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Médicos dizem que vão continuar a exercer o direito à greve

Os médicos em greve dizem que não se vão deixar vergar pelas ameaças do Governo, de expulsão do aparelho de Estado. Hoje, cerca de 200 médicos marcharam na Cidade de Maputo, exigindo respeito pela classe e melhoria de condições de trabalho.

Jovens, alegres e trajados de branco, mas ostentando cartazes com mensagens carregadas de tristeza…

Podia-se ler nos cartazes mensagens como “cuidar de quem cuida é uma obrigação, não um favor, valorizem”, “não confiamos no ministro da Saúde”, “nós também somos pessoas”, “ontem heróis da COVID-19, hoje de 4%”, e tantos outros escritos, em meio a cânticos.

São mais de 200 médicos que marcharam, este sábado, na Cidade de Maputo, para exigir do Governo respeito pela classe médica.

Marchando consciente da missão que tem, Armando Mahumane disse que “não podemos continuar a assistir ao desrespeito e desvalorização que o Governo tem demonstrado à classe médica. É tempo para o Governo colocar a mão à consciência e garantir que os médicos tenham mínimas condições de trabalho, para que possam realizar o seu trabalho com respeito, qualidade e dignidade”.

Dignidade, respeito e qualidade estão a ser violados com a revisão do estatuto do médico, dizem os manifestantes, em uníssono, que “estatuto é lei, não é nenhum favor”.

Por isso, dizem que não vão parar até que haja melhoria nas condições de trabalho.

“O povo é que sofre. E é pelo mesmo povo que estamos aqui, porque nós precisamos de melhorar as condições de trabalho e para o povo poder ter um melhor atendimento”, disse Iyanira Baduro.

O porta-voz da Associação Médica de Moçambique diz que não se vão deixar intimidar pelo ultimato do Governo. Garante que os médicos têm capacidade para trabalhar no privado, mas, pelo dever de prestar serviços ao povo, vão insistir na provisão de serviços de qualidade.

“Estamos numa situação em que o Governo não tem capacidade para o diálogo, não se abre ao diálogo. Acha simplesmente que mandando recados através da imprensa, em forma de ameaças, é capaz de resolver a situação. Mas esta moldura humana que vimos é apenas um extrato daquilo que a classe médica está a dar como resposta a nível nacional”, disse Napoleão Viola.

A marcha começou na avenida Eduardo Mondlane, em frente às instalações da Associação Médica de Moçambique e terminou na Praça da Independência, onde foi observado um minuto de silêncio em homenagem aos médicos que morreram vítimas da COVID-19.

“Não vamos aceitar que a classe médica seja deitada ao chão. Não vamos aceitar que nos tirem a dignidade. Não vamos aceitar que revoguem o nosso estatuto. Acima de tudo, nós queremos melhores condições para as pessoas.”

E dizem basta ao que chamaram de insensibilidade do Governo. Mas garantem que não vão abandonar a função pública.

“Lamentamos ter de ouvir este tipo de ameaças num Estado de Direito Democrático. Estamos a exercer um direito, a greve, prevista na Constituição da República, e lamentamos que o Governo opte por ameaças, em vez de resolver os problemas que nós apontamos. Nós vamos continuar a exercer o nosso direito, que é a greve”.

Sobre a contratação de 60 médicos proposta pelo Governo, Milton Tatia diz que é bem-vinda, porém lamenta o desemprego de 340 formados.

Este sábado, cerca de dois mil médicos cumprem o 27º dia de greve nacional, sem interrupção.

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