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Os autocarros da “Matchedje”

Esta semana, o jornal “Notícias” publicou uma reportagem dando conta de que a fábrica de montagem de veículos automóveis “Matchedje”, sediada na Matola, está sem mercado e em vias de fechar, pois os consumidores preferem importar viaturas a comprar aquela marca nacional.

A fábrica “Matchedje” foi inaugurada há apenas três anos pelo então Presidente Guebuza e, como foi dito na altura, ela é resultado da implementação da política nacional de industrialização ,que prevê a criação de um modelo de desenvolvimento industrial eminentemente moçambicano.

Entre outros, esta fábrica tinha o objectivo de reduzir a importação de viaturas ao país e alegrar a nossa auto-estima como moçambicanos.

Para alicerçar aquilo que parecia um cometimento genuíno do governo com o que apregoava, um ano após a sua inauguração, a fábrica recebeu o selo “Made in Mozambique”, do Ministério da Indústria e Comércio, para deixar inequívoco que esta é uma marca moçambicana e reforçar o lema “Produza, consuma e exporte moçambicano”.

Três anos volvidos, não se vislumbra que esteja em curso nem um modelo de desenvolvimento industrial endógeno ao qual a fábrica esteja ligada nem reduzimos a importação de viaturas por passar a comprar as fabricadas localmente e muito menos, pelo que se vê, há na actual situação da “Matchedje” motivos de nos enchermos de auto-estima. Antes pelo contrário.

Poderíamos dizer que os gestores da “Matchedje” não calcularam devidamente o risco que representa o nosso mercado e contaram com um conjunto irrealista de premissas, que não se concretizou. Mas um Estado que queira induzir o consumo do produto nacional, tem ele próprio que assumir a iniciativa. Afinal, o nosso Estado ainda é o principal agente na nossa economia.

Ora, neste caso, vemos as mesmas pessoas que clamam por investimento para o País a desvalorizarem-no, quando este chega, porque é mais importante assegurar os seus interesses que os do Estado.

Por isso que, estranhamente, nada mudou na política de aquisições do Estado, no tocante a viaturas, apesar de termos ido mobilizar um investidor para “torrar” 150 milhões de dólares numa fábrica que sabíamos que não lhe ligaríamos nenhuma.

A apetência de quem toma decisões no procurement do Estado continuam a ser os mercedes e outras marcas estrangeiras, porque os slogans de auto-estima, made in Mozambique, são apenas para debitar em discursos oficiais.

Outrossim, a fábrica Matchedje foi anunciada, na inauguração feita pelo Presidente Guebuza, há três anos, como fabricante de autocarros de transporte de passageiros a preços mais competitivos, em meticais, e com toda a assistência técnica, mas precisamente esta semana, a vice-ministra dos Transportes e Comunicações anunciou a importação de cerca de 300 autocarros, o primeiro lote dos quais é esperado este mês de Novembro.

Estranho, não é, quando se tem uma fábrica, no nosso próprio país, que o próprio Governo nos disse que fabricava autocarros.

Daqui a mais ou menos um ano, estaremos aqui a discutir, como se viu na recente visita do Presidente da República aos TPM, que muitos destes 300 autocarros estão parados por falta de acessórios no mercado. Aliás, nos últimos três anos, o Governo, sem exagero, importou cerca de 400/500 autocarros para as principais cidades do país. Parte significativa deles está parada e não deve ter circulado mais do que dois anos.

Dá para entender?

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