O ministro da Defesa diz que Moçambique não comprou nenhuma arma à Coreia do Norte e que está surpreendido com as informações que correm. Atanásio M’tumuke diz mesmo que está à espera de especialistas das Nações Unidas para verificarem se o país violou ou não as sanções impostas à Coreia do Norte.
“O que estão a falar sobre armamento não entendo, pois Moçambique está livre. Eles poderão vir cá para verificar e concretizar. Que não se repita a estória de se dizer que estamos à procura de um ladrão, para mais tarde dizer que, afinal de contas, falhámos e não era esse o ladrão. É estória isto. Portanto, estamos prontos para receber qualquer comissão que vier. Nós estamos tranquilos, não temos problemas”, disse M’tumuke ao O País.
As declarações de M’tumuke acontecem duas semanas depois de a Organização das Nações Unidas (ONU) revelar que estava a investigar Moçambique e outros países africanos por terem comprado armas à Coreia do norte. “As preocupações que eles manifestaram são preocupações que eles próprios poderão concretizar no terreno (…) Não temos nada”, vincou Atanásio M’tumuke.
Lembre-se que as Nações Unidas proibiram, há dez anos, todos os países membros de fecharem contratos militares ou de fornecimento de armamento com a Coreia do Norte, devido às suas actividades nucleares.
Além de Moçambique, países como Angola, Zimbabwe, República Democrática do Congo, Namíbia, Nigéria, Guiné Equatorial e Senegal são apontados como violadores das sanções impostas à Coreia Norte.
Em relação a Moçambique, a ONU investiga a venda de um sistema de defesa aérea portátil, mísseis superfície-ar e um radar, numa operação feita entre a empresa coreana Haegeumgang Trading Corporation e a Monte Binga, controlada pelo Governo.
“Moçambique ainda não forneceu uma resposta substantiva ao inquérito deste painel. Dois Estados-membros declararam que a Haegeumgang está activa em Moçambique e na Tanzânia. Um Estado-membro especificou que a Haegeumgang forneceu o mesmo tipo de mísseis superfície-ar a Moçambique e à Tanzânia”, diz o relatório, citado pela agência alemã Deutsche Welle.
Os múltiplos testes nucleares ordenados pelo líder norte-coreano, Kim Jong-un, relançaram a questão sobre a natureza desta cooperação com o continente africano, precisamente numa altura em que o Conselho de Segurança da ONU acaba de aprovar novas sanções contra a Coreia do Norte. As novas medidas abrangem as exportações de têxteis do país e limitam remessas de produtos petrolíferos. Essas sanções foram adoptadas pouco mais de uma semana após o recente teste nuclear realizado por Pyongyang.
Treinamento de militares em Angola
A ONU apurou que a guarda presidencial de Angola e outras unidades foram treinadas por pessoas ligadas ao governo norte-coreano. Diplomatas da Coreia do Norte acreditados em Angola também são investigados. Presume-se que trabalhem para a Green Pine Corporation, empresa que é alvo de sanções da comunidade internacional, desde 2012, e que seria responsável por quase metade das armas exportadas pela Coreia do Norte.
Os especialistas da ONU acreditam que Kim Hyok Chan, um dos coreanos que tem visto de diplomata em Angola, “seja o representante da Green Pine Corporation, responsável pela remodelação dos navios da República Democrática Popular da Coreia, que violou as resoluções” internacionais, o qual teria viajado com o seu colega Jon Chol Young entre Angola e Sri Lanka, numa “tentativa falhada” de vender navios militares. O mesmo relatório dá conta de fornecimento de armas norte-coreanas ao regime de Joseph Kabila, da República Democrática do Congo (RDC). Entretanto, o governo de Kinshasa desmentiu essas informações.