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Mulher no centro da celebração da Páscoa em Maputo

Cristãos celebraram, este domingo, a Páscoa com mensagens de renovação da fé para enfrentar as crises que enfermam o país. Além disso, e devido à coincidência das efemérides, os crentes reflectiram sobre o papel das mulheres na sociedade moçambicana.

A Sé Catedral de Maputo não conseguiu conter todas as pessoas que lá se fizeram para celebrar a ressurreição de Jesus Cristo. Dezenas de crentes tiveram de ficar nas escadas a escutar o sermão pelas colunas, numa missa que estava carregada de simbolismo.

É a segunda Páscoa que os cristãos celebram juntos e sem pensar na distância física que devia ser mantida para evitar a propagação da COVID-19. Isso tornava mais animadas as canções, que eram entoadas acompanhadas de diversos instrumentos musicais.

Outra razão para ser um dia especial é que era a primeira missa orientada por Dom João Carlos Hatoa, enquanto coadjutor de Dom Francisco Chimoio, este que não esteve presente. Quem marcou presença foi o antigo Presidente da República, Joaquim Chissano, e a sua esposa, bem como o actual Primeiro-ministro, Adriano Maleiane.

Em pouco mais de 40 minutos, Dom João Carlos falou de dois termos: fé e alegria. Sobre a fé, o arcebispo pediu que seja feito um retorno, primeiro, para recordar-se do quão bondoso foi Deus na sua passagem pela terra em forma humana.

“Na quinta-feira, Deus fez um gesto muito grande para mostrar uma coisa maior ainda; Deus lavou com seu sangue a parte mais nojenta da nossa alma, que é o pecado, e, para mostrar isso, ele lava a parte mais suja do nosso corpo, que são os nossos pés”, isto, de acordo com o arcebispo, é um sinal de que, afinal, “a esperança tem voz”, Dom João convida os crentes à ideia de que “é bom olharmos para frente e termos esperança de boas coisas”.

Esse convite, na verdade, passa pela renovação da fé e reencontro com Cristo. Para isso, diz o arcebispo, é preciso voltar à Galileia, o que “pode ser um caminho para enfrentar a crise, pode ser uma caminho para encontrarmos o caminho daquilo que buscamos” em todos os lados.

Para compreender melhor esta mensagem, basta lançar o olhar às escrituras bíblicas e ver o que aconteceu na região de Galileia, que é a zona Norte de Israel. Foi lá onde Jesus Cristo teve os seus primeiros seguidores, aqueles homens encontrados no mar da Galileia a pescar. Estavam havia algum tempo sem ter pescado, mas Jesus fê-los tê-lo e transformou-os em seus seguidores. Foi lá, também, que curou uma mulher que sofria de hemorragia.

Por falar em mulher, este ano, a Sexta-Feira Santa, dia da morte de Jesus Cristo, coincidiu com o Dia da Mulher Moçambicana, e isso não passou despercebido na pregação feita na igreja Anglicana. Há um facto curioso: “As primeiras mulheres que foram ver a sepultura aberta de Jesus Cristo foram as mulheres”, sendo que, mesmo depois de terem, também, ido lá, os homens “infelizmente não tiveram paciência de esperar”, tal como explicou César Estêvão dos Santos, da Igreja Anglicana.

Essa paciência das mulheres, documentada na Bíblia, livro de instrução para os cristãos, faz com que a igreja ganhe novas ambições em relação à mulher. “Gostaríamos de ter uma candidata presidencial do sexo feminino”, “talvez assim veríamos resolvidos alguns dos nossos problemas”.

Na igreja Presbiteriana de Moçambique, Paróquia de Nhlamankulu, a mensagem foi de mudança e ruptura de alguns hábitos do passado que contradigam os mandamentos bíblicos, por exemplo, a forma como se trata a mulher. É que, segundo o presidente da paróquia, “a verdadeira imagem de Deus não é o homem sozinho e, sim, ele e a mulher. Mas a nossa cultura desvirtua isso, basta ler bem a Bíblia”.

Nesta igreja, o culto contou com a presença do ex-Presidente da República, Armando Emílio Guebuza, acompanhado pela esposa; estava também o edil de Maputo, Eneas Comiche.

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