O grupo South32, acionista maioritário da Mozal, alerta que a multinacional poderá suspender atividades e encerrar as portas nos próximos meses caso, até março, não consiga a prorrogação do contrato de fornecimento de energia elétrica. Para além da redução da quantidade fornecida pela Hidroelétrica de Cahora Bassa (HCB), a empresa teme que uma eventual atualização do preço torne as operações economicamente insustentáveis.
Há seis anos que a Mozal mantém negociações com o Governo de Moçambique para a renovação do contrato de fornecimento de energia elétrica destinado às suas operações. Contudo, a oito meses do prazo final, o consenso ainda parece distante. Após vários comunicados de imprensa, esta quinta-feira a multinacional abriu-se à comunicação social e revelou que poderá suspender as atividades no país devido à falta de entendimento com o Executivo.
“Sem este contrato de energia, esperamos operar a fábrica até ao fim do contrato, em março de 2026, e depois disso colocá-la numa situação de manutenção e preservação. Não iremos fazer nenhum investimento na Mozal e, como parte desta medida, iremos interromper algumas atividades, nomeadamente as limpezas nos equipamentos da sala de fundição”, explicou o presidente do Conselho de Administração da Mozal, Samuel Samo Gudo, acrescentando que a desmontagem de parte do equipamento já está em curso.
A Mozal necessita de 950 megawatts para operar, mas, neste momento, a HCB apenas consegue fornecer 350 muito aquém do necessário. Perante este cenário, a empresa afirma estar a explorar alternativas noutros mercados para garantir fornecimento temporário.
“Provavelmente, há alguns aspetos a considerar. Um deles diz respeito aos 350 megawatts necessários durante os próximos dois anos. Conseguiremos um preço competitivo? Se sim, será necessário falar com a Eskom para verificar se consegue fornecer o restante da energia de que a Mozal necessita, a um preço semelhante, durante esse mesmo período. Vemos o papel da Eskom como uma solução de curto prazo. Assim que a Cahora Bassa recuperar da seca, a HCB terá capacidade para fornecer energia suficiente à Mozal”, explicou Graham Kerr, CEO da South32.
Outra preocupação da empresa está relacionada com o custo da tarifa de energia, que representa cerca de 30% do valor de produção. Uma atualização do preço poderá comprometer a viabilidade económica da operação.
“A fundição de alumínio está a tornar-se um negócio global. Atualmente, a Mozal já se encontra no terceiro quartil do custo transfronteiriço. A eletricidade representa cerca de um terço desse custo. Cerca de 50% do custo de uma fundição corresponde a matérias-primas como alcatrão, coque e alumina. Há, portanto, margem para a Mozal melhorar a sua posição em termos de custos, mas o custo da energia é, de facto, um fator crucial”, sublinhou.
A posição assumida pela Mozal deixa claro que a alegada alteração na taxa de aquisição, tal como refere o comunicado da própria empresa, tornado público no final desta quinta-feira, é motivo de preocupação. De acordo com o documento, a empresa afirma que “não é viável para a Mozal operar sob a tarifa que foi indicada, pois isso tornaria a Mozal internacionalmente não competitiva. Além disso, a HCB indicou que as condições de seca têm o potencial de afetar a sua produção de eletricidade e a sua capacidade de fornecer energia suficiente à Mozal.”
Entretanto, a multinacional mantém a esperança de, no decorrer das negociações, alcançar um consenso com a parte moçambicana. “Continuamos confiantes de que surja uma solução viável que permita à Mozal operar para além de março de 2026 e manter a sua contribuição substancial para Moçambique”, afirmam os accionistas maioritários da empresa.
A empresa, que absorve 30% da capacidade industrial da província de Maputo, alerta que a sua eventual saída do país poderá resultar na perda de 5 mil empregos diretos e mais de 27 mil indiretos.
Responsável por aproximadamente 3% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, a Mozal é um dos maiores empregadores industriais do país, com um peso financeiro de mais de 43 mil milhões de meticais. Além disso, o Estado moçambicano, detentor de 3,9% do capital social, recebe dividendos da operação.
Segundo a Conta Geral do Estado, em 2022 a Mozal pagou 839,8 milhões de meticais em dividendos, valor que caiu para cerca de 274 milhões de meticais em 2023. Em 2024, a empresa não distribuiu dividendos devido aos prejuízos registados.