Hoje é o último dia de Jimmy Dludlu em palcos brasileiros, concretamente em São Paulo. O guitarrista tem até Julho do próximo ano para mostrar ao mundo tudo que “bebeu” dos quadrantes por onde passou. A caminhada ainda é longa, mas se fosse hoje o fim da digressão mundial diríamos que foi fenomenal.
Os brasileiros não acreditaram no que viram. Os moçambicanos residentes no Brasil pedem por mais espectáculos, pois não há forma mais ideal de se reconciliarem com o seu país e abafarem a nostalgia. É que “In the Groove” – o álbum que está na sua mala de viagem – faz uma clara incursão pelos ritmos moçambicanos e, consequentemente, pelo nosso ser identitário. “Ha deva”, “Masseve”, “Saul”, “Waretwa” e “Mutumbelelwana” confirmam a riqueza dos valores locais e a consciência de partilha pelo mundo das “nossas verdades”.
Foi o que se viu em concertos que, com certeza, a memória brasileira não irá deixar morrer. Aliás, o artista não só tocou, o que melhor sabe fazer, como também concedeu entrevistas, a destacar um dos maiores jornais de São Paulo: Estadão.
O “Estadão” chama Jimmy de “George Benson africano” e diz ser “especialista com uma rara visão, de dentro e de fora”. Ainda bem que os brasileiros perceberam isso. Seria doloroso para nós (os moçambicanos) se as qualidades deste artista passassem ao lado da crítica brasileira. O jornal disse mais, numa entrevista que aconteceu antes do penúltimo espectáculo do artista, no Festival Jazz na Fábrica, do Sesc Pompeia: “É precioso poder conhecer um homem de carga musical fora dos padrões do que se aprende a ouvir como jazz. Sua guitarra não é isolada. A vivência pelos Estados Unidos lhe deu o sotaque de George Benson em improvisos do instrumento dobrados pela voz, mas as semelhanças não vão muito além. Dludlu canta quase sempre em um dos 11 dialetos que sabe falar (feito normal para os povos daquelas regiões) e faz incursões por ritmos africanos contagiantes”.
É pela primeira vez no Brasil, mas a sua guitarra parecia já conhecer aquele público. A sintonia foi visível! As suas cordas não só exploraram o seu mais recente álbum, o grande propósito desta digressão, como também revisitaram outras criações.
O jornal O País teve acesso às imagens do terceiro espectáculo, que se realizou ontem, no Bauru. Tal como é a sua marca, o “monstro do jazz”, em algum momento do concerto, desceu à plateia com a sua fiel guitarra como se fosse uma criança ao colo. O artista não continuou “jazzando”. Fez o que aquele público mais aplaude: sambou. Sim, Dludlu colocou toda a sua banda a tocar samba. E os brasileiros, encantados, aplaudiram vivamente.
Este, tal como os outros concertos, tiveram lotação esgotada 15 dias antes, feito jamais registado por um artista moçambicano naquele país. Os brasileiros não só foram em massa como também ficaram maravilhados com a sua performance.
Um casal de espectadores disse ter gostado muito do espectáculo e que até dá vontade de conhecer Moçambique. A outra espectadora brasileira disse ter-se arrepiado com a apresentação; elogiou a performance no palco, a sintonia com a plateia e pediu que Dludlu voltasse mais vezes pois deixou uma boa impressão.
Já os moçambicanos residentes em São Paulo disseram ter-se sentido em casa ao ver o concerto. Eles também rogam que Jimmy Dludlu não leve mais 30 anos de carreira para ir novamente ao Brasil.
É caso para dizer que o perfume do jazz moçambicano já se espalhou pelo brasil.