A voz do cárcere, de Paulina Chiziane e Dionísio Bahule, será lançado sexta-feira, às 15h, no Hotel Glória, na Cidade de Maputo. O livro é um exercício sobre histórias recolhidas nas prisões nacionais.
A voz do cárcere gira à volta da população reclusa. Antes de ser escrito a quatro mãos, Paulina Chiziane e Dionísio Bahule ouviram mulheres e homens que fizeram declarações profundas e dolorosas. “Muitas vezes falamos de violência doméstica com exemplos imaginários. Poucas vezes falamos de violência com exemplos concretos. Este livro dá-nos essa visão real do nosso quotidiano”, disse Paulina Chiziane, para quem o livro são muitas coisas. “Não é apenas meu e do Dionísio, é nosso. O livro é uma criação conjunta entre escritores e proponentes da obra, o SERNAP”.
A voz do cárcere, com efeito, retrata questões ligadas à justiça, às crianças que crescem sem ter quem cuidar delas, e mergulha no universo criminal, explorando tipos de delitos cometidos em certas regiões, consoante as idades e o sexo. “A prisão é um mundo dentro de outro mundo que necessitamos compreender. O planeta terra está representado nas nossas prisões”, comentou Paulina Chiziane.
Com 475 páginas, A voz do cárcere, editado pela TPC, foi escrito em mais ou menos sete meses, desde Setembro do ano passado. Não foi fácil, advertiu Bahule: “Foi intenso entrar na prisão e ter de nos deter no rosto de cada um, enquanto falavam. Devo confessar que tivemos de recusar uma lágrima porque ouvimos histórias dolorosas, sofridas”.
Estar com a Paulina Chiziane na escrita de um livro foi, para Dionísio Bahule, uma experiência de passagem de testemunho. “Ser escritor não é apenas ouvir, mas traduzir-se para o lugar do outro, o que nos tornou seres das próprias histórias. E doeu perceber que dentro deste mundo existe outro que ignoramos todos os dias. Escrever a quatro mãos foi uma novela sem fim. O livro é híbrido, científico e ficcional no sentido de que nos apropriamos do verbo para contar a história do outro. Foi um processo de tortura e que nos esgotou, por encarnarmos a dor do sujeito subalternizado pela sociedade”.
Portanto, tendo como proponente o Serviço Nacional Penitenciário (SERNAP), A voz do cárcere é uma conjugação entre a literatura, a sociologia, a psicologia e a antropologia. Neste contexto, concluíram os autores, estar no cárcere é uma forma de espiar os pecados e os erros da humanidade. Assim, a prisão é um espaço da catarse e o livro um projecto de educação.