A Polícia Judiciária portuguesa deteve três indivíduos suspeitos de falsificar e comercializar obras atribuídas a Malangatana em leilões online. A Fundação Malangatana Valente Ngwenya trabalha com advogados moçambicanos e portugueses para avançar com processo-crime.
Desde 1998 que a família Ngwenya tem recebido notícias sobre a falsificação de obras de Malangatana em Portugal. De lá a esta parte, o caso repetiu-se algumas vezes e as autoridades portuguesas têm colaborado para neutralizar falsificadores. Por isso mesmo, a detenção de dois homens e uma mulher de 79, 43 e 51 anos de idade, respectivamente, pela Polícia Judiciária portuguesa, noticiada esta sexta-feira, não surpreende Mutxhini Ngwenya. Aliás, o Presidente da Fundação Malangatana Valente Ngwenya lembrou, este sábado, na Cidade de Maputo: “Este é um caso que se arrasta há alguns anos. De alguma maneira, temos tido o contacto sobre este assunto. Mas felicitar às autoridades portuguesas pelo sucesso que tiveram, agora, na apreensão”.
Em Portugal, os três indivíduos foram detidos por falsificar e comercializar obras atribuídas ao artista moçambicano, o que resultou na apreensão de 35 telas falsas e do que os suspeitos utilizaram para a produção das pinturas.
O caso, em Portugal, ainda não está concluído. Enquanto, as autoridades locais investigam o assunto, a Fundação Malangatana Valente Ngwenya, igualmente, prepara-se para algo concreto: “Estamos, neste momento, com a nossa equipa de advogados de cá e de lá [Portugal] a preparamo-nos para um envolvimento ao nível processual. Não gostaríamos que o caso ficasse limitado à apreensão e à divulgação da informação na media. Gostaríamos, em nome da Fundação e família, levantar um processo-crime até chegarmos ao processo cível”.
No entendimento de Mutxhini Ngwenya, mais do que o dinheiro que se perde com as falsificações, o que é grave é a desvalorização que se faz à obra do artista. “O que circula de falso tira valor àquilo que é real. Não é o primeiro caso, não há-de ser o último. Temos estado a fazer esforços no sentido de minimizar e tentar travar a falsificação. Felizmente, temos o apoio da Polícia Judiciária e da Interpol, que também tem trabalhado muito neste caso”.
A falsificação das obras de Malangatana, com efeito, não acontece apenas em Portugal, disse Mutxhini Ngwenya: “Estamos com um caso, neste momento, de um país da CPLP, em que há uma parte de artigos roubados da colecçao e a outra que é uma falsificação. Estamos a falar com uma instituição séria e esperemos que tenha um atitude à sua altura, porque o caso é grave”.
Em Moçambique, também há casos de falsificação das obras do artista de Matalana, inclusive identificados e reportados pela Fundação Malangatana Valente Ngwenya. “Do nosso lado, sente-se pouca acção. Deveria haver mais envolvimento das autoridades moçambicanas, de modo que a falsificação fosse estancada da melhor forma”.
Segundo Mutxhini Ngwenya, filho de Malangatana, as obras falsificadas têm mercado porque, muitas vezes, quem as adquiri não se preocupa em saber qual é a proveniência e nem se preocupa com a autenticação.