Dados provisórios do Banco de Moçambique (BM), a que O País teve acesso, reportam que o défice da conta corrente (trocas comerciais com o exterior e as chamadas transferências unilaterais) agravou em USD 414 milhões, para 1.596 milhões de dólares no fecho do primeiro semestre de 2018, em relação ao igual período do ano anterior.
O facto é justificado pelo incremento de compras no exterior de serviços especializados e financeiros, no âmbito da implementação de projectos de gás natural na bacia do Rovuma, que obriga maior importação de maquinarias e de bens de consumo intermédio por parte das gigantes petrolíferas desta indústria.
O negócio de gás em Moçambique tem vindo a ganhar muita força nos últimos tempos, principalmente, com destaque para o projecto liderado pelo consórcio ENI, da Itália e ExxonMobil, dos Estados Unidos da América, um consórcio que vai iniciar a extração e liquefação de gás natural na bacia do Rovuma, no último trimestre de 2022.
Este consórcio espera investir pelo menos oito biliões dólares e deverá gerar lucros directos na ordem dos 47,7 biliões ao longo dos 25 anos de vida do projecto, ficando o Estado moçambicano com cerca de 24,5 biliões de dólares em Imposto sobre a Produção do Petróleo, Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Coletivas (IRPC) e partilha da produção.
Em paralelo, há ainda, igualmente, o projecto da petrolífera norte-americana, Anadarko, para extracção, liquefação e exportação de gás natural que está para arrancar no país, concretamente, na Península de Afungi, em Cabo Delgado.
A decisão final do investimento está prevista para até primeiro semestre de 2019, com o valor do investimento na ordem de 30 biliões de dólares. O projecto tem também um tempo de vida útil previsto de 25 anos, capaz de gerar uma receita na ordem de 53 biliões de dólares para o Estado moçambicano, segundo previsões governamentais.
O Executivo de Maputo prevê que os projectos em manga da Anadarko e do consórcio ENI/ExxonMobil consigam criar pouco mais de cinco mil postos de trabalho durante a fase de construção e mil empregos na fase de operação.
A logística está a ser montada. Na semana passada, iniciou na Ilha de Goeje, localizada na cidade sul-coreana de Busan, nos estaleiros da Samsung Heavy Industries, a construção do casco para a Fábrica Flutuante do Gás Natural do Coral Sul (FLNG na sigla em inglês) que será instalada na bacia do Rovuma.
O primeiro cliente para o gás natural de Rovuma já foi encontrado, trata-se da BP. Ao todo são mais de 200 biliões de pés cúbicos de gás natural descobertos na bacia de Rovuma e a ENI deverá usar uma tecnologia que será pioneira em África e uma das quatro existentes em todo o mundo para extrair o gás natural que se encontra no mar.