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O advento de uma nova era: Salomé é uma bênção para o Khosa

Ungulani Ba Ka Khosa teve um presente de natal fora de órbitra, em Dezembro de 1998. Numa altura difícil da sua vida, oescritor conheceu Salomé de Sousa Pinto. Num ápice, amor a primeira vista. Graças a Salomé, o escritor reencontrou-se e continuou a sorrir para a vida. Salomé é o pilar do lar de Ungulani. Com o suporte da mulher, o escritor continua a desempenhar o papel de bom pai, marido e avô que é. 
Na Salomé, Chico tem, não apenas uma esposa, mas uma musa, amiga e cúmplice de todas as coisas. Nela, as leitoras de Ungulani têm uma razão para serem invejosas, não fosse Salomé a primeira leitora, revisora e crítica dos livros do escritor. Por isso, não poderia deixar de ter um livro de eleição: “Entre memórias silenciadas”, que bem recupera a narrativa de “Fragmentos de um diário”, de “Orgia dos loucos”, o livro que mais marca Khosa. 
A esposa de Ungulani vive os livros antes de serem escritos e tem a responsabilidade de gerar o ambiente para que existam. Assim foi, por exemplo, com “Os sobreviventes da noite”, escrito quando o casal encontrava-se num retiro, na Moamba. Mas esse não é a única circunstância em que o maridão de Salomé cria: “o Chico escreve em qualquer ambiente. “É incrível! Para ele não importa se há barulho, multidão ou silêncio. Escreve à vontade”, admira a esposa, lembrando que, nos tempos em que ela cursava Direito, juntos acordavam à madrugada para cada um exercer a sua actividade. Ela cedia à falta de concentração. Então, ao invés de estudar, ficava ali, olhando o marido escrever afincadamente. Falando apenas quando oportuno, apenas para responder a alguma pergunta que permitisse a tinta da pena do autor deslizar. 
Como marido, Ungulani é um sujeito tranquilo, atencioso, carinhoso. Salomé não se lembra de, em nenhum momento, terem-se aborrecido com seriedade. Estão juntos há 19 anos e, de mãos dadas, vão cumprindo os deveres paternais e de avôs com a dedicação de sempre.
Olhando para trás, Salomé não hesita, assume que valeu a pena ter-se deixado conquistar porque Ungulani é um homem maravilhoso. Então, um desejo: “continues sendo esse maridão, amigão, que eu amo-te muito e tu sabes bem disso”. E como sabe, por isso o escritor é adolescente quando o assunto é o seu amor. Aos 60 anos, Chico passeia com a esposa por tudo quanto é lado. Salomé é a asa de um escritor livre, desinibido, corajoso, determinado, mas frágil nos assuntos que dizem respeito ao coração. 
Mas porque a vida não é apenas feita de momentos felizes, nove anos depois de se juntarem, Salomé sentiu o medo e a angústia a abraçar-lhe intensamente. O seu Chico, forte como um touro, foi diagnosticado um cancro. O assunto era grave. As lágrimas teimavam em jorrar a catadupas. De urgência, Salomé e o cunhado Elias, irmão mais velho de Ungulani, levaram o escritor a África do Sul, onde deveria ser operado. Antes disso, o médico foi claro: “vamos operar, mas há 70% dele perder a língua e 30% de a operação dar certo. Na verdade a operação não foi necessária, ficou-se pelos tratamentos fortes de quimioterapia e radioterapia. Esse foi o único momento da vida que Ungulani quase desistiu. Mas um Khosa é teimoso. Voltou a erguer-se, graças a Deus e ao sucesso dos tratamentos. Mas havia uma contrapartida: o escritor já não devia consumir álcool nem tabaco como se tivesse 30 anos. Nada de terrível, afinal, ainda podia dizer que te amo, Salomé. 
 

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