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Não podemos ter funcionários com mentalidade precária

“Estamos com um universo de mais de 350 mil funcionários, mas grande parte com uma mentalidade que não ajuda a resolver problemas. Temos que trabalhar pela mentalidade do funcionário público”. Foi com estas palavras que Filipe Nyusi lançou o desafio aos dirigentes do Ministério da Administração Estatal e Função Publica para mudarem a mentalidade dos funcionários públicos com vista à produtividade.

O pelouro responsável pela gestão dos recursos humanos e administração do Estado foi escalado, ontem, como o sétimo, no quadro das visitas do Presidente da República aos ministérios, e o desempenho dos funcionários públicos foi um dos pontos fortes que quis abordar.

Nyusi diz que é urgente incutir a cultura de trabalho. “Os funcionários públicos não podem pensar que indo ou não ao serviço vão receber. Por isso, vão ao lanche muitas vezes; quando se pergunta, estão sempre na casa de banho; adoecem crianças todos os dias; há pessoas que têm familiares que morrem todos os dias e não vão ao serviço, porque não têm cultura de trabalho”, descreveu.

A visita de Filipe Nyusi começou logo pela manhã, no segundo edifício do Ministério, localizado na zona baixa da Cidade de Maputo, onde escalou as direcções de Desenvolvimento Autárquico, de Gestão de Recursos Humanos e o sector de cadastro e prova de vida dos 357 mil funcionários públicos existentes no país. Neste último, soube que, só em 2015, do total de funcionários que passaram pela prova de vida, mais de 8 000 eram fantasmas, sendo que, destes, cerca de 2 500 continuam a receber salários.  

A seguir, escalou o Instituto Superior de Administração Pública, onde são capacitados quadros do Estado em funções de direcção. A instituição está a desenvolver um programa de capacitação à distância, mas debate-se com o problema de falta de computadores para os funcionários que estão nos distritos.

Como último ponto da agenda, dirigiu uma sessão extraordinária do Conselho Consultivo do Ministério, onde, após se inteirar dos constrangimentos com que se debatem as direcções nacionais, enumerou outros problemas que quer ver melhorados no sector.

Corrupção e património do Estado

Ciente de que as suas palavras serão transmitidas pelos dirigentes do sector aos quadros de base, Filipe Nyusi apontou a corrupção e a gestão danosa do património do Estado como grandes problemas no Estado. “Grande parte dos processos de corrupção de que tenho ouvido falar ou que eu mesmo procuro saber envolvem funcionários públicos. As regras já estão criadas, mas eles não as seguem, propositadamente, para desviar fundos do Estado”, desabafou o mais alto magistrado da nação.

Sobre o património de Estado, abriu um capítulo especial e disse: “Edifícios. Você vai a um ministério ou uma direcção provincial e vê cheios de poeira. Não limpam, quando as lâmpadas fundem, não trocam, não têm jardins”.

Rápida distribuição de donativos

Ainda ontem, o Presidente da República visitou o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades. Recebido pelo director-geral da instituição, João Machatine, o Presidente foi ver de perto os departamentos do Centro Nacional Operativo de Emergência, onde foi informado sobre a melhoria da capacidade de prevenção de desastres e que o INGC vai passar a usar drones para ajudar na identificação e resgate de vítimas. Nyusi saudou a evolução da instituição na prevenção do risco de desastres, mas também desafiou-a a ser mais transparente e racional na gestão e distribuição dos donativos.

Autarquias insustentáveis

Filipe Nyusi disse, ainda ontem, que não se podem criar municípios de forma aritmética. A criação e governação das autarquias foi um dos pontos fortes que dominaram a visita de Filipe Nyusi ao pelouro da Administração Estatal.

No encontro com quadros do sector, o Presidente da República quis saber como é a relação entre o Governo e as autarquias locais e até que ponto são sustentáveis.
No ministério da Administração Estatal e Função Pública, Nyusi destacou a importância da sustentabilidade dos municípios e desafiou as edilidades a aumentarem as suas receitas, de modo a reduzirem a dependência de fundos do Estado.

 

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