O segundo romance de Bento Baloi é intitulado No verso da cicatriz e chega às livrarias moçambicanas e portuguesas esta quinta-feira. O livro que recupera um passado particular da história de Moçambique poderá ser lançado na Feira do Livro de Lisboa.
Os pássaros rasgam os ares de regresso aos seus ninhos. A brisa forte tinge-se do avermelhado da areia. As paredes outrora brancas das casotas pré-fabricadas que corporizam a pacata estação dos caminhos de ferro reclamam pintura. Este é o primeiro parágrafo do novo romance de Bento Baloi. Evidentemente, nesse excerto não se nota que há aí uma história de amor a convocar tantas outras narrativas reais e fictícias sobre Moçambique. Esse apenas é um start, diriam alguns, como se a ficção tivesse uma ignição capaz de colocar o motor a funcionar. Seja como for, um start é um princípio e é a partir daí que o romance No verso da cicatriz vai buscar ao passado fragmentos que de uma memória colectiva que não se devem perder no tempo.
No verso da cicatriz é um livro constituído por 321 páginas, escrito e amadurecido ao longo de vários anos. O autor descreve-o como uma viagem emotiva, de paixões, de perseverança, de luta e de dor, que, com efeito, procura trazer um pouco da História de Moçambique. Assim, o enredo situa-se, em termos temporais, nos primeiros anos da independência nacional. Simultaneamente, No verso da cicatriz é uma história de amor e que retrata esse diálogo com acontecimentos sociais, económicos e até políticos que caracterizam o país recém-nascido.
Quanto ao espaço, ao contrário do que acontece nas primeiras obras literárias de Bento Baloi, neste seu novo romance a zona rural é o lugar de eleição de uma narrativa intensa e profunda. É como disse o escritor, esta quarta-feira, durante a conferência de imprensa realizada no Centro Cultural Brasil-Moçambique, na Cidade de Maputo: “O livro é o corolário de um trabalho intenso, de muitos anos”. Finalmente ficou pronto, graças ao trabalho coordenado de duas editoras: a Índico, de Moçambique, e a Alêtheia, de Portugal. Por isso mesmo, o terceiro livro de Bento Baloi chega às livrarias moçambicanas e portuguesas simultaneamente, a partir desta quinta-feira. Apenas às livrarias, porque a cerimónia de lançamento terá de ser reprogramada.
Na verdade, a cerimónia de lançamento com presença do público está prevista para acontecer no fim deste mês ou no início de Setembro. Como tem sido hábito, nos últimos tempos, tudo dependerá do relaxamento ou não das medidas de prevenção contra a COVID-19. Se as condições forem favoráveis, Bento Baloi vai viajar para Península Ibérica e participar na cerimónia de lançamento do romance na Feira do Livro de Lisboa, na segunda semana do próximo mês. Enquanto isso não acontece, e porque o futuro nunca foi tão incerto, os leitores já o podem ler.
No verso da cicatriz possui três livros. Sim, três livros. Se preferir, três secções, designadamente: a ferida, o sangue e a cicatriz. São estas as palavras que, em parte, resumem a história de amor mergulhada na guerra e em toda uma atmosfera hostil.
No verso da cicatriz é um romance que resgata e reconstrói perspectivas da realidade moçambicana com os olhos – se bem que um romance tem olhos – postos numa ideia de futuro. E porque é justo que o leitor tenha mais uma ideia sobre este livro com dois narradores, este artigo termina praticamente como começou, com um excerto do romance: Nelson e Sofia atravessam os atalhos de Carico num silêncio cúmplice que disfarça a violação do trato acabado de celebrar. Ambos não param de sonhar. A nuvem branca que ora esconde o luar, ora deixa que a lua resplandeça incendiando os céus, leva Sofia a sonhar com um vestido cor de algodão com uma cauda tão longa quanto o tempo que dura o seu amor por Nelson. Ela não tira o olhar dos céus, deixando que o brilho do véu que se forma nas nuvens se reflicta numa retina cheia de amor para dar.