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MINEDH esclarece que não vai banir conteúdos sobre sexualidade no Ensino Primário

Foto: O País

Segundo o director-geral do Instituto Nacional do Desenvolvimento da Educação (INDE), os conteúdos sobre a sexualidade continuarão a ser ensinados no Ensino Primário. Ismael Nheze reconhece ter havido exageros na abordagem da matéria no manual da 7ª classe e, por isso, garante reformulação na sua abordagem.

Depois da pressão que se fez sentir nos últimos dias, principalmente nas redes sociais, o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH) veio a público para anunciar o banimento do conteúdo sobre sexualidade no Ensino Primário e a retirada do respectivo manual das Ciências Naturais da 7ª classe das prateleiras em 2023.

“Analisamos e vimos que uma parte da sociedade concorda com os conteúdos e outra parte não, e, como nós gostamos de trabalhar com o consenso, retiramos este tema e este livro não estará cá no próximo ano, porque nós vamos introduzir a nova 7ª classe e teremos um novo livro. Mas, para o presente ano lectivo, recomendamos as escolas para não abordarem aquele tema e já trabalhamos com a editora para a retirada daquela página”, disse o director-geral do INDE, Ismael Nheze, a 11 de Fevereiro corrente.

No entanto, falando já no programa Noite Informativa da ST V Notícias, o director-geral do INDE esclareceu que o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH) não vai banir por completo o conteúdo por ser importante no conhecimento do corpo humano.

“Nós não retiramos o tema [sobre a sexualidade], mas sim a página que contém aquele texto controverso [que fala sobre a masturbação e orientação sexual] ”, disse Ismael Nheze, tendo avançado que os mesmos conteúdos estão até contemplados no novo currículo e novo manual da 6ª classe, que passa a ser última do Ensino Primário.

“Os mesmos conteúdos já estão inclusos no novo livro da 6ª classe que será distribuído a partir de finais de Fevereiro e início de Março. Assim, os alunos vão encontrar na 6ª classe, que é a classe terminal, os mesmos conteúdos, só que a abordagem é totalmente diferente”.

E falando sobre a abordagem, o director-geral do INDE reconheceu ter havido exageros na linguagem e na forma como o conteúdo foi abordado no polémico manual da 7ª classe.

“O problema foi a comunicação e não o conteúdo. Toda a gente tem que saber que existe masturbação, mas o texto não foi escrito de forma adequada, os autores eram apaixonados”, justificou Nheze, cuja ideia foi também partilhada pela investigadora da área da sexualidade, que também falava no Noite Informativa.

“Na parte que vem sobre o homossexualismo, que diz que seria mais cómodo pessoas do mesmo sexo manterem relações sexuais, penso que escandaliza”, concordou Alice Macarringue, activista do Horizonte Azul.

Os dois painelistas concordam ter havido falhas na comunicação, mas também os tabus que persistem na sociedade moçambicana sobre a sexualidade contribuíram para a reprovação do manual da 7ª classe, segundo a activista.

“Não estamos preparados, nem socializados, porque, desde lá, fomos ensinados que este assunto é para adultos”, nota Alice Macarringue.

Aliás, segundo a investigadora, os tabus constituem o grande desafio para a abordagem da sexualidade nas escolas. Por isso, a especialista apela aos encarregados de educação para falarem abertamente sobre a sexualidade com as crianças.

Deixando de lado os tabus, há que pensar na forma como este conteúdo será abordado, já que continuará a ser leccionado, evitar polémica por parte dos encarregados de educação, e construir-se a competência que se pretende, que é o auto-descobrimento do corpo. Para tal, o INDE avança que serão reformuladas as estratégias didácticas para a abordagem do conteúdo sobre a sexualidade nas escolas, e que os professores serão preparados sobre a matéria.

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