Vários moçambicanos preferem usar a fronteira de Namaacha para regressar à África do Sul, alegadamente porque há menos exigências, comparativamente a Ressano Garcia. Em entrevista ao “O País”, no Terminal Rodoviário Interprovincial da Junta, muitos passageiros disseram que não tinham feito testes de despiste à COVID-19, mas mesmo assim iriam atravessar para a terra do rand.
Uma autêntica corrida contra o tempo e contra a fiscalização das autoridades. Centenas de moçambicanos que vivem e trabalham na vizinha África do Sul formaram, este domingo, longas filas no terminal da Junta para conseguir um lugar em autocarros. São moçambicanos que optaram por viajar usando a fronteira de Namaacha, em detrimento a de Ressano Garcia, porque no seu entender há menos exigência e mais permissividade.
“Prefiro a [fronteira] de Namaacha porque não tenho passaporte. Irei atravessar e irei à África do Sul”, disse, convicta, uma moçambicana prestes a embarcar para Namaacha.
Anaceslo Tamele trabalha como pedreiro na terra do rand. Ele conta que tem um passaporte com prazo de validade expirado, por isso, optou pela fronteira de Namaacha.
“Estou de volta ao serviço depois de estar com a família nas festas. Cheguei em Outubro e, apesar de o meu passaporte não estar caducado, irei chegar ao meu destino. Meu passaporte não está legal, por isso estou a optar por Namaacha. Ali não há muitos problemas. Eles só perguntam para onde a pessoa vai, fazem uma pequena revista das suas coisas e mandam avançar”, detalhou o interlocutor, cuja versão foi também sustentada por Feliz Chivanga, que trabalha como bate-chapa naquele país.
“Tive passaporte, mas agora viajo sem documentos. Estou há 15 anos a fazer viagens sem documentos. É sempre assim todos os anos. Essa coisa de passaportes não é fácil…porque todos os meses a pessoa deve vir ao país para carimbar e isso não é viável para nós que trabalhamos”, considera Feliz Chivanga.
O nível de cobranças ilícitas é outro elemento que desencoraja os moçambicanos de usar a fronteira de Ressano Garcia. “É difícil passar pela fronteira de Ressano Garcia porque há muitos aproveitadores [corruptos]. Na fronteira de Namaacha existem, mas não tantos como em Ressano”, avançou Anaceslo Tamele.
EM NAMAACHA NÃO É OBRIGATÓRIO TER TESTE DA COVID-19
Mais do que documentação, a maior parte dos moçambicanos que usam a fronteira de Namaacha não portam os testes de despiste do Coronavírus, um requisito que deveria ser obrigatório para entrar no território sul-africano.
Feliz Chivanga explicou que não há e nunca houve rigor quanto a esse requisito. “Não preciso fazer teste porque não estou doente, estou bem. Em qualquer das fronteiras tens que pagar se não tens o teste da COVID-19. Quando vim para cá (Moçambique) não se exigiam testes por causa das enchentes. Mesmo agora são poucos que fazem testes”, relatou.
A maior parte dos passageiros que pretendiam usar a fronteira de Namaacha para chegar à África do Sul foram transportados em autocarros disponibilizados, alegadamente, pelo Governo, o que causou a indignação da associação de transportadores que fazem a rota Moçambique-África do Sul.
“Estamos tristes com o nosso Governo. Mandaram estes autocarros para transportar pessoas que irão viajar ilegalmente. Parece que o executivo está a compactuar com esta situação. São pessoas sem documentos e nem apresentam testes da COVID-19. Nós estamos a trabalhar legalmente, estamos dentro do parque, pagamos uma série de taxas e mesmo assim ficamos sem passageiros. Muitos estão a seguir via Namaacha, enquanto nós usamos Ressano Garcia”, lamentou Salavida M’fumo.
Apenas os moçambicanos com documentos e testes para o novo Coronavírus usavam as carrinhas que fazem a ligação de Maputo-África do Sul, através da fronteira de Ressano Garcia.
De salientar, que os autocarros que transportavam esses moçambicanos, trabalhavam sem obedecer a lotação máxima autorizada pelas autoridades no âmbito das medidas de prevenção da COVID-19.