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Ouro olímpico completa 20 anos

Sidney, ano 2000. Após uma carreira ímpar de sucessos, em que ganhou tudo o que havia para vencer, Lurdes Mutola chegou à medalha que lhe faltava, por sinal a mais ansiada: o ouro olímpico, feito que completa 20 anos hoje. E como recordar é viver, (re)vivamos então esse feito, num dia que a nossa bandeira subiu ao mastro olímpico e o hino nacional entoado.

 

Em vésperas de terminar uma brilhante carreira de duas décadas, em que venceu praticamente tudo o que havia para ganhar, Lurdes estava perante a última oportunidade, nos Jogos Olímpicos da Austrália.

Mutola saiu dos Estados Unidos, com seis meses de antecedência, sob a pressão do “tudo-por-tudo. Apesar de veterana, tinha um rigoroso e exigente programa, tanto de adaptação ao clima, como de manutenção e melhoria da sua condição física.

São suas estas palavras:

– É triste que no desporto de competição, as pessoas só se recordem das medalhas de ouro e raramente do segundo lugar ou do terceiro. As medalhas de prata e de bronze ficam apagadas. Consegui bronze nos Jogos de Atlanta, embora estando doente. Fui à primeira eliminatória, à segunda e à final, depois fiquei gripada, mas consegui a medalha de bronze. O país esqueceu-se. A minha treinadora, já me havia dito: Lurdes podes vencer dez mundiais, mas se não ganhas uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos, vais ficar apagada.

Manhã cedo, o dia da Menina de Ouro começava com subidas e descidas numa montanha pré-escolhida, em que o “patrão” era apenas um: o cronómetro! Toda e qualquer série corrida abaixo do previsto no plano de trabalhos significava, de imediato, a repetição. À tarde o ginásio, alternando com as pistas. O cansaço poderia esperar!

A prioridade era o treinamento. Sempre, sempre, sempre. Inclusive aos fins-de-semana!

Os poucos tempos livres eram para descansar e… rezar. A fé, o lado psicológico, eram de importância extrema. Lurdes chegou a usar uma pulseira para dar sorte, que lhe foi recomendada por uma religiosa.

Em pouco mais de um minuto e meio, os sonhos de uma das mais exitosas carreiras no atletismo mundial, poderiam ser maximizados, ou passarem à história.

Apesar de ter (per)corrido com sucesso, o mundo a correr, Lurdes sentia que, em vésperas de uma carreira, em que – por analogia – passou rapidamente da escola primária para os mais elevados graus de licenciatura, no momento “D”, não poderia falhar. E não falhou, felizmente para o país e para o Continente, pois os programas, estratégias e emoções foram bem geridas.

 

O DIA “D

O tiro de partida soou. As principais rivais eram bem conhecidas. Usou a sua habitual estratégia de ficar “na boleia” durante três quartas partes da prova, para depois impôr a irresistível ponta final. Foi assim que fez soar, pela primeira vez, o hino moçambicano na maior competição planetária. O tempo? 1m56,15s.

Dias depois, já refeita das emoções, recordou:

– O meu coração moçambicano encheu-se de emoção, no compasso de milhões de compatriotas. Sabia que não corria só e que não estava a disputar apenas uma prova desportiva. Se vencesse, ajudaria os meus compatriotas a também vencerem a descrença, falta de confiança, condenação à pobreza, exclusão e isolamento.

Sobre a vitória de Mutola, a explanação do nosso poeta, Mia Couto:

– Afinal, aquela menina fez um percurso bem maior que os 800 metros da pista. Ela saiu a correr dos subúrbios de Maputo, para o centro do Mundo, fazendo hastear uma bandeira num lugar em que só as grandes nações ocupam. E o curioso é que esta ensinadora seja uma mulher, num país em que as mulheres ainda precisam de lutar para sair da sombra e do silêncio.

Lurdes sofreu imensas pressões para mudar de nacionalidade. As vantagens, não só monetárias, seriam muitas. Os americanos tiveram dificuldade em “engolir o sapo”, de um terceiro mundista recusar sistematicamente a pressão de passar a ser Made In USA. Nem as “cascas de banana” deram a volta às convicções da atleta vinda do 3.º Mundo.

Ela referiu, certo dia, que o pai, João Mutola, sempre lhe disse que o seu coração não aguentaria ver a sua querida filha ter que requerer um visto de entrada, para regressar ao Chamanculo!

 

ATLETA DO SÉCULO OU… ESQUECIDA DO SÉCULO?

A maior carreira de sucesso de um atleta no pós-Independência passou como um “meteoro”. Brilhou nos céus, foi por todos vista e idolatrada, mas rapidamente desapareceu da visão de quem tanto a adorou. Em 20 anos de carreira, ganhou o que havia para vencer. Tudo aconteceu de forma rápida na vida de Mutola. No continente, venceu os Jogos Africanos, desfilando de ouro ao peito no Egipto (91) e Harare (95). Bateu o recorde mundial de juniores e conquistou o título de campeã mundial em Estugarda, na Alemanha. Participou nas Olimpíadas de Barcelona e Los Angeles, sempre entre as primeiras colocadas, mas o ano de 2000, em Sidney, foi o da consagração pessoal e de glória para Moçambique.

Uma profusão de triunfos, a relembrar: Campeã Mundial na Alemanha; Ouro nos Africanos do Cairo; Mundial de Pista Coberta em Toronto e Lisboa, Prémio de 1 milhão de dólares como atleta mais pontuada!

Lurdes disse adeus à alta competição no mês de Agosto de 2008, nas Olimpíadas de Beijing. Para trás ficou uma carreira ímpar, em que correu o mundo… a correr! Ela detém o recorde do mundo dos 1000 metros em pista coberta e em pista aberta, recorde africano dos 1000 metros em pista aberta e o recorde africano dos 800 metros em pista aberta.

Assim sendo, Lurdes Mutola, a nossa compatriota, cabe seguramente na galeria restrita dos maiores fenómenos mundiais do atletismo. Protagonizou vários triunfos, que valeram uma imensidão de títulos. Internamente, a distinção de Atleta do Século, a par de José Magalhães e Cândido Coelho.

Porém, nesta altura, o que paira nos nossos corações, é o fantasma de… Esquecida do Século”!

 

De atleta do século a esquecida do século!

Encantos e desencatos na primeira pessoa

Foi numa palestra, há uns anos, que a Menina de Ouro disse o que lhe ia na alma. O assunto parece actual, sobretudo porque têm sido frequentes os convites para que a ex-campeã olímpica e mundial espalhe pelo mundo o seu perfume, que é o de uma das maiores atletas que o planeta conheceu. Mas essa transmissão de experiências não tem sido vivida entre nós, de forma a que os talentos nacionais recolham benefícios. Há episódios nesta explanação que nos sugerem um repensar de várias coisas, sobretudo pelo facto de irem para outros países, os benefícios da experiência de uma atleta que nasceu no Chamanculo. Foi designada – a par de Cândido Coelho e José Magalhães – a Atleta do Século. Parece agora merecer o título de “Esquecida do Século”. Na primeira pessoa, aí vai uma importante e exaltante comunicação de Mutola.

Falando de medalhas e do desporto em si, é um bocadinho triste que no desporto, aquilo que vivi durante anos, tenha sido esquecido. O meu empresário e minha treinadora diziam-me: Na alta competição, as pessoas só se recordam da medalha de ouro. É triste, mas é verdade. Raramente se recordam de um segundo, ou terceiro lugar.

Depois de alguns anos, a medalha de prata e de bronze, ficam apagadas. Digo isso, porque se esqueceram de mim, também aqui no meu país. Consegui uma medalha de bronze nos Jogos de Atlanta, embora estivesse doente, com  gripe. Fui à primeira eliminatória, à segunda e à final. Depois fiquei com gripe, mas consegui a medalha de bronze, o que não esperava. O país já se esqueceu.

SÓ O OURO É QUE BRILHA?

A minha treinadora, já me havia dito: Lurdes podes ganhar dez mundiais, mas se não ganhas o ouro, nos jogos Olímpicos, vais ficar apagada.

Sonhava com a medalha de ouro. Vivi nos Estados Unidos de América 17 anos, treinava lá, mas para a minha última Olimpíada, tivemos que mudar para a Austrália. Tive que fazer as malas para ficar lá seis meses. A minha treinadora dizia: Este ano não podemos falhar.

Tive que me dedicar muito a sério aos treinos. Sacrificar muitas coisas. Por exemplo: não dormir tarde, alimentar-me como deve ser, massagem duas vezes por semana, por causa de lesões e… treinar muito duro. Até três vezes por dia, porque a alta competição exige isso. Numa semana, de segunda a sábado, só descansava ao domingo. Acordava segunda-feira, fazia de manhã 40 minutos de longa distância. À tardinha fazia ginásio, porque sem ginásio o atleta não tem força. Ao fim da tarde, entrava na pista. Não foi fácil o que passei, como atleta. Mas, como queria chegar onde muita gente achava impossível, tentei e  consegui.

 

SEUL: PRIMEIRA ETAPA

Isso tudo levou-me até onde não esperava chegar porque fazia sem saber bem do que se tratava. Era tudo através dos amigos, mas acabei conseguindo um lugar para os Jogos Olímpicos de Seul, na Coreia do Sul. Ainda hoje guardo o “crachá”.

No regresso das Olimpíadas de 1988, ganhei uma bolsa de estudos, mas não saí do país  nesse ano. Muitos diziam que não podia ir para os EUA, porque não falava inglês, teria que ir para Portugal. Isso fez atrasar a minha saída  porque o que eu queria mesmo era ir para a América. Tinha criado uma paixão, porque aquando da Olimpíada de Seul, embora que não entendesse inglês, alguns americanos disseram-me que corri bem e que deveria ir para os EUA. Nasceu a minha primeira paixão  para ir treinar lá.

NA AMÉRICA, GRAÇAS A MARCELINO DOS SANTOS

Porém, só saí em 1991, graças a Marcelino dos Santos, que perante o atraso da minha saída, mandou-me chamar, perguntando-me para onde eu queria ir. Eu disse: EUA. Ele disse ponto final, vais para lá!

Fui então para Oregon, cidade muito pequena, mas que tem uma tradição no atletismo muito séria. É lá onde foi fundada a Nike. Tive a sorte de conhecer pessoas daquela companhia. Ali, há uma competição anual. Consegui ficar na cidade a estudar, na escola secundária.

Não foi fácil, porque corria pela escola e ninguém me conhecia. Nesse ano, havia uma competição em Nova Iorque. A minha treinadora disse: Temos uma menina que pode correr aí, mas os organizadores da competição negaram. Diziam que não me conheciam, que não tinha qualidade, nem grandes marcas.

 

PRIMEIRO GRANDE TRIUNFO

Eu já havia baixado dos dois minutos, nos 800 metros, nos treinos. Graças a Deus que os donos da Nike estavam em Oregon e mandaram-me lá para competir. Só me recordo que a minha treinadora me disse para ficar atrás, na “boleia”, para tentar tudo nos últimos 100 metros. Assim fiz e consegui a vitória.  Havia um prémio de 5 mil dólares. Negaram em  me dar o prémio porque eu era uma estudante de escola secundária. Chorei muito, mas mais tarde entendi. É que nos EUA tentam proteger os mais novos, para poderem concluir o nível secundário. Porque senão, todo o mundo que tem talento vai para o profissionalismo e a pessoa fica sem educação.

 

NO MUNDIAL DE TÓQUIO SEM EQUIPAMENTO

Passada essa fase, voltei para Oregon e continuei a treinar. Participei no meu primeiro Mundial, a representar Moçambique. Aí foi mais triste ainda. É que em 1991 saí dos EUA para o Mundial de Tóquio. Era a única moçambicana, e não tinha equipamento. Isso quer dizer que o desporto no nosso país está  sem bons dirigentes, pelo que dificilmente iremos triunfar. Digo isto porque chego a Tóquio não tenho nem equipamento e nem um dirigente a acompanhar.

A minha treinadora não entendia, porque para ela também foram os primeiros mundiais. Tive que correr com um fato de banho florescente. De Moçambique, a mensagem era sempre amanhã e havia um limite para apresentar o seu equipamento. Não consegui medalha alguma, mas bati o recorde do mundo de juniores.

A partir daí, comecei a sonhar mais alto, uma vez que vi que se consegui bater o recorde de juniores, dedicando-me mais… posso chegar lá. A minha treinadora começou a separar-me do grupo de atletas da escola, colocando os melhores de lado. Éramos 10, treinávamos  duro com ela. O meu objectivo era alcançar o título Mundial. Ela também dizia, que se me dedicasse iria conseguir.

A minha primeira medalha nos mundiais foi mesmo em Toronto, Canadá. Recordo-me de ter ficado muito emocionada, mas sonhava com  mais porque medalha de pista coberta não é considerada da mesma maneira que a de pista aberta.

Continuei a treinar duro durante 1993, antes do Mundial de Estugarda, na Alemanha. O objectivo era ser a primeira moçambicana a conseguir uma medalha de ouro. Sabia que não era fácil, porque na altura havia grandes atletas de outros países. As russas, por exemplo, correm em grupo. Havia a minha grande rival, de Cuba, a Ana Quirot e outras.

Quando fui aos jogos, estavam lá o senhor Marcelino dos Santos, e José Craveirinha. Senti-me com mais força, porque não há melhor coisa que um atleta estar num estádio, cheio de gente e saber que tem representantes. Muitos moçambicanos na Alemanha organizaram-se para apoiar. Em Estugarda consegui a medalha de ouro de pista aberta. Assim, só faltava a dos Jogos Olímpicos, que consegui mais tarde.

As medalhas não me pertencem

Os anos foram passando, conquistei muitas medalhas. Acho que essas medalhas não me pertencem. É pena, porque não temos onde as deixar, pois essas medalhas foram ganhas em nome do país.

Conforme podem ver, saí de um bairro pobre, mas rico noutras coisas. Chamanculo está no meu coração, representa aquilo que sou, levei-o  para o mundo. Consegui levar o meu bairro e Moçambique para o pódio.

Como sempre tive paixão pelo futebol, nos Jogos Africanos representei Moçambique no futebol feminino.

Também, joguei no Sundowns, da África do Sul, quando me reformei no atletismo e ganhámos o campeonato.

 

Faltam-nos dirigentes conhecedores

Temos que melhorar na direcção, porque o nosso desporto pode vir a sobressair. Agora, em Moçambique, temos pistas, mas não temos atletas. Naquela altura, não tínhamos pistas, mas tínhamos muitos atletas. Na olimpíada de Seul, só no atletismo éramos cinco. Então, como é que os moçambicanos já não conseguem fazer mínimos? Não tem explicação. Qualquer coisa está a falhar.

Moçambique é um país carinhoso de uma maneira diferente. Temos que entender que a vida do desportista moçambicano não é fácil. Há muitos obstáculos. Eu também tive dificuldades. Apanhava o “chapa” do Xipamanine para o Desportivo e voltava. Às vezes não tinha dinheiro, cortava do bairro indígena a pé. Temos que nos sacrificar.

Hoje, a vida ficou um pouco mais fácil para os nossos desportistas, mas há alguma coisa que falta. Por exemplo, no futebol, temos muitos atletas a jogar fora do país, mas quando vêm, qualquer coisa falha.

Não sei onde é que está o problema, só posso falar daquilo que eu passei. Nas escolas tem que se melhorar. Nos EUA, quando se trata de competições entre escolas, é inacreditável aquilo o que acontece, parece um campeonato mundial. Em Moçambique só temos os jogos escolares e depois não há continuidade. Não estou a falar em termos financeiros, mas de motivação. A minha treinadora trabalhou mais a minha cabeça do que as pernas.

Não adianta ser dirigente e dirigir aquilo que os outros criaram. Tem que se dirigir aquilo que a pessoas sabem. Às vezes, nas nossas Federações, a pessoa entra para dirigir modalidade que não conhece.

 

CONTINUADORES: PROJECTO POR ÁGUA ABAIXO

Costuma-se a dizer que o tempo não volta para trás. Eu tinha um projecto, no Parque dos Continuadores, porque no nosso atletismo, falta um ginásio. A Nike disponibilizado 660 mil dólares, para reabilitar o Parque dos Continuadores. Fazia ali uma piscina dos 50 metros, o edifício da Federação com um ginásio em cima. Mas, isso não foi possível. Não quero apontar o dedo a ninguém, porque, na verdade, não sei o que aconteceu. Só sei que havia dinheiro disponível. Fez-se a apresentação do projecto, depois surgiram obstáculos e acabei dizendo à Nike para cancelar tudo. Seria triste levar o dinheiro de alguém e não o aplicar no projecto.

 

DESÂNIMO
Desanimada, fiquei alguns anos fora do país, a treinar a Caster Semenya, na África do Sul.  Voltei para apoiar o atletismo, peguei no dinheiro que ganhei com Semenya, para investir no atletismo do país. Conversei com alguns dirigentes, comprei uma casa na África do Sul, que era para servir de centro de alto rendimento. Foram alguns atletas a partir do meu bolso. Só que não é fácil porque modalidade individual também é colectiva. Às vezes nós esquecemo-nos disso. Posso ser  atleta de uma modalidade individual, mas se não tenho equipa, na funciona.

 

Como tudo começou

Na altura tinha apenas 12 anos, fui aprender a nadar, no Desportivo de Maputo. E como ficava longe de Chamanculo, acabei desistindo. Comecei a jogar futebol, minha paixão. Só que não havia futebol feminino. Por isso jogava com os rapazes, no bairro.

Um dia passou um treinador, a quem chamávamos de “mister” Dias. Ele dava treinos aos iniciados do Águia D’Ouro e convidou-me. Eu disse: como vou jogar com rapazes? Ele respondeu: como jogas bem, vem treinar com os rapazes, vamos ver o que a gente faz.

 

ESTRELA… ENTRE OS RAPAZES

Comecei então a praticar futebol num clube federado, em 1988, durante um ano. Depois tive problemas, quando marquei o golo do empate contra o Ferroviário de Maputo, que  não gostou e protestou. A minha equipa  perdeu pontos e o Ferroviário avançou. Tratava-se de um jogo das semi-finais, pelo que fomos desqualificados.

 

CRAVEIRINHA  “NA JOGADA”

Foi então que o José Craveirinha viu a história, na primeira edição do Jornal Desafio. Dirigiu-se ao Chamanculo à procura da minha casa, falou com os meus pais e convenceu-os de que eu teria que mudar para o atletismo.

Na altura, eu não sabia o que é ser atleta do atletismo. O poeta levou-me à sua casa, mostro-me vídeos dos Jogos de Los Angeles e Campeonatos mundiais. Comecei a entender  do que se tratava e ele convenceu-me a praticar a modalidade.

Recordo-me que nas primeiras duas semanas, desloquei-me ao Parque dos Continuadores onde ele me apresentou ao filho, Stélio, que  era treinador do Desportivo. Nas primeiras duas semanas de treino, nunca tinha sentido tantas dores na vida. Desisti.

Porém, o falecido Craveirinha – que para mim foi um herói – voltou à minha procura e tentou convencer-me de novo, falando com os meus pais. Recordo-me das suas palavras: “miúda, agarra-te ao atletismo, que vais longe”.

Na altura não entendia do que é que se tratava. Mas ele disse que neste ano teríamos a Olimpíada da Coreia e o Africano da Zona VI, no Botswana, e que eu teria que fazer os mínimos. Assim, comecei a dedicar-me um pouco mais.

Em 1988, tive a minha primeira viagem para o Botswana, a representar Moçambique nos Jogos da Zona VI. Não sabia, na realidade, o que era a alta competição. Mesmo assim, fui escolhida. Graças a Deus, consegui a medalha de ouro, nos 800 metros.

Quando voltei, já tinha outras ideias, outros pensamentos, queria crescer. Disse para mim: tenho que chegar aos Jogos Olímpicos, mas como, se não tenho mínimos?

A partir dessa altura, comecei a treinar muito a sério. Recordo-me que o Stélio, que foi o meu primeiro treinador, puxou por mim. Mesmo assim, eu fazia também treinos secretos, isto é, treinava no Parque dos Continuadores e nos dias em que não ia ao Parque, exercitava-me com as minhas amigas. Saíamos do Chamanculo até à Toyota, Bairro Fajardo e voltávamos para o Chamanculo.

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