A estreia da selecção nacional de basquetebol sénior feminino, no chamado grupo da morte, realiza-se no sábado diante da toda a poderosa Nigéria, mas, dia seguinte, há um rival duro de roer: Angola. Rezam as crónicas que os duelos entre Moçambique e Angola são sempre apetecíveis.
Rezam as crónicas que, a 29 de Setembro de 2013, na catedral do basquetebol moçambicano, Moçambique e Angola decidiram o título de campeão africano de selecções em seniores femininos. Qual ovo de Colombo, a catedral do basquetebol moçambicano não teve espaço nem para mais uma agulha. Palco montado, motivação em alta. Pudera! À partida, só pela qualificação para a final, Moçambique e Angola já haviam assegurado a presença inédita no Mundial da modalidade, disputado na Turquia, em 2014.
Jogo equilibradíssimo com o conjunto orientado por Nasir “Nelito” Salé a vencer o primeiro quarto por um parcial de 16-15. Mais do mesmo no segundo quarto, com as angolanas, então orientadas por Aníbal Moreira, a conseguirem um parcial de 15-14. O terceiro quarto foi menos conseguido pelas moçambicanas que perderam por quatro pontos: 15-14. Ajustes defensivos feitos, Moçambique mais esclarecido ofensivamente a controlar o decisivo quarto com um parcial de 14-8. Foi-se ao tempo extra, cometeram menos erros as angolanas nos momentos decisivos, fazendo o parcial de 10-7. Gelou a “catedral”, mas ficou espalhado o perfume de Moçambique. No cinco ideal da prova, Leia “Tanucha” Dongue, considerada buzzer beat pela FIBA e segunda melhor ressaltadora da prova com 64 “rebounds”, e Deolinda Ngulela, base que terminou com mais assistências na prova: 43, média de 8 por jogo. As angolanas apresentaram-se, nesta prova, com o seguinte 12: Astrida Vicente, Catarina Camufal, Clarisse Mpaka, Felizarda Jorge, Fineza Eusébio, Luísa Tomás, Madalena Felix, Nacissela Maurício, Nadir Manuel, Ngiendula Filipe, Sónia Guadalupe e Whitney Miguel.
A DESFORRA
Estava escrito! Sentia-se que Moçambique faria a desforra. E tal aconteceu a 25 de Agosto de 2017, nos quartos-de-final do “Afrobasket”. No acesso às “meias”, em jogo de “loucos”, a selecção nacional de sénior feminino derrotou Angola por 61-47 e carimbou o passaporte para as meias-finais, fase na qual caiu aos pés do Senegal. As angolanas até entraram melhor na quadra, controlando o primeiro quarto com um parcial de 16-6. Já no segundo quarto, equilibrado, Moçambique condicionou as angolanas e venceu por 17-4. Dominador, Moçambique conseguiu uma vantagem de oito pontos ao cabo do terceiro quarto: 22-14. O quarto, já controlado por Moçambique, teve o parcial de 13-16.
Com um duplo-duplo (27 pontos e 14 ressaltos), Leia Dongue foi a melhor unidade de Moçambique nesta partida nos 38:43 minutos na quadra. Tanucha teve um registo de 12 em 26 nos lançamentos de campo (46.2%), 11 em 24 nos tiros curtos (45.8%) e 2 em 3 na linha de lances livres (66, 8 %).
Dongue foi secundada, nesta partida, pela extrema Elizabeth Perreira que contabilizou 12 pontos em 28:34 minutos na quadra.
Elizabeth Perreira foi determinante ao defender Italee Lucas, jogadora mais desequilibrada da selecção angolana. Aliás, não é por acaso que até terminou o jogo com 18 pontos e sete ressaltos em 34:12 minutos na quadra.
Em termos globais, Moçambique apresentou-se com 29.7% nos lançamentos de campo (22 em 74), 20.6% nos tiros exteriores (7 em 34), 76% de aproveitamento na linha de lances livres (10 em 13), 58 ressaltos dos quais 24 ofensivos e 34 defensivos, 15 assistências e 22 perdas de bola e 10 “steals”.
Já as angolanas registaram 20.3% nos lançamentos de campo (13 em 64), 20% (5 em 24), 80% na linha de lances livres (16 em 20), 43 ressaltos dos quais 18 ofensivos e 25 defensivos, seis assistências e 15 roubos de bola.
Uma coisa é certa: Angola teve muitos furos abaixo do que seria de esperar nas duas últimas edições do “Afrobasket”, terminando fora do pódio.
Qual Fénix, Angola quer renascer das cinzas nesta edição do Campeonato Africano de Basquetebol e voltar a entrar no top 4 da competição.
No seu historial, o adversário de Moçambique na segunda jornada do grupo “B” do “Afrobasket” feminino já disputou o torneio de qualificação olímpica em 2008, na Espanha, mas o seu saldo não de uma vitória e três derrotas.
Um dado a reter é que mais de metade da equipa angolana que vai para o “Afrobasket 2021”, escreve o site da FIBA, já jogou pelas selecções de formação. A título de exemplo estão Rosa Gala, Fineza Eusébio e Nadir Manuel.
É preciso referenciar que a longa estrada para o brilharete da selecção angolana de basquetebol foi marcada por bons e maus momentos com o alcance do terceiro lugar em 2007 e 2009.
Figura incontornável desde que se naturalizou angolana, Italee Lucas tem dominado e conduzido Angola, sendo actualmente uma das melhores bases armadoras do continente. Poderia ter feito a sua estreia no “Afrobasket” feminino em 2015, depois de semanas a treinar com as suas companheiras de selecção, no entanto uma decisão administrativa impediu-a de jogar em Yaoundé, onde as angolanas terminaram em quarto.
Outros nomes importantes incluem as únicas duas vezes africanas no seu plantel – Fineza Eusébio e Nadir Manuel -, mas também Clarisse Mpaka e Whitney Miguel, que ajudaram Angola a vencer a edição de 2013 do torneio em Maputo.
Ana Gonçalves é uma atiradora a ter em conta, tendo ficado de fora do “Afrobasket” 2019, em Dakar, Senegal.
Walter Costa é o homem que sucedeu a Apolinário Paquete no cargo de seleccionador nacional de basquetebol sénior feminino de Angola.
Costa é um ex-internacional de Angola, tendo representado o seu país nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004 e alinhou-se ao Mundial de Basquetebol de 2002, em Indianápolis.
Ex-base armador, Walter Costa foi um dos assistentes do “coach” de Will Voigt nas eliminatórias para o Mundial de basquetebol masculino de 2019 e também na fase final da prova, na China.
Costa foi, recentemente, campeão nacional de basquetebol sénior feminino com o D’Agosto, conjunto “militar” que se reforçou com as internacionais basquetebolistas moçambicanas Onélia Pérola Mutombene e Tamara Seda.
As angolanas contam, na sua estrutura, com sete atletas que evoluíram no “Afrobasket” 2019. Há a assinalar a ausência de Ngiendula Filipe e a estrela em ascensão Alexia.
ANGOLA CHEGOU PRIMEIRO AO PALCO DA PROVA
O adversário de Moçambique na segunda jornada do grupo “B” do “Afrobasket” 2021 desembarcou terça-feira, em Yaoundé, palco do “Afrobasket”.
As campeãs africanas de 2011 e 2013 realizaram, ainda esta quarta-feira, o treino de adaptação ao piso do Pavilhão dos Desportos de Yaoundé.
Nesta empreitada, Walter Costa, seleccionador nacional de basquetebol de Angola, contará com as atletas Italee Lucas, Fineza Eusébio, Rosemira Daniel, Rosa Gala, Ana Gonçalves, Clarice Mpaka, Whitney Miguel, Nadir Manuel, Angelina Golome, Cristina Matiquite, Avelina Peso e Denise Pascoal.
O ex-base armador deixou de fora as jogadoras Márcia de Carvalho, Edvânia Pascoal e Eduarda Gabriel.
As angolanas cumpriram um período de preparação de 45 dias, tendo realizado um total de nove jogos de controlo, sendo que, no último, derrotaram o conjunto de cadetes do 1º de Agosto, por 106-45. Walter Costa disse, em entrevista ao Jornal de Angola, que a preparação podia ter sido melhor.
Por sua vez, Jacqueline Francisco, seleccionadora nacional-adjunta de Angola e antiga internacional por este país reconheceu que o grupo é forte.
“Para sonharmos com um lugar no pódio, vamos ter de superar selecções como a Nigéria, Mali, Senegal e Moçambique, sem qualquer desrespeito para as outras equipas que têm estado a emergir nos últimos anos”, disse em entrevista ao Jornal de Angola. E acrescentou: “A Nigéria é uma selecção liderada pela base Ezinne Kalu, excelente nos lançamentos de curta e longa distância, muito forte num um contra um que se destaca também pelas assistências. Tem também Adaora Elonu que joga em Espanha e já representou o 1º de Agosto. Tem qualidade inquestionável. Portanto, vamos ter jogos difíceis na fase de grupos”.