O Presidente da República confirmou, esta quinta-feira, que manteve uma conversa com o candidato presidencial Venâncio Mondlane, sobre a situação política que caracteriza o país. Filipe Nyusi não revelou detalhes, mas garantiu o compromisso com a paz.
O Presidente da República falou ontem à Nação, por ocasião das festas do Natal e fim de ano, mas a actual situação política do país esteve em destaque. Nyusi pediu calma aos moçambicanos até à validação dos resultados eleitorais pelo Conselho Constitucional e destacou a importância do diálogo para a resolução dos problemas que afectam o país.
“A violência, o ódio e a destruição nunca darão emprego, oportunidades, riqueza, progresso ou bem-estar a nenhum moçambicano. Não nos vão tirar da pobreza. Pelo contrário, aumentarão a nossa penúria com a diferença de distribuí-la por todos, incluindo os protagonistas da desordem e do caos. O esforço deve ser no sentido de expandir este impacto e as oportunidades para todos, mesmo assumindo que essa expansão deve ser célere. Não devemos nunca alimentar a ilusão de que vai ocorrer de noite para o dia e com base numa varinha mágica”, disse Nyusi.
O Chefe do Estado não deixou de exortar todos os moçambicanos a terem a responsabilidade de impedir que Moçambique seja uma sociedade com desigualdades sociais. “Para tal, precisamos antes, porém sem promoção da instabilidade, de definir de forma inclusiva o país que queremos, numa perspectiva de paz e estabilidade.”
O facto é que, para Filipe Nyusi, o momento que se vive tem motivações derivadas dos resultados das eleições. “Inquieta-nos que o processo de escolha dos nossos dirigentes tenha sido transformado num pretexto para induzir e exacerbar tensões sociais e actos violentos que causaram lutos nas famílias moçambicanas, e qualquer luto não tem explicação. Ninguém pode ter razão por ter infringido um luto, mas também destruições com um impacto muito negativo para a economia”.
Uma das formas de procurar soluções para esta crise pós-eleitoral é manter encontros com diferentes segmentos da sociedade, entre políticos, religiosos e a sociedade civil. Nyusi revelou que vários grupos foram unânimes em condenar a violência que caracteriza o período pós-eleitoral.
“Nas últimas semanas, temos mantido vários encontros de diálogo social com diferentes segmentos da nossa sociedade, e todos são unânimes em condenar e repudiar a violência pós-eleitoral. Temos estado a procurar diferentes intervenientes apelando à tolerância e à convivência harmoniosa entre os moçambicanos. Temos sentido clamor por uma sociedade mais serena, pacífica e dialogante, que proporcione oportunidades a todos, um sistema eleitoral menos suscetível de gerar tensões. Por isso, temos vindo a apelar a todos os concorrentes, intervenientes e apoiantes da sociedade em geral para manter a calma e aguardar a validação dos resultados das recentes eleições pelos órgãos competentes, mas sabendo que se trata de uma disputa em que os vencedores nunca são todos”, destacou Nyusi.
Um desses intervenientes na busca de soluções com o qual Filipe Nyusi manteve contacto é Venâncio Mondlane. “Como forma de materializar este compromisso, cuja solução não é padronizada (…), por minha iniciativa, entrei em contacto com Venâncio Mondlane, candidato a Presidente da República, assim como os de outros partidos. A conversa com o candidato Venâncio Mondlane foi serena e levou muito tempo, mais de uma hora. E, pelo grau de responsabilidade que quero manter, não quero comentar etapas”, revelou Nyusi, prometendo ainda que “irei continuar com este tipo de diálogo, respeitando a privacidade de cada um, com toda a responsabilidade e não só, com muitas sensibilidades, e todos aqueles que são determinantes neste processo”.
Filipe Nyusi prometeu ainda respeitar a Constituição da República, e deixou claro que “em Janeiro de 2025, deixo o poder. Então, as narrativas só confundem a população. Hoje vamos trabalhar. Tenho estado a trabalhar pela paz, e focado em cada momento”.
Por isso mesmo, Filipe Nyusi aproveitou a ocasião para reafirmar que não pretende ficar mais tempo no poder. “Sempre disse que não tenho nenhuma intenção de permanecer no poder e muito menos de fazer o terceiro mandato, como queriam insistir”, garantiu.
Nyusi garantiu, também, que não vai declarar Estado de Emergência para continuar no poder. Por isso, “os moçambicanos podem ficar confiantes e tranquilos”.
“O meu compromisso é com a paz, e humildemente tenho tentado dar o meu melhor para que a paz permaneça”, disse.
O Presidente falou, outrossim, das principais realizações durante os 10 anos da sua governação, com destaque para a asfaltagem de algumas estradas, a gestão da pandemia da COVID-19, bem como dos eventos climáticos extremos que afectaram algumas províncias do país.
“Vale a pena recordar que assumimos os destinos da nação com eventos climáticos extremos, assim como está a acontecer agora, caracterizados por chuvas fortes no Centro e no Norte e uma seca severa no Sul do país, com consequências enormes na vida e nas infra-estruturas socioeconómicas. Esses eventos climáticos extremos repetiram-se a cada ano da nossa governação, sendo os ciclones Dinéu, Idai, Guambe, Freddy e, mais tarde, o Filipo, assim como o mais recente ciclone tropical Chido, os mais severos”, recordou.
A eleição, por unanimidade, de Moçambique como membro não-permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas também foi destaque no discurso do Chefe do Estado.
Foi declarado um luto nacional de dois dias pelas vítimas mortais do ciclone Chido, no Norte do país, assim como o indulto a 1119 condenados em todo o país. Na ocasião, Filipe Nyusi deixou ficar alguns números relacionados com esta calamidade.
“O ciclone Chido provocou perda de vidas humanas, provocou ferimentos, destruiu infra-estruturas diversas, provocou erosão, destruiu campos agrícolas. Os apelos que antecederam a tempestade tropical minimizaram os danos. Contudo, até ao momento, há registo de 65 282 famílias afectadas, abrangendo 329 510 pessoas, das quais 543 ficaram feridas, e lamentamos a perda de 73 compatriotas, até ao momento, que perderam a vida devido ao ciclone. Por outro lado, é de lamentar que haja uma pessoa desaparecida. Em termos de infra-estruturas sociais, ficaram afectadas 52 476 casas, sendo que, destas, 39 133 ficaram totalmente destruídas, 561 salas de aula danificadas e 167 escolas, o que irá prejudicar 35 460 alunos, esses assistidos por 666 professores. Tivemos, também, a destruição de 49 unidades sanitárias, 34 edifícios públicos, entre outras”, explicou.
Ainda assim, deu garantias de que as equipas do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) se fizeram ao terreno com alguma antecipação e estão a prestar todo o apoio necessário. “É mais uma tragédia que nos atacou, por isso as minhas preces e sentimentos voltam a estar desta vez com as famílias afectadas nas províncias de Cabo Delgado e Nampula e todos os que indirectamente sofreram por esta calamidade”, frisou o Chefe do Estado.
Filipe Nyusi terminou a comunicação desejando festas felizes e dizendo que foi um privilégio servir aos moçambicanos ao longo dos 10 anos da sua governação.