Vendedores informais, na sua maioria mulheres, sentem-se excluídos do sector bancário. Para reverter o cenário, o Governo deveria criar condições para formalizar a actividade dos “ambulantes”, o que pode permitir que as suas receitas passem a ser contabilizadas e registadas para a capitalização nos cofres do Estado, advogam economistas.
Nos últimos anos, o comércio informal tem estado a crescer e a dinamizar a economia nacional. A falta de empregos formais leva pessoas a optarem pelo comércio informal. Segundo os dados estatísticos do Banco Mundial de 2020, grande parte da população moçambicana é representada por mulheres que, na sua maioria, trabalham no sector informal.
Apesar de as mulheres serem as dinamizadoras do sector impulsionador da economia nacional, sentem-se excluídas dos serviços bancários, como o acesso ao financiamento, o que as leva a recorrer a outros meios.
“Desde 1996, estou aqui, no mercado, a vender, tenho conta bancária, mas, quando vou ao banco pedir empréstimo, a resposta é negativa, o banco diz dar crédito somente aos trabalhadores formais”, conta Ana Raul, vendedeira há mais de 25 anos.
Muitas mulheres não têm tido acesso aos serviços bancários, mas há quem consiga ajustar-se às exigências dos bancos. Deolinda Muchiane é exemplo das poucas vendedeiras que se têm beneficiado do financiamento das instituições bancárias desde o início do seu negócio.
“Há mais de 15 anos, estou nesta área e, desde que comecei o negócio, trabalho com o banco e acho mais vantajoso em relação aos microcréditos e agiotas, tanto que estou hoje noutro nível graças ao banco”, disse Deolinda Muchiane.
Segundo as entrevistadas, a preferência pelo uso dos serviços financeiros informais, o caso dos chamados “agiotas”, deve-se à acessibilidade e leveza burocráticas no âmbito da requisição do empréstimo. Porém, as vendedeiras vêem desvantagem devido à alta taxa de juro e curto tempo de reembolso, o que as deixa cada vez mais endividadas.
Para além dos créditos facilitados por alguns bancos microcréditos, as vendedeiras dizem estar cientes do risco que correm ao fazer as poupanças diárias em circuitos financeiros informais. No entanto, fazem-no para evitar tempo de deslocamento e fila nos bancos.
Segundo a economista Estrela Charles, os bancos têm maior interesse em vender os seus serviços aos informais, mas o sector não garante, pela sua natureza, confiança, nem reúne todos os requisitos para o efeito.
Charles defende ainda que o Estado devia dar mais atenção ao sector e criar formas de formalizá-lo, pois, desta maneira, poderá ter mais ganhos em termos de imposto, como também poderá melhorar a situação em que estes vendedores se encontram.
De acordo com um relatório do Banco Mundial de 2020, cerca de 80% da força de trabalho moçambicana está no sector informal, 52% correspondentes à maioria das empresas informais de retalho, detidas maioritariamente por mulheres, contra 45% na indústria transformadora e 38% noutros serviços.