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Pacientes do HCM celebram saúde ao ritmo do Jazz

Não fosse uma visita anunciada, o Dia Internacional do Jazz, que se celebrou hoje, teria passado como tantos outros na Enfermaria de Oncologia do Hospital Central de Maputo. Graças a iniciativa da More Promotions, vários músicos, sobretudo de tenra idade, foram tocar saxofone aos pacientes daquela repartição.

Na verdade, a comitiva, igualmente constituída por diversos judocas, como Edson Madeira, chegou ao Hospital Central por volta das 15h. Poucos minutos depois, Satish Tulsidás, o médico em serviço, recebeu-os a todos de braços abertos, dando a permissão, à entrada, para que a solidariedade caminhasse, de corredor em corredor até ao encontro dos enfermos, débeis, encurralados entre a solidão das quatros paredes de um quarto. Naquele instante, Moreira Chonguiça e os Big Band entraram e seguiram o corredor à direita, que os permitiu chegar ao quarto número 1 da Oncologia. Lá estavam quatro mulheres, entre os 33 e os 60 anos de idade, tentando conversar com o silêncio. Com a excepção de uma, todas deitadas. Então Chonguiça apresentou-se às pacientes: Sara, Mílvia, Celina e Joaquina. As primeiras duas, com 33 e 35 anos respectivamente, reconheceram o saxofonista. No entanto, envergonhada, Mílvia fugiu, mas acompanhou tudo à meia distância.

Feitas as apresentações, Moreira Chonguiça começou a soprar o seu sax, tocando “in a sentimental mood”. Enquanto tocava, Sara, visivelmente abatida, com um capuchinho à cabeça, sorria como quem absorve a magia e o poder do saxofone. O sorriso deve ter espantado a doença por alguns instantes e contagiado o saxofonista, que ficou hipnotizado ao soprar. “Sentimo-nos bem com a música tocada. Gosto da música do Moreira, que o conheço de televisão. Seria bom que tivéssemos iniciativa destas todos os dias”, exprimiu-se Sara, ouvindo Mílvia a seguir, sua colega de quarto: “Gostei do gesto. A visita veio lembrar-nos que não estamos só. Agora, ficaria feliz se o Moreira voltasse aqui ao hospital e tocasse só para mim”.  

A visita prolongou-se por mais quartos, nos quais Moreira Chonguiça e More Jazz Big Band tocaram “All blues”, com o sentimento de quem sabe quanto custa perder um familiar que cedeu ao cancro: “Eu, pessoalmente, já perdi uma pessoa na família por causa de cancro e não é uma coisa bonita. Mas é importante sabermos que temos que viver com isto. Para podermos combater a doença, temos que a aceitar; para podermos vencê-la, temos que a perceber. E nós só percebemos estando presente. Esta é das coisas mais especiais que nós já fizemos”, confessou Moreira Chonguiça.

A pretensão da More Promotions é de, uma vez por mês, promover este tipo de iniciativa – explica Chonguiça –, “em que vamos visitar a quem precisa para que possamos voltar a casa e podermos levar uma mensagem boa às nossas famílias”.

Além de música, os pacientes de Oncologia ganharam um lanche da Pizza Hut.

Nas próximas três semanas, acompanhado de More Jazz Big Band e outros músicos, Moreira Chonguiça vai visitar a Escola Especial de Maputo, com o mesmo propósito. Bem dito, a visita deveria acontecer esta terça-feira, mas, devido aos exames, teve que ser adiada.
Momentos depois de comemorar o Dia Internacional do Jazz na Oncologia, os visitantes levaram “All blues” a mais cidadãos da cidade de Maputo: vendedeiras, engraxadores de sapatos e peões, afinal, segundo Moreira, “saber ser e estar não se baseia apenas em teorias de livros, a prática é importante”.

 

Moreira Chonguiça – Saxofonista/ More Promotions
"A maior forma de terapia não são só os medicamentos; a maior forma de terapia não são só as instruções médicas, mas, sim, a arte, em particular a música. Por isso a própria Direcção do Hospital foi muito receptiva em relação à nossa iniciativa. Se queremos viver numa sociedade inclusiva, devemos de dar atenção a outras pessoas que enfrentam outros desafios, neste caso, os doentes com cancro. Tocar para pacientes que precisam é realmente muito especial".

Satish Tulsidás – Médico
"Temos colaborado com o Moreira Chonguiça há alguns anos. Ele falou-nos desta iniciativa inserida no Dia Internacional do Jazz e achamos que sim, porquê não? Os doentes estão aqui internados e um bocadinho do carinho das pessoas e dos músicos, de certa maneira, põe a moral dos doentes em alta porque a música ajuda. Várias instituições têm apostado em usar a música como um efeito terapêutico e, para nós, também é uma grande valia".

Kelton Massinga – More Jaz Big Band
"Normalmente, quando vamos tocar, a emoção é maior e ficamos felizes por isso. Mas desta vez foi tudo muito diferente, a mensagem que trouxemos também foi diferente. Nós viemos à Enfermaria de Oncologia do Hospital Central de Maputo para mostrar que, através da arte, nós podemos curar. Acho que esta iniciativa é das coisas mais importantes que nós já fizemos como grupo".

Guilherme Zandamela – More Jaz Big Band
"Moveu-me vir tocar aqui no Hospital saber que se trata de uma experiência diferente. Não me lembro de ter tocado num ambiente deste tipo, numa situação delicada. Penso que é uma causa nobre incluir a arte no contexto hospital. Penso que assim podemos ajudar os doentes a reconfortarem-se. É um gesto nobre vir aqui tocar".

 

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