A candidatura de Moçambique a membro não-permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSONU), para o período 2023-2024, é saudada por muitas sensibilidades. É o caso do Bispo Emérito Anglicano da Diocese dos Libombos, Dom Dinis Sengulane, que afirma que é uma candidatura oportuna, pois o país tem muito a partilhar em prol da paz e segurança no mundo.
Sengulane, um dos negociadores do Acordo de Paz de Roma, assinado em 1992, cita este entendimento que pôs fim a 16 anos de conflito armado no país, entre o Governo e a Renamo, como uma experiência a ser partilhada com o mundo, pois envolveu principalmente moçambicanos, sendo que outras nações participaram por questões logísticas.
“Para aquela guerra passar, é sinal de que Moçambique tem uma mensagem a dar ao mundo”, afirmou Sengulane.
O clérigo fez alusão também ao programa de transformação de armas em enxadas que se seguiu ao fim do conflito, em que as pessoas entregavam as suas armas e em troca recebiam enxadas e insumos agrícolas, sendo que as armas eram transformadas em obras de arte.
Lembrou que Moçambique recebeu grande apoio de países com quem nunca tivera grandes ligações do ponto de vista político, como Japão, Alemanha e países nórdicos, que ficaram muito entusiasmados com a ideia de transformação de armas em enxadas.
“É bom lembrar que Moçambique conseguiu colectar um milhão de armas no âmbito deste programa, que motivou aplausos de várias partes, e há outros países que tentaram seguir o exemplo, mas a iniciativa foi de Moçambique”.
Para Sengulane, a experiência de Moçambique não se resume somente nisso. Em áreas como Saúde, o país conseguiu influenciar a Organização Mundial da Saúde (OMS) a consagrar o 25 de Abril como o Dia Mundial da Luta contra a Malária.
“Moçambique fez entender que a malária não era somente problema de África. O dia 25 de Abril era considerado o Dia Africano de Luta contra a Malária, mas o nosso Ministério da Saúde conseguiu convencer a OMS a fazer do dia 25 de Abril o Dia Mundial de Luta contra a Malária”, disse Sengulane, vincando que estas questões de saúde, paz são básicas para qualquer sociedade, e Moçambique pode partilhar com o mundo através das Nações Unidas.
Refira-se que a votação para a escolha de membros não-permanentes do Conselho de Segurança da ONU para o biénio 2023-2024 terá lugar em Junho deste ano. Moçambique tem como tema da campanha e do mandato “Paz e Segurança Internacionais e Promoção do Desenvolvimento Sustentável”.
“O PAÍS É UM CANDIDATO VÁLIDO PARA O CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU” – DEFENDE RAUL DOMINGOS
O político moçambicano e membro do Conselho de Estado, Raul Domingos, atribui nota positiva ao recente esclarecimento do Presidente da República, Filipe Nyusi, em relação à posição de neutralidade assumida por Moçambique sobre a invasão russa à Ucrânia, num contexto em que o país procura apoios internacionais para a sua candidatura a membro não-permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
Filipe Nyusi esclareceu que o posicionamento de Moçambique não foi de admitir que houvesse violência, que houvesse guerra. Foi de dar espaço ao diálogo para que se ponha fim ao conflito. E sublinhou que o país vai continuar firme no seu posicionamento, para não permitir que haja guerra.
“O discurso do Presidente da República faz sentido. Pretendendo candidatar-se a uma mediação, é importante não tomar partido, porque uma das principais características da mediação é a imparcialidade”, examina Domingos, admitindo que Moçambique optou pela neutralidade para poder ajuizar e contribuir na mediação do conflito.
“Portanto, a partir do momento em que um mediador se posiciona favorável a um lado perde a qualidade de mediador. Tendo em conta esse aspecto, Moçambique continua a ser um candidato válido para o Conselho de Segurança das Nações Unidas”, disse Domingos.
A posição de Moçambique está em consonância com os princípios da política externa do país, nomeadamente primazia da solução negociada e pacífica dos conflitos; não-ingerência nos assuntos internos e reciprocidade de benefícios; prossecução de uma política de paz; respeito pelos direitos humanos e pelo primado da lei; desarmamento geral e universal de todos os Estados e estabelecimento de relações de amizade e cooperação com outros países na base de respeito mútuo pela soberania e integridade territorial, igualdade.