Por: Belchior Eduardo
– Quem achou o corpo? Perguntou o inspector logo que chegou ao local do crime.
Era um homem magro, de pele escura, altura baixa, daquelas que não fica bem em um homem, trajava casaco cinzento comprido, colocava seus óculos escuros, rosto assustador e convicto nos seus ideais.
– Onde está o empregado? Perguntei sorrateiramente.
Fez-se ouvir um silêncio total no meio das pessoas que ali estavam, confusas com o caso e amedrontadas pelo inspector.
– Não entenderam a pergunta? Questionou o assistente. Um jovem esperto, detalhista, de altura média, claro, com os seus cabedais nos pés, sempre asseado e meio desconfiante de tudo e todos.
– No meio de vocês encontra-se o assassino desta pobre senhora, e eu irei achar. Acreditem, apodrecerá para sempre naquelas celas imundas, com outros delinquentes. Disse o inspector.
Na multidão ouviam-se murmúrios de pessoas, umas olhando as outras, como se ali estivessem em suas cabeças as línguas de fogo de espírito santo da quaresma na igreja primitiva.
– Detenha seu filho, ache essas putas e esse tal de Jossias. Quero ver se terão coragem de mentir, olhando nos meus olhos. Ordenou o inspector ao seu assistente.
– Às ordens, chefe. Respondeu o assistente, acenando aos polícias que o acompanhavam.
O bairro todo ficou no total silêncio, um luto completo, por morte de quem respondia às necessidades daquela zona, a dona Índia, aquela senhora já na terceira idade, simpática e atenciosa a todos.
Já não havia outra conversa nas ruas, em aglomerados e outras zonas circunscritas.
– Está a insinuar que tenha eu assassinado a minha mãe? Minha própria mãe? É isso? Perguntou o Habib, bem nervoso.
– Pode ser também que tenhas praticado essa tamanha barbárie, sim. Afinal de contas, a mercearia ficou para ti. Disse o assistente do inspector interrogando o Habib no estúdio 66.
– O quê? Você está bom de cabeça mesmo!? Assistente de meia tigela. Retorquiu Habib.
– Vê como fala comigo, ohhh filhinho da mamãe. Aqui eu sou quem faço as perguntas, percebeu? Respondeu o assistente nervoso olhando directo nos olhos do Habib.
– E diga mais uma coisa…
Nesse momento foi interrompido por um agente que bateu a sua porta dizendo que estava a ser solicitado pelo inspector.
– Tens todas as peças contigo? Perguntou o inspector ao seu assistente.
– Sim, tenho. Respondeu o assistente.
– Achaste as duas putas fugitivas? Perguntou o inspector.
– Sim. Disseram que saíram cedo pois estavam em trabalho. Nenhuma prova lhes coloca em frente ao crime e, por isso, soltei-as. Respondeu o assistente.
– E esse bandido do Jossias? Perguntou o inspector.
– Interroguei-o. Disse que ficou todo tempo a dormir e só apercebeu-se do sucedido horas mais tarde, e testemunhas testificam a sua declaração. Respondeu o assistente.
– Por onde anda o marido da finada? Perguntou o inspector.
– Faleceu por causas naturais no ano passado e foi cremado no Cemitério Britânico. Respondeu o assistente.
O esposo da dona Índia era um bom homem, nato comerciante, distribuía alimentos por toda localidade. Não há quem não o conhecia, ambos, faziam uma boa dupla, seu filho Habib, ainda novo, abafaram minha tentativa de criação de meu negócio, ahhhh, também nunca fui bom naquilo.
– Habib, estás livre. Disse o inspector.
– Finalmente alguém sensata nesta imundice. Disse Habib.
– Vê como falas comigo, ohhhhh rapaz, tenho poderes de te manter por aqui mais sete meses do que já ficaste, para te tornares mais bem-educado, está bem? Disse o inspector.
Habib foi solto com a tonalidade de sua pele agora fraca, cabelo grande e desorganizado. Hiiiiiii até dava pena. Também, sete meses sem nenhum avanço, essa polícia não tem meios modernizados para investigar um caso macabro daqueles.
– Interrogaste a pessoa que encontrou o corpo? Perguntou o inspector ao seu assistente.
– Não.
– Localize o empregado imediatamente e me traga cá. Vou interroga-lo pessoalmente.
Foram à procura do mesmo, falaram com Habib e explicou onde ele mora e seguiram em diante.
– Entra. Disse o inspector a quem batera a porta do seu gabinete.
– Permissão, meu inspector. Pediu o assistente.
– Entra. Localizaste o empregado? Questionou o inspector.
– Sim. Localizei-o mas já estava melhor.
– Seja claro.
– Localizei-o, porém morto, estrangulado o pescoço tal como a finada da dona Índia.
– Meu assistente! Disse o inspector com uma cara de satisfação e um sorriso maroto no rosto.
– Sim, chefe. Respondeu o assistente
– Sete meses depois, estando a nossa esquadra em frente deste caso, finalmente achamos quem molestou aquela pobre senhora e o seu empregado. Como o mundo é pequeno. Vamos a casa do Habib…
Continua