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O hino carnal que Raffael Inguane escreveu a Afrodite

Raffael Inguane ou simplesmente Piripiri Sakana lançou em Setembro do ano passado, um verdadeiro hino carnal de celebração a Afrodite. Trata-se dum hino que quando condensado e lido sem nenhuma respiração vira um livro; o hino em forma de livro, Raffa, chamou-o de “Sexo & Grafia”.

“Sexo & Grafia” constitui um refinamento a nível estético, sexual e de prazer de um poeta que se estreou em 2013 com “Cartas Para Uma Cabocla”. Depois de se ler o livro de Raffa pode-se ficar com a impressão de que ele tem um olhar prazerosamente sexual e esteticamente movido por uma tendência erótica elevada ao infinito. Ter-se essa impressão depois de se ler esse livro é um puro engano dos sentidos ou sentimentos. O erro de interpretação é mais insensato quando ocorre nos sentimentos. Aliás, os sentimentos nunca precisaram de interpretações; senti-los é tudo.

“Sexo & Grafia” é um inventário onde não há espaço para impressões e tendências. É um livro nu que caminha nas ruas das suas próprias páginas sem esconder a mínima parte íntima da escrita. É um livro que conjuga o prazer, o sexo, a poeticidade bem medida, o erotismo que incha de desejos cada página e tudo isso é consumado por um instinto profundo de amor que o autor possui pelas mulheres.

“A loucura é um empréstimo de liberdade” diz ele numa das estrofes desse hino. Talvez essa devia ser a citação de abertura do livro; a fechadura, da primeira página, onde o leitor meteria a chave do seu dedo indicador, bem molhado de saliva, e abrir o livro. A loucura. Voltemos a Erasmo de Rotterdam e recordemo-nos do que ele nos disse em “Moriae Encomium” (Elogio da Loucura); para Erasmo a loucura é um bem da sociedade. A sociedade vive em constantes enganos recíprocos porque pouco troca o calmante mel da loucura. E Raffa assim pensa, por isso vê a loucura como um empréstimo. E sendo um empréstimo prefere geri-lo através da economia do verso e cambiando-o constantemente pela moeda do prazer carnal e nocturno. Os loucos são os animais mais felizes.

Recordo-me que aquando do lançamento do livro fui convidado para apresentá-lo ao público, todavia tive uma loucura insuficiente para participar por conta de alguns desprazeres sociais e pessoais. Mas, confesso, neste instante, que a cada dia que leio o livro dá-me a impressão de estar a apresentá-lo a um público muito extenso: eu e eu.

“Sexo & Grafia” é um verdadeiro hino carnal de celebração a Afrodite. Afrodite! Aquela deusa que os romanos roubaram dos gregos e chamaram-na de Vénus. Afrodite era a deusa do amor, do sexo e uma das mais poderosas divindades do Olimpo. A deusa que amenizava os corações dos homens e, também, enlouquecia-os sempre. Versos como “hoje eu quero aumentar lenha no teu fogo” ou “adubar-te com beijos e amassar-te toda” mostram-nos que Raffa tece em cada página do seu livro um hino carnal e conciso a Afrodite. Raffa na primeira parte do livro (Sexo) mostra-nos que não é amigo da sensatez sexual e na segunda (Grafia) não esconde que é padroeiro dos amantes. Eis um outro traço que nos mostra que Raffa se inspirou, como aqueles poetas, pintores e escultores antigos, na Afrodite. Afrodite era conhecida por ser amiga dos amantes, mas inimiga da sensatez.

As pinturas que acompanham o hino servem de bandeiras gemidos. São pinturas que se içam e levantam em cada poema. “Sexo & Grafia” é um hino a Afrodite porque procura em cada página mergulhar na doçura dos apaixonados, destapar a languidez dos desejos e despir o idílio da entrega dos copros. Para entoar esse hino, a Afrodite, é preciso estar com a alma possuída por “moria”, a loucura extrema dos gregos antigos porque esse cântico constitui um com comércio triangular dos “S”: sexo – sociedade – simplicidade.

 

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