Pier Dogg e Sidney Mavie, das produtoras Nexta Vida e GM Records, respectivamente, consideram lamentável que os artistas moçambicanos tenham de recorrer a África do Sul para editarem discos originais. Em geral, o país edita álbuns em discos market.
As produtoras quase improvisam na maneira como lidam com os álbuns discográficos no país. Partindo de uma realidade difícil, em que a procura não compensa o investimento, editar discos é um risco que os artistas sempre enfrentam no que diz respeito à rentabilidade. Afinal, de acordo com Pier Dogg, CEO da produtora Nexta Vida, falta a cultura de aquisição de álbuns no país, o que condiciona tudo o resto. “Costuma ser desafiante editar discos porque, por um lado, a própria sociedade moçambicana não está familiarizada com a questão dos CD. Por outro, há a questão da pirataria”
A Nexta Vida existe há três anos. De lá a esta parte, já editou cinco álbuns, de autores como Jazz P e Flash Enccy, com fundos próprios. Porque falta a cultura de compra, normalmente, os discos da produtora são vendidos em espectáculos, aproveitando-se assim o interesse que um certo público tem em deixar-se fotografar com os artistas no acto da compra. À parte os espectáculos, diariamente, adianta Pier Dogg, é muito complicado editar discos em Moçambique. Por isso, a Nexta Vida opta em lançar entre três e quatro discos por ano”.
Este cenário de dificuldade que envolve fraca compra de discos pelo público tem um impacto. Ao invés de discos originais, de acordo com Pier Dogg, em Moçambique, apenas estão a editar-se discos em market. “Quando queremos fazer a edição de um CD original, aí estamos dependentes da África do Sul. A maquinaria para trabalharmos com discos originais é muito cara. E fazendo estudos de viabilidade, nem sempre compensa. É muito arriscado avançar com a edição de discos originais enquanto a sociedade ainda não está familiarizada com a questão do CD”.
Assim, para Sidney Mavie, da produtora GM Records, “a questão de termos de produzir um CD original na África do Sul é um pouco absurda. Um país não ter uma maquinaria para produzir CD original é um caos”.
No caso da GM Records, a edição dos discos acontece em Moçambique e na África do Sul. A decisão, na verdade, depende do número de exemplares. Na África do Sul, geralmente, recorrem quando pretendem imprimir 300 exemplares, que é o mínimo possível. Localmente, editam pelo menos 50 exemplares.
Ainda que a edição de discos não seja rentável para as produtoras nacionais, Sidney Mavie explica por que a GM Records continua a trabalhar no ramo, somando só ano passado 25 discos editados. “A actividade não é sustentável, mas nós fazemos de tudo para não perder dinheiro. Ao longo dos anos, uma das coisas que estudei é como produzir, investir em discos sem perder dinheiro. Tentamos essa palestra com os artistas, explicando-os que não devemos produzir muitas cópias, como forma de evitar prejuízos. Quando os discos acabam e temos necessidade, voltamos a produzir”.
Na percepção de Mavie, o que as produtoras discográficas têm estado a fazer são tentativas. Logo, confessa, não trabalham de forma muito profissional. “Ainda assim, as pessoas compram os nossos CD porque acreditam no trabalho que estamos a fazer”.
De modo que as coisas mudem, Pier Dogg aponta o caminho: “A melhor forma de o público dar suporte aos artistas é comprando os seus artigos”. Além disso, “temos de tomar a cultura como parte forte do desenvolvimento. Precisamos de criar uma indústria cultural que possa beneficiar os artistas e o público. Claro que esse trabalho não é apenas do Ministério da Cultura, como é óbvio. Tanto os artistas, as produtoras e a cadeia toda podem contribuir. Para o efeito, precisamos de público que compra discos para que haja viabilidade do negócio. A intervenção de diferentes sectores da sociedade é importante para salvaguardarmos o rendimento do próprio artista”.
Numa só frase, para as duas produtoras moçambicanas, a melhor forma de o público dar suporte aos artistas é comprando os seus artigos.