Mais de 70 raparigas, dos 15 aos 24 anos de idade, são infectadas pelo HIV, por dia, no país. Para reforçar as acções de prevenção e combate, o Ministério da Saúde introduziu o auto-teste nas comunidades mais vulneráveis.
O país registou, no ano passado, cerca de 94 mil novas infecções pelo HIV. Trinta por cento deste número corresponde a raparigas dos 15 aos 24 anos de idade, segundo o ministro da Saúde, Armindo Tiago.
“O número das novas infecções continua elevado. Cerca de 76 raparigas adolescentes e mulheres jovens, dos 15 aos 24 anos, continuam a ser infectadas diariamente. Por outro lado, cerca de 12 crianças para cada 100 mulheres seropositivas que dão parto, ainda nascem com HIV”, disse Tiago.
Falando à margem da abertura do quarto Conselho Consultivo do Conselho Nacional do Combate ao SIDA, Armindo Tiago disse que as trabalhadoras de sexo lideram o grupo, com uma taxa de 47%, na Cidade de Maputo, e 37% na província de Tete.
Nas pessoas que injectam drogas, o nível de prevalência foi estimado em 50% na Cidade de Maputo e em 20% na cidade de Nampula, em 2014.
“O HIV não afecta todos da mesma forma. Existem pessoas com maior risco de se infectarem, que continuam a enfrentar o estigma e a discriminação e que não tem acesso aos métodos de prevenção ou cuidados de que precisam”, referiu o ministro da Saúde.
Para reverter o cenário, a estratégia do Ministério da Saúde (MISAU) é a expansão do auto-teste.
“Há pessoas que não querem fazer teste, porque temem encontrar conhecidos no local. Mas o mais importante para cumprir o primeiro dos indicadores é que o indivíduo com HIV conheça o seu estado”, disse Tiago, acrescentando que a introdução e aceleração de métodos de diagnóstico e prevenção visam garantir o acesso precoce ao tratamento mais eficaz.
Segundo o dirigente, o auto-teste já está a ser implementado nalguns pontos do país e visa, por outro lado, abranger a pessoas não alcançadas pelo aconselhamento e testagem convencional.
“O auto-teste é um exame feito através da saliva e, depois de alguns minutos, pode-se ter o resultado positivo ou negativo. Sendo positivo, o indivíduo pode escolher a melhor ocasião para se deslocar a uma unidade sanitária e confirmar o resultado através dos métodos convencionais”, explicou Tiago.
A introdução do auto-teste ocorreu no mês de Março último e, numa primeira fase, os exames foram distribuídos nas províncias de Tete e Maputo, segundo revelou Aleny Couto, chefe do Departamento do Controlo de ITS e HIV/SIDA.
“Não está preconizado que o auto-teste seja distribuído na unidade sanitária. A expansão do auto-teste tem que ser feita a nível das comunidades, porque permite alcançar populações que são de difícil acesso à testagem. A partir da testagem que temos feito, é possível identificar quem são as pessoas que ainda não estamos a conseguir testar como deve ser”, disse a chefe do Departamento, que apontou que, no grupo, se destacam os adolescentes, os homens, as trabalhadoras de sexo, reclusos e homossexuais.
Moçambique tem a meta de atingir a cobertura de 95% e de menos de 50 mil novas infecções até 2025. Para tal, o Ministério da Saúde tem desencadeado acções nacionais de redução de risco.
Entre as medidas, Armindo Tiago destacou que a educação é uma das melhores ferramentas de prevenção, através da manutenção da rapariga na escola secundária, que, segundo o ministro, “vai ajudar a reduzir o risco de infecção em pelo menos 50%, assim como as uniões prematuras e gravidez na adolescência”.
Por outro lado, a aposta está na expansão de métodos como a profilaxia pré-exposição, que previne a infecção e evolução da doença antes do contacto com o vírus.
“A proporção de moçambicanos em tratamento em regime de tratamento com este antirretroviral, que é eficaz e fácil de tomar, ultrapassa 80%”, referiu o ministro da Saúde.
Dos 2,1 milhões dos cidadãos que vivem com HIV/SIDA, em Moçambique, cerca de 1,8 estão em tratamento.
ESTIGMA E DISCRIMINAÇÃO COMPROMETEM TRATAMENTO DO HIV/SIDA
O HIV/SIDA continua a ser a doença que mais mata em Moçambique. Dados do Ministério da Saúde apontam que cerca de 35 mil mortos que ocorreram por ano no país, desde 2019, estão relacionadas à síndrome, contra 56 mil registadas em 2018.
Apesar da redução do número de mortes, o Conselho Nacional de Combate ao SIDA (CNCS) apontou que o estigma e a discriminação ainda constituem barreiras que comprometem a adesão de pessoas à testagem e ao tratamento.
“Não há razões para que as pessoas continuem a morrer devido ao HIV, então temos que continuar com os esforços, porque o tratamento está disponível e é fácil de tomar, com poucos efeitos colaterais e que produz efeitos sob ponto de vista da carga viral”, afirmou Francisco Mbofana, secretário-executivo do CNCS.
Actualmente, 88%, dos 2,1 milhões de moçambicanos que vivem com o HIV conhecem o seu estado e 1,8 milhões de pessoas estão em tratamento em mais de 1 700 unidades sanitárias. E com o desenvolvimento de mais acções de sensibilização, o CNCS pretende alargar o raio de abrangência.
“Cada moçambicano vivendo com a doença deve conhecer o seu estado e começar o tratamento para sempre, até que um dia se encontre a cura. É necessário eliminar as desigualdades para assegurar que todos tenham acesso aos serviços. A nossa resposta deve estar voltada aos direitos humanos para que tenhamos ganhos”, repisou Mbofana.
Por outro lado, Mbofana alerta todas as forças vivas da sociedade para que dêem o seu contributo, no controlo da epidemia.
“A redução de novas infecções que registamos não é suficiente. Daí que todos devem comparticipar nos esforços do país para rapidamente acelerar o processo. Para chegarmos à meta de 50 mil até 2025, precisaremos de dez anos. Com isso, é necessário que tenhamos redução de oito a dez mil por ano”, concluiu Francisco Mbofana, secretário-executivo do Conselho Nacional do Combate ao SIDA.
Até 2021, Moçambique encontrava-se em quarto lugar, na lista dos países mais afectados pelo HIV no mundo, seguido da República da África do Sul, da Nigéria e da Rússia.
Segundo informações do ministro da Saúde, Armindo Tiago, o sector prevê aprovar o Roteiro Nacional de Prevenção 2022-2025, com o lema “Responsabilização Mútua para Acabar com as Novas Infecções”, como forma de operacionalização da componente de prevenção do HIV.
Com vista a buscar estratégias para o fortalecimento da prevenção e respostas ao HIV/SIDA em Moçambique, o Conselho Nacional de Combate ao SIDA procedeu, esta segunda-feira, à abertura da quarta reunião do Conselho Consultivo, que contou com a participação de secretários-executivos e gestores de Programas dos Conselhos Provinciais de Combate ao SIDA, dos coordenadores e técnicos afectos a diversas unidades orgânicas do CNCS e de parceiros de cooperação e da resposta ao HIV/SIDA.
Com duração de dois dias, o evento decorre sob o lema “Acabar com as desigualdades que impulsionam a epidemia do HIV e priorizar a prevenção”.