Outros países cobiçam
Nós subestimamos!
Uma oportunidade de ouro foi dada ao nosso país: a possibilidade de participar com quatro equipas na nova temporada futebolística africana, fruto do reconhecimento das prestações do Ferroviário da Beira, Songo e da própria Selecção nacional no Continente.
A Federação submeteu o assunto aos clubes, para “referendar” quem é que teria unhas – leia-se capacidades – para, em nome de todos nós, não deixar fugir uma oportunidade de ouro para a fuga às pré-eliminatórias, ascensão nos “rankings” e colocação das nossas estrelas em montras mediáticas. Apenas a UD do Songo se apresentou com musculatura financeira e desportiva para avançar. Outros, pescados ou repescados, vão-se ficando pelo “nim”.
Recuperar
De erros cometidos
Há riscos, e não são poucos. Enquanto que na Europa os departamentos dos grandes clubes sonham com a qualificação às competições continentais, que garantem à partida encaixes financeiros consideráveis para toda a época, entre nós, a margem de risco é bem grande pois torna-se imperioso investir e triunfar na primeira fase. Só a partir daí se pode pensar em mais-valias, que, diga-se, agora são “de encher o olho”.
É um facto que a derrapagem que o futebol moçambicano deu nas últimas décadas – basta ver as bancadas vazias mesmo nos jogos grandes – impõe um repensar e uma actuação profunda, devidamente enquadrada na realidade que o desporto-rei hoje vive no mundo.
No topo, está a falta de qualidade das nossas competições, com o Moçambola à cabeça. Seguem-se erros históricos que vão levar alguns anos a corrigir e que têm a ver com as integrações às correrias dos principais clubes em empresas e ainda o fecho de fronteiras que impediu a continuidade de vermos as nossas estrelas a brilharem no estrangeiro.
Os sinais que
Poderemos estar a dar
Precisamos de “acordar” do ritual a que nos habituamos – quebrado pelo Ferroviário da Beira e pela UD Songo – de entrarmos nas provas africanas, apenas para fazer número.
Os clubes, face à realidade que vivem, sozinhos não poderão avançar e disputar, com tostões, onde os outros se apresentam com milhões.
E se eles não avançarem, quem perde? O país! E estamos a falar de uma oportunidade que poderá não se repetir em breve.
Neste caso, a solução “mais à mão”, teria que vir do “Estado-papá”, para libertar novas verbas, depois das que foram disponibilizadas para levar o Moçambola até ao fim. Será a melhor ou a única saída, tendo em conta que existem muitos talentos mas o cenário de crise?
A questão central é, com realismo, avaliarmos o custo-benefício e… os riscos! Até porque é um assunto nacional que pode ditar o futuro. Temos ou não condições transformar o nosso futebol de desporto a indústria de massas?
O exemplo da Croácia no recém-terminado Campeonato do Mundo é ilustrativo. Ganham, o turismo; os atletas que passam a activos valiosos; a auto-estima e a produtividade dos cidadãos. As empresas terão retorno de prestígio ao publicitarem um produto nacional e em última instância a juventude que, com alegria e sem grande pressão, passará a beneficiar de mais saúde e menos vícios.
É preciso que fique claro que a possibilidade que a CAF nos oferece, é cobiçada e seria agarrada com as duas mãos por outros países, alguns até com menos expressão política, desportiva ou financeira no Continente.
Além do mais, em caso de recusa a este presente raro, estaríamos a dar a África e ao Mundo, um sinal de miserabolismo que nos poderá condenar a largos anos nas pré-eliminatórias!