pelo maior vibrar de palmas, uma saúde que não satisfaz nem as necessidades básicas, e gestores que não alcançam os resultados desejados. Então, como estamos a pensar Moçambique, é nosso dever, como povo moçambicano, questionar: Como podemos mudar essa realidade?
Precisamos da participação visível das universidades no desenvolvimento do país. Uma universidade que ofereça ao país estudantes com competências técnicas, capacidade crítica e cidadania ativa.
Pensar Moçambique também é refletir sobre uma política de transporte eficiente. Estamos a garantir uma mobilidade pública segura e acessível? Precisamos de estradas com ciclovias, passeios e pavimentação que favoreçam o transporte de pessoas e bens, pois melhorar a transitabilidade do país promove o crescimento econômico.
Será que as nossas instituições públicas e privadas têm a capacidade técnico-científica e ética para servir Moçambique? A ética manifesta-se no comportamento e na personalidade do nosso ser. Precisamos de mentes criativas e inovadoras nas instituições, que acompanhem as mudanças tecnológicas globais. Estamos a entrar num mundo de inovação tecnológica onde o homem está a ser substituído por robôs e/ou Inteligência Artificial (IA). Estamos preparados para essa realidade?
Um país que privilegia a inteligência pode se tornar um país “certo”. Queremos pensar num país com gestão pública próxima da perfeição, onde a soberania seja plena e total, mesmo nas regiões onde empresas internacionais, como a Total, exploram os nossos recursos. Como podemos assegurar que o prazer de viver se reflita na oferta de serviços públicos e privados de qualidade? Pensar Moçambique é imaginar um auditório como este, composto por moçambicanos e cidadãos engajados que não esperam as coisas acontecer, mas participam ativamente com seu saber no desenvolvimento social do país. Podemos transformar Moçambique num exemplo de resiliência e progresso, assim como o Japão, que superou os desafios após a Segunda Guerra Mundial?
Pensar Moçambique é também valorizar a competência em detrimento da confiança baseada em amizades ou critérios étnico-tribais. Queremos um Moçambique que pensa nas futuras gerações e cria as melhores condições para elas. Um Moçambique competente, que exporta não apenas recursos, mas também conhecimento e produtos acabados. Como podemos construir um país onde os serviços públicos de saúde são de qualidade, sem doentes a dormir nos corredores, e onde a educação produz conhecimento inovador?
Pensar Moçambique é também sonhar com um país onde as teorias “Changuisianas” não têm expressão, onde as autoridades públicas priorizam educar o cidadão antes de o multar. Um país que valorize a competência, que pense nas futuras gerações e crie as condições para que estas possam prosperar. Como podemos fazer com que o conhecimento seja a nossa maior riqueza, assim como o Japão fez, apesar das adversidades geográficas?
Queremos um Moçambique que utilize as tecnologias de comunicação para o bem da humanidade, como faz o Japão, que coloca a tecnologia no centro do seu desenvolvimento.
Podemos criar um Moçambique onde o turismo seja uma verdadeira força motriz da economia? Temos o sol, as praias e os recursos naturais incomparáveis, com extensões de praias de águas mornas e longos períodos de sol. Como podemos capitalizar essas vantagens comparativas para impulsionar o desenvolvimento e fazer com que o turismo e os mega projectos contribu de forma apreciável para o PIB do país?
Para terminar, pensar Moçambique é imaginar um país onde a desnutrição não tenha lugar, graças a políticas agrárias sérias e ao aproveitamento dos nossos recursos naturais. Estamos a usar as nossas terras férteis, como os vales do Zambeze, regadio de Chókwè, e outros regadios , de forma a eliminar a fome e a promover o bem-estar? Precisamos de capitalizar os recursos que temos, como os rios que atravessam o país e que vão abraçar as águas do Oceano Índico, para o benefício integral de todo o povo.
Estamos preparados para criar um Moçambique com valores que mostrem ao mundo que o povo africano está a conquistar a sua independência econômica? Um Moçambique com uma identidade própria, onde a consciência coletiva pense no bem-estar comum, e onde não haja espaço para greves ou reivindicações nas várias profissões do país.
Queremos, juntos, pensar num Moçambique melhor de todos os tempos.
Muito obrigado