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“Meu sonho é ver Moçambique em paz e com esperança num futuro melhor”

Há quatro anos das próximas eleições gerais, Henriques Dhlakama, um dos filhos do antigo líder da Renamo, Afonso Dhlakama anunciou a sua candidatura para a Ponta Vermelha. Em entrevista por email ao O País, o “candidato” fala das motivações, as convicções e visões que o levam a avançar para o cargo que o seu progenitor falhou por cinco vezes

 

Quem é Henriques Dhlakama?

Sou um simples cidadão moçambicano, igual a tantos outros. Nasci na mesma localidade do meu pai, em Magunde, no ano de 1987, um dos períodos mais acesos do conflito. Em determinada altura o meu pai enviou-me para Portugal, onde estudei e frequentei a universidade na área de Contabilidade e Gestão. Acabei por regressara Moçambique, para residir em definitivo em Maputo, onde me tenho dedicado a uma vida privada simples, activo nas áreas de Trading e Investimentos Internacionais. Gosto muito de ler e escrever e cometo, pontualmente, a ousadia de ver um jogo de futebol (risos). Fora isso, tenho mais alguns gostos pessoais, como o todo-o-terreno, que pratiquei. Sou uma pessoa calma e reservada, aprecio privacidade e a solidão, que me deixa refletir.

 

O que o leva (ou) a entrar na política e quais são as suas influências?

Nunca me vi com um futuro político…e admirei sempre muito o meu pai, porque a política, como a vejo, é para quem verdadeiramente crê poder ajudar os outros ou, então, não passa de um aproveitamento de cargos para benefício próprio. Numa linguagem muito simples, creio nos direitos e liberdades, como consagrados na Constituição da República, na livre circulação de capitais e no direito à propriedade privada. Posso dizer que a ideia de entrar na política era algo a que eu fugiria, não fosse ver aproximar-se um precipício. Não é uma calamidade para quem vive muito bem, pois quem está bem, arranjará forma de sobreviver. É algo que irá ter um impacto profundo nas vidas dos moçambicanos. Assim, oque me levou a entrar na política é o acompanhar desde sempre, com muita atenção, a realidade política, económica e social moçambicana, e internacional, e verificar que chegámos agora ao limite da estrada e temos um precipício à frente.

 

Anuncia a sua pretensão de se candidatar à Presidência da República em 2024. Porquê?

O que o move a seguir este passo?

Em 2024, os moçambicanos vão ter uma oportunidade de decidir qual o rumo a dar ao seu país. Vão ter uma oportunidade de escolher se, face ao precipício, para avançar ou atam uma pedra à perna ou saltam de paraquedas. Espero poder vir a ser um paraquedas. Nesse sentido, desde há umas semanas comecei a organizar várias equipas de peritos, de forma a estudar a fundo e detalhadamente a situação moçambicana e elaborar possíveis cenários futuros e soluções. Somos já o que se considera um “Estado frágil”, a deteriorar-se há vários anos. Em 2030,no melhor cenário, estaremos pior do que agora. No pior dos cenários, poderá se ruma catástrofe. Será ver em Moçambique um Estado falhado.

 

Qual é a sua visão política?

Tenho a perfeita noção do que aí vem e do que representa para Moçambique e os moçambicanos. Moçambique precisa de uma terapia de choque. Precisa de alguém que em poucos meses, com acesso, tenha o levantamento de todos os problemas no terreno. Após assumir a Presidência, será necessário criar um orçamento que capacite a população. Ou seja, canalizar verbas do Estado para onde é urgentemente necessário e garantir o alívio imediato da população.

 

Quais é que são, neste momento, as suas bases de apoio?

Tenho a minha estratégia política bem montada. O planeamento com antecedência é tudo, e o mal de Moçambique é que “empurra com a barriga”. Chegam-me diariamente gritos de desespero e pedidos de ajuda. Assim, tirando as bases de apoio estratégicas ao nível nacional e internacional, considero a minha maior base de apoio os moçambicanos. É o maior desafio da minha vida e a maior honra que me podiam dar.

 

Qual é a sua relação com a Renamo e a sua actual liderança?

É uma relação cordial, pois a atual liderança tem os seus compromissos e não nos cruzamos, como não me cruzo com milhares de outras pessoas. Mas, se nos cruzarmos, falamos. Respeito todos.

 

O seu apelido é grandemente associado à Renamo. Qual é a posição da família perante esta sua decisão?

Somos uma família unida. Respeitamos o espaço de cada ume as decisões são individuais. Claro que, por respeito, falei com alguns membros da família mais próximos, e eles entendem que, sendo uma decisão minha, estou igualmente a defender o legado de Afonso Dhlakama mas acima de tudo, a servir uma causa maior: Moçambique e os moçambicanos.

 

E se Afonso Dhlakama estivesse vivo, avançaria na mesma com esta decisão?

Se o meu pai fosse vivo, poderia ou não tomar a decisão. Iria consultá-lo e pedir-lhe conselhos, pelo enorme respeito e admiração que lhe tinha. Ele tinha as suas convicções próprias, mas havia espaço de diálogo.

 

Acha que ele o apoiaria nesta candidatura?

Como disse, não consigo imaginar se sim ou não. Era uma pessoa com ideias muito pessoais e bastante reservado, como eu sou. Não sei mesmo responder. Sei que não haveria discórdia.

 

Essa candidatura que lança, pressupõe que vai fundar um partido, vai avançar como independente ou vai buscar suporte nalgum partido já existente?

Sou candidato às eleições para Presidente da República em 2024. Sou um candidato independente e de braços abertos a todos os moçambicanos. A minha mensagem é de Paz e União. Não vou fundar qualquer partido. Não estou interessado em ser Presidente de qualquer partido. Em 2024, gostaria de ser eleito e representar todos os moçambicanos.

 

Que prioridades imediatas é que definirá para o país, tendo como ponto de partida, o actual estágio económico e social?

A prioridade e urgência será dada a todas as medidas que de imediato aliviem a população. As primeiras medidas vão exigir tudo da máquina do Estado e um planeamento rigoroso, com objetivos e datas concretas e de curtíssimo prazo. Deitaremos mãos a todas as ferramentas e são muitas as disponíveis. A prioridade são as necessidades urgentes da população, a todos os níveis.

Como é que olha para a situação que se vive na província de Cabo Delgado, na perspectiva de causa e soluções que iria adoptar para resolver?

Infelizmente, Cabo Delgado não será facilmente resolvido enquanto não houver condições para resolver. Tem solução, mas dificilmente com a atual conjuntura. Daí o meu apelo aos moçambicanos para em 2024 irem votar e que votem bem. Que comecem já a pensar na maior decisão das suas vidas, que terá de ser tomada em 2024.

 

E a situação gerada pela Junta Militar da Renamo no Centro do país?

Como sabem, estou ideologicamente alinhado com a RENAMO. E a RENAMO é, infelizmente, uma sombra do que já foi. Falta de ligação às bases, aos militantes e aos simpatizantes e dirigentes locais. Tenho esse feedback diário, com milhares de mensagens. Poderíamos voltar a ter um enorme  partidos e conseguíssemos uma efetiva pacificação, diálogo e união. Numa democracia é necessária uma oposição forte e responsável, com alternativas e soluções exequíveis.

Que visão é que tem para o país?

Tenho um sonho que já me disseram ser impossível, mas eu insisto (risos). É ver Moçambique em paz e com esperança num futuro melhor. O meu pai ensinou-me a nunca desistir…

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