Por M.P.Bonde
Que trégua me aguarda neste universo em declínio; as sombras adulam o escuro, a fome serpenteia o coração das manhãs com o sono vergado ao esquecimento; vamos às urnas com pedras escondidas, em páginas amarelecidas, dentro da algibeira; ou dito de outro modo, estar no cume do poleiro é cartar com púcaros a última réstia de esperança ao porto seguro?
Que projecto nos encanta, desencanta ou descasca um mundo em constante revisionismo; a polarização do debate é nivelado por baixo, qual conversa de comadres, vislumbrando a linha que nos separa da Xefina, na apanha do caniço!
Peço tréguas a este coração sem ritmo! A pulsação do verso adormece nos batimentos de outrora; o amor esfumou-se ladeira abaixo; o brilho dos primórdios da luta se desespera com o fervor do imediatismo; tanta parra e a uva, quase vulva, continua distante!
Desligo-me desta atmosfera quase febril; aporto por instante na ilha estuprada a mais de 50 anos; de mansinho a voz angelical de Yilian Cañizares derrete meu estado lastimável; um regalo este hino a pureza das alma;
Deste lado da barricada, ouve-se, entre os portões da avenida, o chiar da mágoa; e as facas? afiadas no desdém dos lábios secos, o embuste é um rio que salga a memória; não espero nada para além do comodismo!
Como disse o mestre: dedico a você o meu silêncio.
Não fazer nada é uma arte nos dias que correm; Promete-se rios e mundos e a casa vai caindo aos pedaços, com a luz da palavra esventrada no sótão do passado. Vamos as tréguas; beba-se o cálice deste vinho ensanguentado com o dever aquartelado em páginas sem poesia; eleita é a escrita no seu devaneio; órfã de beijos e abraços flutua sobre índico o alfinete da ironia; Quase cinquentenária a literatura orbita no vazio de um país adiado! Que lupa a noite esconde? Neste alguidar de sonhos, a produção literária não é acompanhada pela efervescência de uma agremiação engajada com os seus cultores, uma apatia quase mórbida, um lufa-lufa de tachos entre o passado e o presente.
O que nos aguarda o frenesim do voto no jardim dos escribas? A linha abissal será aberta no fim deste retiro? No soalho deste andar vislumbro a jangada descendo a embocadura do Índico em direcção a parte nenhuma.
Como se cobram as promessas escribas? A união chegou ou vamos empurrar o texto com a barriga?
Este é um tempo de urgências, um tempo sem tempo; a sabor da espera foi aprisionado na borda no níquel que separa a sensatez do desvario; Qual é o papel do escriba em tempo de incertezas? Assobiar para o lado, pendurar a pena ou escavar no vulcão em erupção a essência do seu valor?
Quão ingénuo é o candidato inocente! Quem sabe que o mistério é o maior aliado não se expõe num ninho de vespas.