O antigo reitor da Universidade Eduardo Mondlane, Brazão Mazula, diz que o actual modelo de ensino secundário em Moçambique está ultrapassado. No seu entender, o ensino secundário já devia ser profissionalizante.
Na qualidade de orador principal, num painel de debate da Conferência Nacional sobre a Qualidade da Educação em Moçambique, o Professor Catedrático e antigo reitor da UEM lançou duras críticas ao actual modelo de ensino secundário no país.
Segundo ele, é preciso haver mudanças profundas e urgentes, para que o esforço em trazer qualidade no processo faça sentido.
“Perante os desafios da globalização, com o ritmo acelerado da digitalização do país, ousaria propor que todo o sistema secundário fosse profissionalizante, embora diferenciado com o ensino técnico-profissional, que tem uma vocação própria. A percepção é que o modelo do ensino secundário geral em vigor está já ultrapassado pela dinâmica de desenvolvimento e pelas exigências de trabalho que o país coloca. As indústrias de exploração de gás, carvão e outros minerais, por exemplo, já exigem habilidades e competências técnicas especializadas que não se adquirem no actual modelo do ensino”, defendeu Mazula.
“É frustrante que um indivíduo que passou 12 anos a estudar na sala de aula, para em seguida ser rejeitado pelo mercado de trabalho, porque o sistema não lhe conferiu competência de trabalho e saber-fazer. O mesmo se pode dizer do ensino técnico-profissional que deve incluir, nos seus currículos, algumas disciplinas humanas, incluindo filosofia e ética. Uma escola técnico-profissional sem humanidades produzirá um bom técnico-máquina, um profissional robótico e como tal uma escola não pode ser formativa. É um ensino que não satisfaz as necessidades da sociedade”, disse.
Mazula defende que os currículos sejam adequados às necessidades actuais do país e do mundo.
Para o antigo reitor da UEM, a qualidade do ensino deve ser avaliada a partir das competências adquiridas pelos estudantes e não apenas pelo cumprimento dos programas sectoriais.
Já o reitor da Universidade Pedagógica de Maputo, Jorge Ferrão, diz que a baixa qualidade de alguns professores é resultado de um sistema com superlotação das salas de aula.
“Há alguns anos, nós fizemos uma educação com alguma qualidade e depois começámos a sofrer do facto de termos um volume populacional muito superior às capacidades da própria educação. As escolas começaram a abarrotar, era necessário ter espaço para todos, o paradigma é não deixar ninguém de fora, então o fenómeno da massificação não pode ser de imediato acompanhado de muita qualidade”, disse Jorge Ferrão.
Para o antigo ministro da Educação e Desenvolvimento Humano, nem o melhor professor do mundo conseguiria garantir qualidade numa sala de aulas com 70, 80, 100 ou ainda 120 pessoas, então “a formação de professores sofre porque quem está a ir à formação de professores já é o resultado deste grupo grande que não teve a devida atenção”.
Ferrão diz haver necessidade urgente de investir mais na educação para melhorar a qualidade.