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O espectáculo perfeito de Gran’Mah

Terminou o concerto. À saída da Sala Grande, um som intermitente: “Wake up, wake up, tomorrow is another day”. É um dos coros da terceira música de Perfect plan, e das que no Franco-Moçambicano mais mexeu com os expectadores. No disco, o tema dura três minutos e trinta segundos. Levou mais tempo ao vivo, e, nem sequer por isso, ficou facilmente nas cabeças daquelas pessoas que até às 17h30 do dia do espectáculo haviam esgotado os ingressos.

Embora “Wake up” seja a terceira música do novo álbum de Gran’Mah, no espectáculo de lançamento do mesmo, sexta-feira à noite, foi a 10ª a ser tocada. Antes, como que endiabrados, num show intenso, o “people” já havia se entusiasmado ao som de “Gran’Mah band”, “Aurora lights”, “New years” e “Índico”, essencialmente, a única da banda em português.

Sempre com Regina dos Santos como vocalista, Leo Fernandes (baixo), Luís Silva (guitarra), Miguel Marques (teclado), Miguel Wilson (baterista), Ricardo Conceição (saxofone) e, igualmente, Tégui nos coros e Nemias e Arcénio nos trompetes, mais do que apresentar o seu segundo álbum, Gran’Mah, demonstrou a sua evolução performativa e criativa.

Desde o princípio, o público sempre esteve expectante e insaciável, reagindo aos “beats” de pé a maior parte do espectáculo, ora dançando, ora eles próprios armando-se altos cantores que afinal não deixaram de ser.

A propósito de bons cantores, Nelson Nhachungue, um tanto ou quanto desaparecido dos palcos, todavia sempre com aquele “sweeg” que lhe caracteriza já desde os tempos do Fama, demonstrou ser ainda um “menino fofinho”, agora com uns músculos mais destacados. Não obstante, o que mais chamou atenção e protagonizou um dos momentos interessantes do espectáculo foi o seu dueto com Regina ao som de “Dont wanna wait”. O evento ia ao meio e parecia que não iria terminar. “ – Bis, bis, bis”. Ouviu-se algumas pessoas gritarem. A primeira vez a líder da banda ignorou ou não ouviu. A partir daí o pedido repetiu-se mais vezes, ao fim de cada tema interpretado. Regina finalmente quis perceber: “Afinal esse bis é de quê?”. Sem resposta, ela própria e muitos dos que se encontravam próximos do palco soltaram breves gargalhadas”.

O show estava bom, ao estilo de amigos para amigos. A música, a luz, o cenário e o ambiente, portanto, “nos trinques”, como diriam os brasileiros. Logo, quase não se compreendeu o que sucedeu a seguir. De repetente, um grito: “Injustiça, injustiça!”. A voz estridente era de Miguel Wilson, o baterista da banda. “Mas que raio de injustiça vinha a ser aquela?”. Alguns semblantes transpareceram essa pergunta. Então os instrumentos recomeçaram a tocar. Regina dos Santos colou o timbre no microfone. Percebeu-se. “Injustiça”, na verdade, não era bem, bem “injustiça”, mas “Injustice”, o título da oitava música do álbum, que retrata essa temática recorrente.

Com efeito, depois de “injustice” ouviu-se “Perfect plan”, a música que igualmente intitula o disco. Passados alguns minutos, a banda recolheu-se, nesse “classic” de fingir o fim do concerto. Ou seja, Gran’Mah fingiu despedir-se de todos e o público que não é tolo fingiu acreditar. Eunice Andrade, a mestre de cerimónia, entrou em cena e ajudou a pintar de verdade toda aquela “mentirinha”. Aí, numa só voz, todos gritaram pelo regresso da banda. Os rapazes voltaram recompensados e tocaram mais algumas músicas: “Never enough”, “Sing about you” e “Injustice”.

Com a justiça feita, aí, sim, Gran’Mah recolheu-se a sério, para mais tarde assinar autógrafos aos discos comprados e deixar-se fotografar. “ – hi, ya, valeu ter vindo ver este espectáculo. Foi nice!”, afirmou Ângela Carneiro, fã da banda que voou de Manica para Maputo, especialmente para ver a apresentação de Perfect plan. E pronto. A ecoar em algum lugar de Moçambique, esse coro: “Wake up, wake up, tomorrow is another day”.

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