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Manifestações pós-eleitorais preocupam Governo e sector privado

O Governo entende que a continuidade das manifestações pode levar o país a um declínio e pede ao sector privado que mantenha as actividades comerciais em funcionamento. Não obstante, o Executivo garante disponibilidade de combustíveis e produtos de primeira necessidade.

O Governo e o sector privado sentaram-se à mesma mesa, esta quarta-feira, para encontrar soluções para mitigar o impacto económico e social das manifestações que têm sido desencadeadas em contestação dos resultados eleitorais. O objectivo passa por garantir o funcionamento pleno das instituições e empresas privadas que, desde a semana de 21 de Outubro, caminham a meio gás.

O ministro da Indústria e Comércio, Silvino Moreno, que dirigiu o encontro entre a CTA e o Governo, lembrou que o país é pobre e que a vandalização de bens públicos e privados pode agravar a situação de precariedade.

O país parou ou funcionou a meio gás e, nos passados dia 24 e 25, foi quase uma paralisação total, com poucas empresas a funcionarem. Este é um cenário que o Governo não quer que se repita, sobretudo porque nós somos um país pobre, que precisa trabalhar, um país que já teve experiência amarga da guerra dos 16 anos, para não citar a dos 10 anos, e agora a instabilidade no Norte de Cabo Delgado”, disse Silvino Moreno.

O governante não tem dúvidas de que os impactos da paralisação poderão afectar, não só a parte económica, mas também a social. “Nós tivemos inúmeras escolas que não leccionaram nos três dias. Outras leccionaram a meio gás, e isto vai ter um impacto no programa de formação dos nossos estudantes e teremos, efectivamente, no final do dia, estudantes mal formados ou com matérias não abordadas, porque aqueles três dias foram fechados. O impacto não é apenas do ponto de vista da receita, é também do ponto de vista das oportunidades que o país perde num dia fechado, num dia sem comunicação ou num dia em que os sectores não funcionam”, lamenta a fonte.

A situação deve ser controlada, adverte Moreno, sob risco de inundar o contexto económico do país, num momento em que começa a haver dificuldades para o acesso de produtos e especulação de preços no mercado nacional.  Para o governante, “as manifestações não têm sido pacíficas. Infelizmente, a experiência que temos dos três dias da semana passada, houve arrombamento de estabelecimentos comerciais, destruição de infra-estruturas públicas e houve, também, mortes e acções que atentam à segurança de pessoas e bens”.

Ficam para trás três dias de paralisação, e o Estado diz não ter, para já, a contabilização dos prejuízos, e o país pode voltar a parar de funcionar durante sete dias. Para evitar o pior cenário, o Governo garante que  vai criar condições de segurança  para que a circulação de pessoas e bens não seja condicionada.

“Nós pretendemos que o país continue em paz, que as manifestações não sejam para a destruição da economia, que o movimento não seja para a destruição das infra-estruturas, muito menos para impedir as pessoas de ir trabalhar, porque essa é, de facto, a principal forma de termos a economia a funcionar. O nosso apelo é que as empresas se mantenham abertas e que os funcionários se dirijam aos locais de trabalho. O Governo vai fazer o seu melhor para garantir a segurança. Queremos que o país não tenha paragem, porque isso vai ter grandes efeitos na economia do país”, entende o ministro da Economia e Finanças. 

Manifestações provocaram perda de 1200 postos de empregos

A paralisação de actividades em diversos sectores gera, em média, perdas económicas estimadas em mais de 1,4 mil milhões Meticais por dia, um cenário que assusta o Governo. Entretanto, nas suas contas, o sector privado afirma ter perdido mais de três mil milhões de Meticais durante a paralisação e, por isso alerta que o sector pode declinar nos próximos dias.

Dados apresentados pelo presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique, CTA, apontam que a vandalização de bens gerou perdas em cerca de 33 estabelecimentos comerciais em todo o país,  o que significa mais de três mil milhões de Meticais perdidos.

“Tivemos sabotagens, vandalização, arrombamentos de estabelecimentos privados e comerciais em número de 33, onde se pode estimar uma perda de mais de três mil milhões de dólares. E houve ainda 1200 postos de emprego prejudicados”, informou Vuma.

Vuma afirma que “a paralisação da actividade resultou na redução das transacções do mercado cambial, que reduziram 75,3%, onde da média de cerca de 60 milhões de dólares caiu para cerca de 14 milhões nos dias 24 e 25 de Outubro passado. Portanto, as empresas estão a implementar planos de crise, visando minimizar as perdas que estamos a conhecer”. 

A entrada e saída de mercadoria vindo do exterior também foi um exercício condicionado durante as manifestações e que poderá ser mais grave caso a paralisação por uma semana se efective. A CTA lamenta o facto, que não só foi registado na capital do país.

“Tivemos interrupção de tráfego no corredor de Maputo. (…) Em alguns poucos troços, inclusive na fronteira, acabou havendo tanta obrigação de encerrar, o que afectou a entrada de cerca de 1200 a 1300 camiões, dos quais 90% de logística tinham como destino o Porto de Maputo.

Ademais, a CTA alerta que, caso Moçambique decida fechar-se ao mundo, poderá sofrer uma pressão económica no tocante à procura de bens e serviços. Segundo Vuma, “este impacto mostra que também estamos a impedir a entrada de produtos de primeira necessidade para a nossa economia. Queremos, com isto, apelar aos nossos colegas do sector privado, do comércio, para se absterem dessas práticas especulativas”.

 

Que o Governo encontre a melhor forma de resolver a situação das manifestações

A CTA exorta o Governo e o PODEMOS, reconhecido como o promotor das manifestações, a encontrarem a melhor solução face ao que o país se transformou, entretanto sem o comprometimento dos objectivos traçados para o presente ano.

“Para além de pedir ao Governo para que seja um interlocutor do povo, com o objectivo de pôr fim a esta situação, apelamos para que, havendo esta manifestação, seja muito disciplinada e melhor do que o que nós vimos nos últimos dias. Nós, como sector privado, também testemunhamos uma mensagem que dá a entender que fechámos as nossas unidades. Estaremos abertos a partir desta quinta-feira”, assegurou.

O grupo, que diz ter, neste momento, um grande desafio de divisas no país, promete que vai continuar a fazer tudo para manter o bom ambiente de negócios em Moçambique. “A nossa preocupação como sector privado… estamos a trabalhar, isto nos encontra a trabalharmos com muita promessa de resultados positivos com o Banco de Moçambique, na perspectiva de aumentar a disponibilidade de divisas para fazermos frente às importações que vão tentar alimentar o nosso país na próxima quadra festiva.”

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