Esse é o posicionamento de artistas e entidades tecnológicas que actuam na área das indústrias criativas no país.
Apesar de reconhecerem benefícios proporcionados pelas tecnologias, estes entendem que persistem desafios, como a deficiente literacia em relação a plataformas digitais e falta de legislação forte que guia a venda de conteúdos culturais nas plataformas digitais.
A pandemia da COVID-19 trouxe desafios no quotidiano dos moçambicanos que vivem das artes. O recurso às tecnologias foi o refúgio para muitos artistas, que de um dia para o outro, se viram sem espaços, nem público para garantir o seu sustento.
Sheila Faiane, escritora e poetisa, defende que a situação, apesar de ser desafiadora, mostrou que é possível colocar a indústria criativa a funcionar.
“Antes da pandemia tínhamos várias plataformas de divulgação, mas com essa situação tiveram mais visibilidade. Neste contexto em que estamos, como artistas, não temos outras escolhas senão usá-las para expor o nosso trabalho. Isso está obrigar a que possamos correr atrás das oportunidades de exposição, ir atrás do nosso público para que consigamos sobreviver”, reconheceu.
Por seu turno, Vali Sauji, director-geral VS Mobile defendeu que face ao actual cenário, os artistas devem se reinventar, até porque é uma boa altura para ganhar dinheiro.
“Enquanto que antes da pandemia tínhamos uma percentagem de 5 a 10% de músicos que conseguiam fazer espectáculos todos os finais de semana e outra grande parte a fazer de forma esporádica, agora todos estão em pé de igualdade. E note-se que o que os artistas recebem por um espectáculo não é grande coisa. Hoje em dia, os artistas podem ganhar muito dinheiro. Através de uma plataforma digital pode-se colocar as músicas e a cada segundo que um internauta escuta determinada música, o artista escolhido passa a ganhar dinheiro. Isto é, contribui a que no final do mês o artista tenha um valor superior ao que ganharia se fizesse espectáculos ao vivo”, exemplificou.
E para que os artistas consigam ganhar dinheiro através da tecnologia, Alexandre Coelho, director-geral da ANIMA defendeu uma maior literacia.
“Já temos plataformas suficientes no nosso país, temos que apostar na melhoria da nossa internet e também na educação não só dos nossos artistas, mas também dos promotores de eventos e do público que usa essas plataformas. Só assim é que garantiremos que que haja maximização das oportunidades que as tecnologias estão a proporcionar a indústria neste momento de pandemia”.
Do Instituto Nacional das Indústrias Culturais e Criativas veio a garantia do Governo em apoiar e criar legislação específica para garantir com que os artistas consigam ter rendimentos neste contexto de pandemia.
“O governo tem noção que esta componente tecnológica é irreversível. O futuro é mesmo esse, que os fazedores de arte tenham nas tecnologias uma ferramenta de geração de rendimentos. Nós como INICC não vamos fugir das nossas atribuições ou obrigações, temos que fazer um esforço para que a nossa legislação vá ao encontro dos anseios dos nossos artistas. É a partir desse tipo de interações proporcionadas pela Fundaso, através da MozTech, que Governo tira ilações e consegue colmatar possíveis lacunas”, disse Ivan Bonde, director-geral daquela instituição para depois deixar uma mensagem aos artistas.
“Vezes sem conta somos nós, como Governo, a ter iniciativas para legislar. Precisamos que os nossos artistas nos pressionem. Para o efeito deve haver pesquisa é só olhar para como os outros artistas no mundo estão a viver”, terminou Para Paulo Bonde, director-geral da MUSSIKA, uma plataforma digital através da qual os artistas podem vender as suas obras, defendeu que o governo deve ser mais interventivo e criativo nesses momentos.
“Há muita informação que os fazedores de arte procuram, mas não encontram porque as entidades que podem legislar não disponibilizam informações. É possível o Instituto das Indústrias Criativas definir uma aplicação que possa facilitar um conjunto de informações que facilitem a vida dos fazedores da cultura. Informações, como por exemplo, ter o direito de propriedade intelectual, como fazer o registo de uma música etc, isso facultaria que ao invés de se dirigir ao Ministério da Cultura e Turismo, o artista entraria no site da instituição e seguiria os passos, simples quanto isso. Penso que as tecnologias existem é uma questão de lutarmos para aproveitarmos as oportunidades que elas oferecem”, concluiu.
Os intervenientes falavam no painel que discutiu Inovação e oportunidades na Indústria Criativa.