José Domingo, actual secretário geral do partido, agiu como agiria qualquer político numa democracia madura: apresentou o relatório do secretariado do partido que viria a ser chumbado. Sem a base das “bases”, subiu ao pódio, anunciou a retirada da sua candidatura à presidência do partido e abandonou a tenda do congresso juntamente com os seus apoiantes, mesmo antes de iniciar a votação, alegando que o protocolo do congresso estava a favorecer um dos candidatos.
O “galo”, que quase ficava “depenado”, acordou este domingo com um “cacarejar” que não saiu do “poleiro dos Simangos”. Lutero, o irmão mais velho do falecido presidente do partido, Daviz, assume a liderança da terceira força política do país, depois de uma eleição antecedida de episódios de desconfiança, confrontação verbal e física, e retirada precoce do terceiro candidato.
Vale lembrar que havia motivos para a desconfiança. Depois do alerta que surgiu no primeiro dia, sexta-feira, a manhã e primeiras horas do segundo dia do III congresso do MDM foram dedicados à triagem dos 600 congressistas e desse processo foram encontrados membros que não constavam das listas previamente enviadas ao conselho nacional, mas ninguém quis nos revelar o número exacto.
Com apenas dois candidatos a disputarem a eleição, Lutero Simango obteve 452 votos, correspondentes a 88%, contra 51 votos de Silvério Ronguane, que perfazem 10%. Houve 9 votos nulos e 2 em branco.
“Quero, mais uma vez, agradecer a confiança depositada. Este momento não é de discursos, mas simplesmente, celebrar a nossa democracia interna. E na hora do encerramento do nosso III congresso farei uma comunicação pública e nacional”, disse Simango, no calor da vitória.
Silvério Ronguane agradeceu os 10% que para si são motivo de alegria e prometeu liderar a oposição dentro do partido. “O meu sentimento é de alegria porque saio daqui com 10%, porquanto, 10% para nós é o resultado maravilhoso. Quero agradecer, desde já, a todos aqueles que acreditam nesta causa, nos apoiaram e estou agora disponível para liderar a oposição dentro do partido”.
“O importante é que temos um líder e com o mesmo começarmos a pensar qual é a estratégia para podermos assaltar o poder porque o fim único do MDM é governar este país”, disse Albano Carige, actual presidente do Município da Beira.
Lutero Simango vai liderar o MDM no pior momento da sua popularidade. Os resultados das eleições gerais e legislativas de 2019 ajudam-nos a perceber que posição aquele partido ocupa nas preferências do eleitorado. Daviz Simango carimbou a pior derrota da sua vida política, na candidatura à presidência da República, ao conseguir apenas 4.5% dos votos, tendo ficado em terceiro lugar. No parlamento, também teve o pior resultado, ao ter apenas 4.7% dos votos.
Se antes, o MDM rigozijava-se por dirigir a segunda maior cidade do país (Beira) e a terceira, (Nampula), hoje, tal facto não passava de um arquivo histórico, pois, Nampula ficou com a Renamo e a manutenção do poder na Beira dependerá muito da forma como Lutero vai articular com Carige a direcção daquela cidade dentro dos próximos dois anos e meio.