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Passou o tempo e a vida dos trabalhadores não melhorou

Foto: O País

Celebrou-se, hoje, o Dia Internacional do Trabalhador. A comemoração foi feita nos moldes pré-pandémicos, com direito a marchas. Passaram três anos, mas os trabalhadores ainda “choram” pela valorização e pela eliminação de contratos precários.

O Dia Internacional do Trabalhador, em Maputo, começou com a habitual deposição de flores na Praça dos Heróis. A cerimónia foi dirigida pelo Secretário-geral da Organização dos Trabalhadores de Moçambique, na presença da ministra do Trabalho.

Depositaram-se flores na cripta dos heróis que se foram, mas os que ainda estão vivos mantêm a marcha rumo a uma maior valorização da massa laboral. É sempre assim em dias semelhantes.

Para este ano, houve uma novidade: a multidão. A última vez que os trabalhadores puderam juntar-se assim foi em 2019, antes da COVID-19, pandemia que impôs limitações de circulação entre os seres humanos em todo o mundo.

Na retoma às marchas, a fila começava da zona do Cinema Scala, na esquina entre as avenidas 25 de Setembro e Samora Machel. A marcha, mais do que uma caminhada, foi a chance que diferentes trabalhadores tiveram de pedir mais e melhores oportunidades.

Por exemplo, o Fórum das Associações Moçambicanas de Pessoas com Deficiência (FAMOD) trazia em punho um dístico que “Mais oportunidades de emprego para pessoas com deficiência e menos caridade”.

O respectivo presidente, Cantol Pondja explicou que, na verdade, o que se pretende é que “as pessoas com deficiência tenham tantas oportunidades de emprego quando as pessoas sem deficiência”, isso inclui a formação.

Enquanto isso, aqueles que têm já empregos aproveitaram o dia para denunciar falta de cumprimento das obrigações, ora do patronato, ora do Estado. Estiveram lá, por exemplo, os taxistas de aplicativo que têm sido alvo de apreensões pela Polícia Municipal. Para “esta é uma situação que devia ser gerida entre o Município e o INTIC (Instituto Nacional de Tecnologias de Informação e Comunicação)”, explicou uma taxista que se fez à marcha para fazer essa reivindicação.

Os mais de 45 mil trabalhadores desfilaram a classe diante do palco montado bem à frente da estação dos CFM, na Praça dos Trabalhadores, na capital moçambicana.

Os artistas foram também à Praça dos Trabalhadores para exigir que sejam vistos como profissionais e que, por isso, merecem ser bem pagos. E, até, falam das vantagens para todos se isso acontecer. “Se formos pagos de forma devida e justa, vamos pagar impostos, vamos descontar para a segurança social e vamos alimentar as nossas famílias”, disse um artista que, logo depois, continuou com a sua corrida. É um jovem que tinha uma vestimenta que se assemelha à bata branca do sector da educação e com uma cabeleira chamada “dreads”.

São diferentes vozes que descrevem diferentes problemas. Como antes o tínhamos dito, havia três anos que não acontecia uma marcha desta magnitude. Passou o tempo, passou a COVID- 19, mas os problemas, esses, não se alteraram: os trabalhadores ainda não estão felizes.

Se em 1886, em Chicago, altura e local em que aconteceu a primeira marcha, a luta era pela redução de 16 para 8 horas de trabalho, hoje, em Maputo, mais de um século depois, as causas são outras. Por exemplo, os trabalhadores repudiam “veementemente o elevado custo de vida”, que é contrastado pelos “salários baixos que a maioria dos trabalhadores moçambicanos auferem e a precariedade do emprego”, o que “contribui para a perpetração da pobreza e da criminalidade”, disse Tomás Munguambe, secretário-geral da OTM-Central Sindical.

Dois destes sectores são os do trabalho doméstico e da segurança privada. Neles, a acção afigura-se urgente. “É urgente rever o sistema remuneratório do sector do trabalho doméstico, bem como disciplinar o sector da segurança, onde os desmandos passam do admissível numa relação laboral”.

Os trabalhadores da Função Pública também sentem direito sindical beliscado e exigem que sejam “sanadas as irregularidades da TSU a bem do funcionamento público”.

Manifestações iguais foram replicadas em outras capitais provinciais ao longo do país.

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