O cirurgião Igor Vaz diz que os últimos dados mostram que o número de fístulas obstétricas que se formam anualmente podem chegar às quatro mil, o dobro do número oficialmente reportado. O profissional diz que o aumento pode dever-se à consciência das mulheres que estão a aderir às cirurgias ou à queda na qualidade dos serviços hospitalares.
A fístula obstétrica é uma das consequências do chamado parto arrastado ou negligência na assistência da gestante em trabalho de parto. Com as lesões sofridas, a vítima passa a não ter controlo da saída da urina, o que provoca estigmatização da mulher na sociedade.
Anualmente, reportam-se dois mil casos no país, mas o médico-cirurgião Igor Vaz actualiza os dados e diz que os últimos indicadores apontam para o dobro desse número. “Afinal, não são duas mil fístulas por ano que se formam em Moçambique, mas muito mais, e nós temos medo que possa chegar aos quatro mil. Isto significa que ou as pessoas estão muito mais alertas sobre o que é a fístula e, portanto, vêm às unidades sanitárias procurar por ajuda, ou há alguma queda na qualidade dos serviços de saúde.”
Através da associação “Facus Fistula”, Igor Vaz tem realizado campanhas regulares de cirurgias para resolver o problema das mulheres nessa situação e devolver-lhe dignidade no meio social. Esta semana, está em Nampula, para, mais uma vez, cumprir essa missão.
“Nampula tem muitos casos. Nós estamos a trabalhar em quase todo o país; Nampula e Niassa são as piores províncias”, alerta o cirurgião, e, em função disso, há muitas mulheres que ficam anos à espera de uma oportunidade para terem acesso a uma cirurgia, não porque seja impossível realizar a cirurgia no Serviço Nacional de Saúde, mas porque a mulher sofre auto-discriminação a discriminação que vem da sociedade.
A cirurgia em causa pode durar meia hora, mas também há casos complicados que levam muitas horas no bloco operatório. “Na semana passada, no Hospital Central, operamos uma doente que levou seis horas. É uma senhora de 72 anos. Ficou com a fístula por mais de 50 anos.”
Outro factor de risco são as gravidezes precoces, em que meninas sem idade adequada engravidam e a tendência tem sido terem partos complicados.