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Música como antidoto para felicidade*

Permitam-me, em primeiro, agradecer ao Agnaldo Bata, meu confrade, por ter a ousadia de convidar-me a fazer apresentação deste seu mais recente livro, confesso que fiquei estupefacto, quando o Bata me abordou e incumbiu-me a missão de oferecer-vos algumas linhas de provável interpretação desta história. A verdade é que não me vejo com arcabouço suficiente para tamanha missão, mas, em nome da literatura e da nossa amizade, atirei-me a este reino musical, para tocar-vos à leitura, espero que as vossas almas dancem depois de terminar a leitura.

Bom, o livro, “Mungadze e a lenda do reino musical”, traz-nos uma história completa, narrada segundo mandam as regras da narrativa do género, típica de histórias mágicas bem-contadas, desde as do cinema às da oratória africana. Uma narrativa que nos prende e nos acompanha ao destino da história e do protagonista. Um protagonista igualmente completo, munido de todas as nuances dos heróis que se celebram em narrativas épicas, um herói que se apresenta revestido de todos condimentos dos grandes heróis.

Primeiro, na introdução, apresenta-se-nos com a resistência, no do protagonista, mas das personagens a sua volta, o que desde cedo, o protagonista, demonstra tamanha coragem para encarrar o problema que se colocava à vista, o que o leva a partir à aventura, onde encontra e supera inúmeras dificuldades até à conclusão, a gloria final, acompanha da moral da história. Estes elementos permitem elevar o nível de suspense e envolver e fazer dos leitores parte da história.

Existe neste livro, como disse, todos os artefactos das grandes histórias, porém, para este exercício de excitação à leitura, elegemos dois 1) o enredo: como a história é contada e 2) o argumento: o que a história conta.

No primeiro ponto, encontramos, neste livro, uma narrativa que nos embala e nos envolve, trazendo, como propõem Christopher Vogler e Joseph Campbell, dois dos mais cotados screenwriters hollihoodianos, todas as etapas de jornada do herói, condimentações necessárias para se contar uma história impecável, que são: o mundo comum; o chamado à aventura; recusa do chamado; encontro com o mentor; a travessia do primeiro limiar; provas, aliados e inimigos; aproximação da caverna secreta; a provação; a recompensa; o caminho de volta; a ressurreição; e o retorno com o elixir.

Neste diapasão, encontramos um reino alegre, cuja vivência apresenta-se-nos tranquila e equilibrada, entretanto, na medida que a história se desenrola, acontecem fenómenos que colocam em causa essa tranquilidade, a falta da música que, como consequência, enferma os habitantes do reino, uma situação que exigem uma resolução e, como sabem, quem se entrega a resolver problemas colectivos é chamado de herói. É aqui que se nos apresenta o jovem Mungadze! E toda narrativa vai-se desenrolando em volta desse herói.

No segundo ponto, Agnaldo Bata, traz-nos aquilo que, quase todos concordados que sem ela a vida seria mais aborrecida: a música! Aliás, como diz Nietzsche, o consagrado filosofo alemão, “Sem a música a vida seria um erro”. Ou então, se formos mais extremistas, condizendo Shakespeare, “O homem que não tem a música dentro de si e que não se emociona com um concerto de doces acordes é capaz de traições, de conjuras e de rapinas”.

A música, esta combinação harmoniosa e expressiva de sons, neste livro, é-nos apresentada em forma de chilreios, que são sons emitidos por um ou vários pássaros, no caso específico, os pássaros missionários que vinham de Cabine, o reino musical.  Um reino que tinha a nobre responsabilidade de criar música para a vida de todos os habitantes, mostrando claramente que sem a música a vida não seria possível.

Sobre a moral da história: este livro ensina-nos, primeiro, a sacrifícios individuais para o bem da maior, da coisa pública, uma prática que nos dias que correm tem se mostrada ausente nas nossas vidas. É só ligaram a televisão às 20h para atestarem o que digo (risos).  

Ainda, o livro “Mungadze e a lenda do reino musical” introduz-nos à educação musical, uma vez que a narrativa gravita em prol dessa arte, mostrando claramente que o Agnado Bata teve o cuidado de pesquisar e trazer os elementos que corporizam a música, sobretudo, a sua composição criativa, como as notas musicais, a forma de cantar e outros.

Testemunhamos, neste livro, um diálogo de uma intertextualidade graciosa e saudável entre a literatura e a música, mostrando claramente, que as artes podem caminhar juntos, o que, de certa forma, demonstra esse companheirismo entre as artes.

Porque não quero esgotar aqui os recursos e pontos que este livro nos traz, eu recomendo-vos a comparar e a lerem, primeiro vocês, depois aos vossos filhos, sobretudo àqueles que ainda podem ler. Divirtam-se como eu me diverti ao ler este livro.

Bem-haja Agnaldo Bata, bem-haja a literatura infanto-juvenil moçambicana!

 

*Texto de apresentação ao livro Mungadze e a lenda do reino musical, de Agnaldo Bata, que teve lugar no dia 01 de Março do ano em curso, no Instituto Guimarães Rosa-Centro Cultural Brasil-Moçambique.

 

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