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MISAU abre portas do centro de isolamento para mostrar “rostos” da COVID-19

O relógio apontava para 10 horas desta terça-feira, quando jornalistas, acompanhados por uma equipa do Ministério da Saúde, tiveram acesso ao Centro de Isolamento e Tratamento da COVID-19 da Polana Caniço, em Maputo, para a imprensa ver que, efectivamente, há pacientes a lutarem pela vida por causa do novo Coronavírus.

É a primeira vez que órgãos de comunicação social visitam uma unidade onde estão internados doentes devido a este vírus, desde a sua eclosão no país, em Março passado.

Antes de aceder à sala dos internamentos, os jornalistas, um a um, foram disponibilizados equipamento de protecção em locais de alto risco de infecção. Não era para menos: eles estavam no centro com maior número de internados em todo o país. As máscaras que os profissionais de comunicação social traziam foram substituídos pelas N95 (consideradas seguras para o contexto de alto risco), usa togas na cabeça, as roupas coloridas que cada um trazia foram cobertos pelas hospitalares e nos pés plainitos. Observadas estas medidas, estavam reunidas condições para se aceder à sala de internados.

Em corredores meio que estreitos e seguindo as marcas pintadas de verde seguiam os técnicos de saúde que, posteriormente, explicaram os procedimentos de internamento até à alta hospitalar. O primeiro procedimento é a recepção de um paciente que, de amTrinta e cinco pacientes com COVID-19 estão internados no Centro de Isolamento e Tratamento da Polana Caniço, cidade de Maputo. Desde o início da pandemia, 56 óbitos, dos 118 registados em todo o país, foram registados naquela unidade Pacientes com COVID-19 internados na Polana Caniço respiram com suporte de máquinas de oxigenação bulância, é deixado logo à entrada, muitas vezes, recorrendo à cadeira de rodas por não conseguirem andar por si só.

A sala está equipada de camas para uma triagem inicial. “Quando o paciente chega é recebido pela equipa e reconduzido para a enfermaria e, de acordo com a idade, pode ir pediatria ou enfermaria de adultos. Tendo em conta, igualmente, o estado do paciente, ele é conduzido para sala de cuidados intensivos se for um doente grave ou crítico e temos a sala de moderados onde são conduzidos os que não requerem cuidados intensivos”, explicou Mariano Marengue, director do Hospital Geral da Polana Caniço. E na sala de cuidados intensivos, a imagem é chocante. Há homens e mulheres deitados no leito do hospital procurando, desesperadamente, por oxigénio, elemento importante para vencer a batalha contra a COVID-19.

A falta de ar faz com que alguns tenham convulsões e são as máquinas que ajudam aqueles pacientes a respirar. “De uma forma geral, todo o paciente que está na sala de cuidados intensivos tem a necessidade de oxigenação seja oxigénio de baixo fluxo, pequenos volumes, grandes ou apoio ventilatório” apontou Manuela Soares, médica internista do Hospital Geral da Polana Caniço, acrescentando que dependendo das patologias crónicas associadas, estas também, recebem o devido acompanhamento “se for diabético, temos que controlar, hipertenso, controlamos a hipertensão arterial e o mesmo acontece se for um paciente com doenças pulmonares crónicas”.

Sem cura, nem vacina para a COVID-19 que colocou essas pessoas no leito do hospital, recorre-se a outros medicamentos como é o caso de antibióticos e anti-inflamatórios para evitar que o pior aconteça. Até aqui, não houve necessidade de fazer tubagem. “O que temos é paciente a receber oxigénio de alto fluxo que é um tipo de tratamento que, se ele continuar a progredir com a sua doença pode ser que necessite de entubação, mas até aqui, não há doente entubado”, assegurou Manuela Soares. Também não existem, neste momento, pacientes que precisem de usar qualquer tipo de ventiladores. Mas caso seja necessário, o Centro de Isolamento da Polana Caniço diz ter os aparelhos e medicamentos disponíveis.

“Nós temos ventiladores mecânicos invasivos e não invasivos que podemos usar para os pacientes. Até aqui, só usamos ventiladores não invasivos e ainda não tivemos a necessidade de usar os não invasivos”, avançou o director do Hospital Geral da Polana Caniço. Para o tratamento da COVID-19, o director daquela unidade sanitária garante ter todos os medicamentos necessários “nunca sentimos falta dos medicamentos. Conseguimos mobilizar todos os fármacos para o tratar esta doença”. E quando o tratamento começa a surtir efeito, os pacientes são transferidos para uma sala (onde vão os pacientes moderados), onde permanecem, no mínimo, três e caso não manifestem nenhum sintoma têm alta hospitalar, mas continuam no isolamento domiciliar.

“Nós temos que ir vigiando o paciente. Ele não deve apresentar sintomas durante três dias sequenciados. O doente não pode ter febre, dificuldade respiratória, baixa capacidade de saturação”, esclareceu a médica internista do Hospital Geral da Polana Caniço, sublinhando que depois de passar esta fase, a pessoa tem alta clínica, ou seja, “já não precisa de suporte de medicação, oxigenação e vai para casa, mas estando na sua residência, continua em isolamento domiciliar até completar os dias que ele vai fazer o teste e dar negativo”.

Para equipar e transformar o Hospital Geral da Polana Caniço em Centro de Isolamento e Tratamento do novo Coronavírus, foram investidos cerca de 100 milhões de meticais. “O investimento foi em termos de infra-estruturas, equipamento necessário para tratar pacientes com COVID-19, segundo o protocolo da Organização Mundial da Saúde, fizemos investimento em oxigénio porque os pacientes precisam disso que é um tratamento vital para salvar a vida dos doentes”, enumerou Ussene Isse, director nacional da Assistência Médica.

Quanto ao oxigénio, Ussene Isse sublinhou que é canalizado e permanece 24 horas sem interrupção e mais: “colocámos concentradores de oxigénio que são pequenas maquinetas que induzem o ar ambiente para transformar em oxigénio que serve como uma defesa e salvaguarda caso o sistema possa falhar”. Outro investimento feito no Centro é ligado à alimentação, reforço de recursos humanos e material de protecção para os técnicos de saúde. E porque os números da COVID-19 tendem a subir, os técnicos de Saúde alertam para a necessidade de as pessoas levarem a serio a doença e cumprirem com todas as medidas de prevenção para não sobrecarregarem o Sistema Nacional de Saúde. Desde a abertura, já passaram pelo Centro de Isolamento da Polana Caniço 279 pacientes com COVID-19, dos quais 190 tiveram alta. A média de internados é, agora, de cinco pessoas por dia.

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