O professor universitário Elísio Macamo lançou, esta sexta-feira, na UP-Maputo, o livro Fazer as coisas com a cabeça. Ao longo da cerimónia, o autor defendeu que nenhuma causa pode ser nobre se para a sua materialização tiver que violar direitos dos outros, referindo-se às incidências da vida social e política em Moçambique
Entre 1982 e 1984, Elísio Macamo estudou no Instituto de Línguas. Nessa altura, as aulas eram leccionadas na actual instalação da Universidade Pedagogica de Maputo (UP-Maputo), no Campus do Museu. Entre memórias e emoções, nesta sexta-feira, o sociólogo voltou a “casa” para lançar o seu mais recente livro, Fazer as coisas com a cabeça, editado pela Ethale Publishing.
Durante a sessão, o sociólogo teve a oportunidade de se referir ao seu novo livro, às suas motivações e de conversar com o público, sobretudo estudantil, que esteve na Biblioteca Central da UP-Maputo.
Entre vários assuntos tratados, e respondendo a perguntas colocadas pelo moderador da sessão, Duarte Amaral, e pelo auditório, Macamo falou de tudo um pouco: de livros, do tempo, do espaço, da vida universitária e de Moçambique.
Ao pensar o país, o académico não ignorou o actual contexto social e político, tendo dito que uma das formas mais seguras de validar o que se pensa saber é através da ciência. Para o autor, na ciência não é válida a percepção de que se deve reger pelo modelo democrático, ou seja, o que a maioria decide é o que está correcto. Não. A ciência, lembrou, faz-se valer de acordo com os seus próprios critérios.
Ainda sobre a democracia, Elísio Macamo afirmou que há muita gente que pensa que o bem-estar, numa sociedade democrática, decorre apenas da aprovação de uma constituição. No entanto, é sempre necessário lutar-se pelos direitos constitucionais, pois nada, em política, é dado de bandeja. “O problema é que isso traz outro problema, da resposta da violência contra a violência. Mas os países mais estáveis são os que mudaram o seu sistema político de forma pacífica. Por isso eu sou mais pela reforma e pela via pacífica, porque nenhuma causa pode ser nobre se para sua materialização tiver que violar direitos dos outros. Por isso nunca estaria a favor da violência para alterar o sistema político”, garantiu.
No entendimento de Macamo, “uma sociedade morre, quando não se preocupa em debater os métodos das questões”. Até porque no país, disse, articula-se muito a opinião de uma pessoa com a pessoa. “Temos dificuldade de separar o que a pessoa está a dizer com quem é”. E a certa altura da conversa, reforçou: “é sensato que se procure compreender como se pode pensar o país de maneira que se limite os danos das pessoas que cometem erros”.
O livro Fazer as coisas com a cabeça, de Elisio Macamo, foi apresentado (de forma virtual) por Patrício Langa, para quem o exército de debater na esfera pública é similar ao exercício físico, como ir ao ginásio. Nesse sentido, defendeu Langa, Macamo é um intelectual que privilegia o país, porque se preocupa com o intelecto dos moçambicanos.
Para Patrício Langa, Fazer as coisas com a cabeça é uma excelente indução à arte de argumentar, principalmente porque “Vivemos um momento particular, em que a esfera pública é dominada pela opinião”. E o apresentador do livro acrescentou: “A sociedade se constitui e se faz no debate de ideias”.
O anfitrião da sessão de lançamento do livro foi o Reitor da UP-Maputo. Para Jorge Ferrão, o livro Fazer as coisas com a cabeça “é um convite para entender que, nos tempos em que vivemos, com abundância de informação, precisamos de nos cuidar”.
Igualmente, o reitor da UP-Maputo prometeu que este será um ano de muita celebração e convívio académico, com várias sessões e debates para ajudar a serenar a sociedade. “A universidade tem ajudar a serenar as mentes”, sublinhou Jorge Ferrão, reforçando, de seguida, que Elisio Macamo “é um dos expoentes da vida acadêmica e pública em Moçambique. Uma cabeça brilhante. Um dos nossos melhores intelectuais”.
Para a Ethale Publishing, representado Jennifer Banze, Fazer as coisas com a cabeça reúne textos que constituem força motriz para mudança de mentalidades. “Por isso apostamos nos seus [Elísio Macamo] trabalhos, pela capacidade crítica e reflexiva [que despertam], para não tomarmos opiniões precipitadas ou erradas”.