Com Elvino sem dia, Venâncio Mondlane voltou a paralisar o país e sem comunicado oficial do governo. Moçambique e suas instituições não acordaram esta segunda-feira. Desta vez não foi necessária aquela nota habitual da mãe Talapa, o povo respeitou a si mesmo e preferiu fazer de noite o dia de segunda-feira e continuou nas mantas.
Ninguém foi visto nos mercados e nem sequer nas barracas, as principais avenidas do país andaram nuas em pleno dia habitual de agitação. Os bêbados trancaram a sete chaves a ressaca do fim-de-semana, as senhoras vendedeiras de sopa nas esquinas não mexeram nas panelas, as padarias drenaram o pão da segunda na noite de domingo.
Por horas, Moçambique foi paredes de Hollywood e deu lugar a cenas de cinema. A famosa Avenida Eduardo Mondlane, na Cidade de Maputo, andou abandonada pelos seus praticantes, a OMM foi palco escolhido para o início da encenação. Os bairros da Mafalala, Urbanização e Maxaquene não permitiram que o dia fosse chamado de pacífico, os moradores lideram os pequenos tumultos registrados pelo menos na capital do país.
Se em Nampula a polícia andou sem emprego, durante o dia de segunda-feira, em Maputo o cenário foi contrário. Os agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) voltaram a usar as máscaras e lançaram a tonelagem que conseguiram de gás lacrimogêneo. Por seu turno, e munidos de armas AK-47, a polícia de protecção preencheu o vazio deixado pela ausência de gente nas principais praças de Maputo. Xiquelene apareceu no Comando Geral da PRM, ao avaliar pela quantidade de homens fardados e encapuzados.
Tal como ninguém guardou dinheiro nos bancos, que permaneceram lacrados e bem guarnecidos, as escolas não produziram conhecimento no primeiro dia útil da semana. Não houve tanta necessidade de combustível para abastecer, carros não pisaram as estradas, aliás, dos poucos que ousaram circular, foi para transportar os funcionários de sectores imprescindíveis e poucos destes dormiram nos gabinetes.
Para além de Elvino Dias e Paulo Guambe, mortos que ainda dormem na morgue do Hospital Central de Maputo, alguns dos mortos acordaram para ver o país paralisado. Azagaia foi um deles, as suas músicas fizeram coro em algumas passeatas em algumas avenidas do país. O povo pediu poder em todo local que passou.
Com as urnas fervilhando, o calor dos votos que esperam validação por parte dos órgãos eleitorais, após o escrutínio de 9 de Outubro, o país respeitou a voz de um homem ainda sem credenciais para governar. Venâncio Mondlane foi ouvido por todos. Ninguém saiu à rua para contrariar a voz de comando saído da boca de um engenheiro.
O país parou para pedir emprestado o poder, o que há muito está nas mãos de um grupo que diz ter ainda vontade de governar.
Pelo o que ouvi por aí, segunda-feira foi o início de vários dias de paralisação que Moçambique ainda vai fotografar. Situação é preocupante, o mundo não tira olhos da terra de Mondlane e Samora, afinal de contas o que está por vir?